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Pedro Novaes
Pedro Novaes

Diretor de Cinema e Cientista Ambiental. Sócio da Sertão Filmes. Doutorando em Ciências Ambientais pela UFG. / pedro@sertaofilmes.com

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Não basta ser desonesto, é preciso se mostrar desonesto

| 23.09.25 - 08:00 Não basta ser desonesto, é preciso se mostrar desonesto Protestos do último domingo (21/9) contra PEC da Blindagem e o projeto de anistia (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
 
Impossível não comentar o paroxismo do descaramento na Câmara dos Deputados na semana que passou em um país onde, a cada semana, o sarrafo do paroxismo é sempre elevado um pouco mais. E é preciso falar sobretudo para que, em meio à justa revolta e toda a gritaria, não prevaleça a mistificação. 
 
A rigor, sabemos, não houve nada de novo, exceto mais uma volta do parafuso. Por outro lado, também o sabemos, a qualquer hora a porca espana. O casamento entre a direita golpista e a rapinagem do centrão segue a pleno vapor, com o país e a democracia tomados como reféns. 
 
Como bem observou o jornalista Fernando de Barros e Silva — de quem tomo emprestado o título para este artigo —,  o descaramento dos congressistas chegou a tal nível que o Brasil logrou inverter o célebre mantra da política que diz que “à mulher de César, não basta ser honesta, precisa parecer honesta”. A cara deslavada com que diversos deputados assumiram que havia um acordo para aprovar a PEC da Blindagem/Bandidagem para, em seguida, votar o projeto de anistia aos golpistas do 8 de janeiro de 2023, mostrou que aqui já não basta ser desonesto, é preciso se mostrar desonesto. Os sorrisos de Nikolas Ferreira, Zé Trovão, Sóstenes Cavalcante e Osmar Terra, entre outros, não eram somente os da satisfação de quem imaginou ganhar um alívio nas contas com a justiça para seguir com a farra das emendas, mas sim os de quem se regozijava por esfregar na cara do país que está acima da lei e consegue o que quer à base da chantagem e dos acordos que forem necessários.
 
Nesse sentido, é fundamental repetir os nomes e os números para que as fake news de costume não prevaleçam. Houve deputados da esquerda que votaram a favor da PEC que virtualmente impossibilitaria a investigação e julgamento de parlamentares? Sim, e que sejam expostos e sofram as consequências políticas da delinquência, com ou sem as lágrimas de crocodilo que figuras como Pedro Campos (PSB-PE) derramaram, dizendo-se arrependidas. Mas a verdade, clara e incontestável, é a de que a aprovação da PEC, possivelmente um dos momentos mais baixos e vergonhosos de um Congresso que, como dito, se esmera em descer um novo degrau a cada semana, foi obra dos conchavos e dos votos da direita bolsonarista e do centrão.
 
Os números:  dos 353 votos favoráveis à emenda constitucional, 83 (23,5%), vieram do PL do ex-presidiário Valdemar Costa Neto e do atual presidiário Jair Bolsonaro; 53 (15%), do União Brasil; 46 (13%), do PP; 42 (11,9%), do Republicanos; 35 (9,9%), do MDB; e 25 (7,1%), do PSD. O PL votou unanimemente a favor da impunidade parlamentar. No União Brasil, houve apenas um voto contrário. Entre os do Republicanos, igualmente nenhum voto contra a PEC. A esquerda tem seus pecados e deve pagar por eles, mas, nesse caso, votou maciçamente contra o escândalo — com o apoio do Novo, na direita, vale registrar.
 
O que, apesar de tudo, não deixa de surpreender, observou o jornalista Celso Rocha de Barros, é que tantos arautos da direita moralista, que se elegeram e vivem repetindo o discurso anticorrupção, tenham, de forma tão descarada e risonha, matado no peito e votado com orgulho pela PEC. Entende-se que sua motivação seja, no fundo, como também apontou Celso, o desespero de quem sabe que, com Bolsonaro fora do jogo, suas próprias chances nas eleições do ano que vem diminuem consideravelmente. Todavia, pela reação nas redes e nas ruas, o eleitor de direita também não gostou do que viu, e a conta deve chegar, como sinaliza o mencionado coro dos arrependidos que improvisaram todo tipo de desculpa esfarrapada para o voto favorável — como a deputada Sylvie Alves (UB-GO). 
 
Aqui em Goiás, que tampouco nos esqueçamos, o apoio foi igualmente maciço. Só votaram contra a PEC Adriana Accorsi (PT), Rubens Otoni (PT) e Flávia Morais (PDT). A favor, como não poderia deixar de ser, estiveram os principais nomes da direita bolsonarista, como Gustavo Gayer (PL) e Professor Alcides (PL), entre outros.
 
Felizmente, as redes se inflamaram, as ruas deram sinal de vida no final de semana, e a proposta parece já sepultada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. A conta ficará integralmente para a Câmara, para um acovardado Hugo Motta e para os líderes da direita.
 
Mais que indignar a qualquer um que pague impostos, o comportamento do Congresso preocupa porque os cidadãos comuns, ocupados com suas vidas, seguem cansados e desligados da política. Todavia, se há algo certo na política, é que o povo, quando menos se espera, acorda, e os resultados são sempre imprevisíveis. 

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