Antes de ir direto ao ponto, compartilho com vocês um pouco da minha trajetória no jornalismo, que é pertinente com o assunto a seguir. Sempre tive um fascínio pela cobertura política e acabei me dedicando a ela, na maior parte dos quase 20 anos de exercício da profissão, em São Paulo.
Mas a política ganhou uma conotação muito negativa ao longo da história. Virou sinônimo de corrupção e dos desvios bilionários do dinheiro público, em benefício de poucos e prejuízos para a grande maioria da população. A fraude no INSS, recém-descoberta, é mais um péssimo exemplo.
Esta é a parte ruim. Por outro lado, não nos esqueçamos que a política é instrumento da democracia, a única forma de exercício do poder sem calar ou eliminar o adversário. Ver a política de perto também é um trabalho só possível nas democracias e foi nesse ambiente que pude exercer o bom jornalismo; ver a atuação dos eleitos, entender o funcionamento da máquina pública, compreender a divisão entre os poderes, aprender sobre sistemas de governo, formas de legislar, estabelecer vínculos de confiança com as fontes e conhecer a história para ter clareza sobre o contexto que nos cerca. Fascinante!
E foi assim que conheci um conceito chamado Paradoxo da Intolerância, proposto pelo filósofo austríaco, Karl Popper, em 1945, mas extremamente atual. Nas palavras do próprio Popper: “Se estendermos a tolerância ilimitada aos intolerantes, se não estivermos preparados para defender uma sociedade tolerante contra a investida dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, e com eles, a tolerância."
Infelizmente, no mundo, não faltam exemplos de grupos que, em nome da liberdade de expressão, promovem o ódio e defendem o uso da força contra minorias e o estado democrático. Quando tolerados, esses grupos podem se infiltrar na política, eliminar opositores e acabar com essa mesma liberdade que lhes possibilitou a chegada ao poder.
Proponho um exercício de aplicarmos o Paradoxo da Intolerância aos ataques do 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Naquele dia, milhares de pessoas que não reconheceram o governo democraticamente eleito, pediram intervenção militar, defenderam o golpe de Estado, invadiram e fizeram um quebra-quebra no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal.
A liberdade de expressão garante o direito de protesto e a manifestação de ideias, mas se esses direitos são usados para defender o golpe e promover a violência política, os autores dos atos não podem ser tolerados, sob o risco de colocarem a democracia em risco, de acordo com a teoria de Popper. Não é dado aos democratas o direito de condescender com os que querem suprimir a democracia.
O filósofo austríaco formulou o conceito do Paradoxo da Intolerância, em 1945, em resposta aos horrores do totalitarismo e do nazismo, que ele testemunhou, na Europa, antes e durante a Segunda Guerra Mundial.
Se você quiser se aprofundar sobre o Paradoxo da Intolerância, mergulhe de cabeça no livro “A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”, dividido em 2 volumes, de Popper, e garanto que não se arrependerá. Boa leitura!