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Fabrícia  Hamu
Fabrícia Hamu

Jornalista formada pela UFG e mestre em Relações Internacionais pela Université de Liège (Bélgica) / fabriciahamu@hotmail.com

Inspiração

Você não é feia, acredite

| 04.12.12 - 10:51
Goiânia - Uma morena linda, de parar o trânsito. Um corpo perfeito, daqueles que parecem talhados por um escultor cuidadoso. Assim era Louanna Silva, a jovem de 24 anos que morreu no sábado, durante uma cirurgia para colocar silicone nos seios. A beleza que todos viam não era percebida pela moça, não lhe bastava. Ela queria mais.  
 
Louanna não é a única. Como ela, milhares de mulheres brasileiras perseguem o sonho do corpo perfeito. Elas não gostam do que veem no espelho, sentem-se inadequadas e disformes e compram a ilusão de que uma cirurgia estética é algo extremamente simples, banal, em que não há risco de morte. 
 
O fato é que uma cirurgia é sempre um procedimento arriscado, em que tudo pode acontecer, inclusive uma parada cardíaca, como foi o caso de Louanna. Os meios de comunicação e a indústria da beleza vendem um padrão estético de perfeição e alguns cirurgiões plásticos se aproveitam disso para faturar alto.
 
A pressão social pelo modelo de beleza ideal somada à suscetibilidade e fragilidade das mulheres é uma verdadeira bomba-relógio. Há uma triste tendência feminina de acreditar que nunca se bela o suficiente, de que há sempre um defeito, uma falha enorme, seja no corpo, no rosto ou no cabelo, a ser corrigida.
 
Além de inatingível, o padrão estético vendido para o público feminino acaba com a grande graça da raça humana: a diversidade. A regra é ser loira, de cabelo liso, barriga chapada e peitos enormes. Quem não atende a esse modelo se desespera para buscar o enquadramento. O resultado é uma legião de mulheres pasteurizadas. 
 
Desolado, o pai de Louanna declarou numa entrevista à televisão: “Quando ela contou que iria fazer a cirurgia, meu coração ficou apertado, senti uma coisa ruim. Mas ela alegou que iria realizar o sonho dela, então eu concordei”. A sabedoria de quem tem mais experiência de vida já intuía que atender à pressão social era um erro.
 
O sonho de Louanna era o de ser aceita, admirada. De se sentir incluída, de fazer parte daquele seleto grupo de mulheres que alcançaram a perfeição. De fato, um sonho, pois é impossível de ser concretizado. Sonho que se transforma em pesadelo, pois nos priva do melhor da vida: a alegria e o privilégio de sermos únicos.
Tenho a clara consciência de que os comunicadores cumprem papel decisivo na difusão desse modelo cruel e inacessível de beleza. É por isso que peço a você, leitora, que me ouça com atenção: você não é feia, acredite. Você não tem seios pequenos, não está gorda nem tem o cabelo indomável.
 
Você não tem rugas demais, não tem barriga flácida, não está com o bumbum caído. Se você está se sentindo mal, triste, vazia, não é de cirurgia plástica nem de drenagem linfática, peeling ou qualquer coisa do gênero que você precisa. O que lhe falta é autoestima, aquela capacidade de se amar e se aceitar em qualquer situação.
 
Tenho um grande exemplo na minha vida do que uma autoestima em dia pode fazer por uma mulher. Minha comadre não é loira, não tem peitões e está muito longe de ser um modelo de magreza. No entanto, do alto dos seus 55 anos ela desperta paixões por onde passa e pode escolher o homem com quem quer ficar.
 
Dona de um riso solto, ela esbanja alegria de viver e não perde tempo buscando defeitos em si mesma. Aprendeu que perfeito ninguém é, e que justamente por isso somos tão legais e divertidos, pois a perfeição é insossa e tediosa. Percebeu que nossas falhas não são suficientes para apagar nossas virtudes, nossa força.
 
Lembro de uma vez em que estávamos num bar e ela devorava feliz uma porção de batata frita. Questionada se não tinha sentimento de culpa por comer algo tão calórico, ela respondeu gargalhando: “Eu não tenho celulite, ela é quem me tem, sou todinha dela!”. Depois, falando sério, emendou: “O que eu quero mesmo é ser feliz, com esse corpo, do jeitinho que eu sou, sem tirar nem pôr nada. Tenho muito orgulho de mim”.
Se você trabalha o dia todo e ainda arranja tempo para estudar e se elevar espiritualmente; se busca sempre ser uma pessoa melhor; se chora, mas, pouco depois enxuga as lágrimas e vai à luta, então você não pode mesmo pagar de gatinha, amiga. Você é uma leoa. Mostre suas garras e valorize seu passe. 

Comentários

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  • 15.12.2012 02:10 Carolina

    Eu estaria sendo hipócrita se julgasse a Louanna por seu feito, autoestima não se encontra em qualquer esquina. Creio que, para cada mulher, a autoestima é uma batalha a ser vencida. Por mais que frases de autoconfiança sejam espalhadas junto a sorrisos, muitas das vezes falsos, toda mulher tem sua insegurança, a questão é até onde essa insegurança nos leva e até que ponto ela nos atinge.

  • 05.12.2012 11:29 Dinamara Cavalcante

    A ditadura da beleza e as mulheres q se desesperam por ela. Quantas vezes isto tudo na busca de agradar alguém, que muitas vezes não dá o menor valor a isto. Quando as pessoas passarem a olhar as outras pelo q elas são e não pela sua aparência talvez tudo isto mude e talvez as pessoas sejam mais felizes.

  • 04.12.2012 17:04 Jordana de Melo Mendes

    Corajosa, acima de tudo corajosa. Sei e sinto em mim que todas temos o desejo de assumir essa liberdade de sermos nos mesmas, porém nos falta a coragem, a sua coragem de fritar e bater o pé, de enfrentar o "padrões". Parabéns, desejo que todas as gordinhas como eu consigam colocar um biquini a partir de agora, livre de culpa e acusações.

  • 04.12.2012 14:44 Lilian Rodrigues

    E é desse tipo de mulher que a gente tá precisando ser! Hoje pela manhã estava refletindo sobre isso... Em como nos deixamos obrigar a seguir o padrão da podre sociedade, de mulheres porra-loucas que dançam até o chão na balada e fazem espetáculos na cama. Tá na hora de fazer por prazer, por se auto proporcionar prazer, e não pra impressionar alguém, né?

  • 04.12.2012 11:33 Janaina Staciarini e Corrêa

    Mais um belo texto, amiga. Eu me emocionei! Obrigada.

  • 04.12.2012 11:21 Mariana Pereira

    É isso aí, Fabrícia!

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