Carolina Pessoni
Goiânia - Entre os moradores mais queridos do Parque Zoológico de Goiânia, há um que desperta curiosidade, sorrisos e até viagens planejadas especialmente para vê-lo: o urso-pardo Robinho. Com seus 22 anos de vida, ele já se tornou um personagem da cidade e não apenas pela imponência ou pelo charme, mas pela história singular que carrega.
Robinho nasceu no próprio Zoo, filho de dois animais resgatados de circo. A mãe, Lucy, viveu até os 43 anos, uma das maiores idades já registradas para um urso-pardo em cativeiro. Hoje, ela está preservada por taxidermia no museu do parque, mantendo viva a memória de sua presença.
Ao contrário de ursos que crescem na natureza, Robinho nunca precisou caçar para sobreviver. Desde filhote, recebeu cuidados diários da equipe. “Ele vive bem, adaptado, e não saberia sobreviver na natureza. Tirar ele daqui agora seria um sofrimento”, afirma a supervisora geral do Zoo, Jamile França.
O recinto em que vive oferece uma área de reclusão, para que ele possa se isolar sempre que sentir necessidade. E não é um simples abrigo: o espaço é climatizado para protegê-lo das altas temperaturas da capital, prevenindo o estresse térmico que poderia comprometer sua saúde. “A gente percebe que ele está bem adaptado pelos hábitos dele, que são sempre normais, pelas condições fisiológicas e pelos indícios de que está vivendo bem”, completa Jamile.
Placa traz informações sobre a espécie do Robinho (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
Apesar da tranquilidade que transmite hoje, a vida de Robinho já foi marcada por uma disputa judicial que mobilizou defensores dos animais e a administração municipal. O Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal entrou com um pedido para que ele fosse transferido para um santuário em São Paulo, alegando que o antigo recinto era inadequado e não oferecia enriquecimento ambiental suficiente. A Prefeitura contestou, defendendo que o urso estava plenamente adaptado e que mudanças estruturais já estavam previstas.
A Justiça acatou os argumentos da administração. Em sua decisão, destacou que fotografias e laudos comprovavam o bem-estar do animal, apontando como pontos positivos a existência de piscina, tanques de água, plataformas para descanso, troncos para estímulo e áreas sombreadas. Também alertou que uma mudança para outro local implicaria “riscos incalculáveis” e poderia causar estresse significativo a um animal já habituado ao ambiente atual.
O resultado desse processo foi a inauguração de uma nova moradia para Robinho, entregue em agosto de 2020. Com 680 m² — mais que o triplo do exigido pelo Ibama — o espaço conta com piscina de 10 mil litros, gramado com sombra natural, toca climatizada e dois pontos de fuga onde ele pode se esconder longe do olhar dos visitantes. “A mudança não melhoraria em nada a rotina dele, pois iria para outro recinto similar e só geraria estresse ao animal, que já se encontra na vida adulta”, explica Jamile.
Para quem sonha em vê-lo de perto, a dica é acompanhar o perfil do Zoológico no Instagram, que é por onde o parque comunica as atividades envolvendo o ilustre morador. Especialmente nos períodos de férias, a equipe anuncia atividades de enriquecimento ambiental que estimulam Robinho a se movimentar, brincar e gastar energia.
Recinto especial atende às necessidades de Robinho, com piscina, elementos de enriquecimento ambiental e abrigo (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
As atividades costumam acontecer por volta das 14h ou 14h30, horário habitual de sua alimentação. Nesses momentos, a cena é um presente: um urso-pardo de 180 quilos mergulhando, explorando o espaço e demonstrando a vitalidade que conquistou com cuidados contínuos.
A alimentação dele também é variada e conta com carne, frutas, verduras, ração e ovos fazem parte da rotina. Mas há preferências claras: ovo cozido, mel e maracujá estão no topo da lista. “Urso gosta de mel, como o Zé Colmeia, que também é um urso pardo”, brinca Jamile, lembrando o famoso personagem de desenho animado.
Hoje, Robinho é muito mais que uma atração turística. É um símbolo de cuidado, adaptação e da ligação afetiva entre a cidade e o animal. “Há quem venha ao Zoo só para vê-lo, e quem volte mais de uma vez para acompanhar seus hábitos e presenciar seu momento de lazer. Assim, no coração de Goiânia, vive uma joia rara: um urso-pardo que encontrou seu lar e que encanta todos”, arremata Jamile.