É peculiar que um representante democraticamente eleito pelo povo supostamente com base em uma liberdade de expressão sem limite peça publicamente pelo banimento de um livro. Mais peculiar ainda é uma instituição de ensino superior, que supostamente devia ser a casa da inclusão e pluralidade de ideias, acatar esse tipo de sugestão.
Faz você imaginar o que quem dissemina e apoia este tipo de coisa acharia de outros grandes livros da literatura brasileira, como Lavoura Arcaica, Feliz Ano Novo ou o recente e excelente Tudo é Rio.
Imagine só se essas pessoas colocam as mãos em outras obras banidas em alguns lugares do mundo, como O Apanhador no Campo de Centeio, ou pior ainda: Lolita.
Mas acho que não correremos este risco. Quem faz essas críticas geralmente tem ojeriza de literatura.
Felizmente, não vivemos no mundo de Fahrenheit 451, outra obra que essa gente certamente não leu nem lerá, em que os livros são sistematicamente queimados por serem muito perigosos. Talvez com essa parte eles de identifiquem.
Existiram alguns sujeitos na Europa dos anos 1930 que também curtiam muito essa parte e que viviam bradando aos quatro ventos sobre "arte degenerada". Uma semelhança preocupante. Talvez o melhor a fazer seja ignorar a pantomima e deixá-la morrer na escuridão da própria ignorância.
Melhor gastar este tempo fazendo algo que eles não fazem: lendo. Devemos ignorar Essa Gente e superar esse Estorvo, aliás, dois livros muito bons do recém-agraciado vencedor do Prêmio Camões, Chico Buarque.