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José Abrão
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José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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Black Mirror voltou, mas para quê?

| 28.06.23 - 10:53 Black Mirror voltou, mas para quê? Cena do episódio 2, 'Loch Henry' (Foto: Netflix)Quase quatro anos após a sua quinta temporada, Black Mirror retornou à Netflix com uma sexta temporada mais magra: apenas cinco episódios e, destes, apenas dois com 1h20 de duração. Desta vez, a antologia distópica abrange temáticas diferentes, sendo a abordagem de tecnologia agora mais aberta do que nunca, além de inserções mais marcantes de fantasia. O resultado é muito bem-feito, mas o seriado, conhecido por ser perturbador e rico em comentário social, parece ter perdido suas presas e virado quase uma paródia de si mesmo: “isso é muito Black Mirror” talvez não se aplique mais a ele.
 
O episódio de abertura, Joan é péssima, e o seguinte, Loch Henry, são praticamente uma crítica à própria Netflix e em muitos aspectos são os episódios mais fortes da temporada. O primeiro acompanha uma pessoa que tem sua vida normal virada de ponta cabeça quando o algoritmo começa a adaptar sua vida para uma série de streaming usando IA e computação gráfica. Um comentário raso, mal velado e pouco desenvolvido sobre a intrusividade da coleta de dados e termos de uso predatórios da nossa vida digital.
 
O segundo acompanha estudantes de audiovisual que decidem fazer um documentário true crime sobre um sádico assassino de uma cidadezinha escocesa. Novamente, o seriado cutuca a Netflix, que se tornou conhecida recentemente por explorar o gênero e o seu sucesso, e critica mesmo os fãs, que parecem insulados em relação à dor e ao sofrimento da matéria tema. Outra vez: são apontamentos rasos e frouxos.
 
Talvez o episódio mais imaginativo seja Beyond the Sea, o terceiro, sobre dois astronautas que podem habitar corpos androides na Terra enquanto estão no espaço. Após um desenvolvimento tão brutal quando preguiçoso que bota a mulher de um deles na geladeira, os dois trocam de corpos. O enredo parece que vai engrenar e ganhar corpo... Até a mulher do outro astronauta também ir parar na geladeira. Não é só um final ruim, é datado e misógino.
 
Então temos o quarto e o quinto, que, no final das contas, são os que eu mais gostei, porque são mais honestos e enveredam para a fantasia com o objetivo de contar uma história melhor. Apesar de tocarem em temas sociais relevantes (o quarto, Mazey Day, fala sobre paparazzi e culto à celebridade, enquanto o quinto, Demônio 79, aborda sobre racismo e invisibilidade étnica), os dois se preocupam mais em entreter e contar uma boa história. Ambos possuem personagens, conclusões e cenários satisfatórios. 
 
Ainda assim, não são capazes de justificar esta sexta temporada. Black Mirror já vinha perdendo o fôlego, e estes episódios sacramentam seu estado anêmico. Os episódios não são ruins, nem mal executados, são apenas sem graça: magros, magérrimos, tornando uma série que já teve os dedos no pulso do zeitgeist apenas mais uma propriedade intelectual reconhecível e consumível. 

Comentários

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  • 29.06.2023 23:55 Hahaha

    A temporada realmente não está lá essa coca-cola. Mas vou misoginia onde não há já vemos que a crítica também não.

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José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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