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Vitrais do Palácio das Esmeraldas traduzem ideais e memória em cores

Peças ficam no 2º e 3º pisos do prédio | 03.10.25 - 14:36
Vitrais do Palácio das Esmeraldas traduzem ideais e memória em cores Foto: Rodrigo Obeid/A Redação
Carolina Pessoni
 
Goiânia - Na Praça Cívica, o Palácio das Esmeraldas guarda não apenas a história política de Goiás, mas também segredos de arte e luz que atravessam gerações. Seus vitrais, de beleza rara, não foram concebidos como simples adornos. São janelas que contam a trajetória do estado, traduzindo em cores e formas as vocações econômicas, a força da agropecuária e da indústria, a riqueza da fauna e da flora, a presença dos povos indígenas e a memória dos bandeirantes.
 
Eles foram confeccionados pelo primeiro grande ateliê de vitrais do Brasil, a Casa Conrado, fundada em São Paulo em 1900, que marcou época pela execução de obras em importantes construções no estilo art déco. “Como na época o único ateliê especializado em vitrais, foi a empresa escolhida para a execução do trabalho. Tanto o projetista do palácio, Attilio Corrêa Lima quanto os irmãos Coimbra Bueno – que executaram boa parte das obras do início de Goiânia – atuavam no eixo Rio-São Paulo e, por isso, já conheciam ao Casa Conrado”, explica a arquiteta e urbanista Solange Santana, da Superintendência de Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da Cultura de Goiás (Secult).
 
A execução da obra do Palácio começou com o arquiteto Atílio Corrêa Lima, mas, após sua saída, ficou sob responsabilidade da construtora Coimbra Bueno. “Não é possível afirmar se já havia essa proposta dos vitrais desde o projeto inicial ou se foi implementada pelos Coimbra Bueno”, conta Solange.
 

Vista externa dos vitrais do Palácio das Esmeraldas (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
 
Além dos vitrais, as portas principais do Palácio também receberam desenhos jateados em areia, com temas culturais semelhantes, embora sem assinatura. Esses elementos completam a atmosfera de grandiosidade do edifício inaugurado em 1937, que se consolidou como sede do governo estadual.

Localizados nos segundo e terceiro pisos do edifício, o acesso aos vitrais se dá por meio do primeiro elevador instalado em Goiás.  Do lado de fora é possível ver apenas contornos das figuras, mas quem os vê por dentro tem um espetáculo de cores e formas que retratam parte da história do estado.
 
O tempo, porém, deixou marcas e as peças precisaram ser restauradas em 2013. O trabalho coube ao ateliê de Carol Badan, para quem a experiência foi transformadora. “O processo de restauro é muito minucioso, precisa buscar a originalidade da peça, entender as técnicas, as pinceladas. Quando a gente entende isso, sabemos quais pincéis e rastelos foram usados, as ferramentas, se alguma coisa foi proposital”, explica.
 

Portas de vidro também têm desenhos jateados de areia com os mesmos motivos (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
 
O restauro exigiu catalogar cada vitral, identificar danos e retirar apenas as partes comprometidas, que eram levadas ao ateliê para reprodução fiel. “É um outro tipo de arte, muito mais profundo. Foi delicioso fazer esse projeto, porque, para a gente, como artista, é viajar na história da peça. Quando pegamos obras feitas há tantos anos, com técnicas milenares, é um marco na carreira”, lembra Carol.
 
A restauradora se emociona ao recordar que trabalhou ao lado do pai Duda Badan, falecido em 2021, e que esteve presente em todas as etapas do projeto. “Foi uma grande satisfação. Meu pai ficou muito contente em realizar esse restauro. É uma perpetuação do nosso trabalho, porque vai durar muitos e muitos anos, e haverá um próximo ateliê que um dia vai restaurar nossas peças também.”
 
 

Vitrais foram restaurados em 2013 pela empresa de Carol Badan (Foto: Acervo/Duda Badan)
 
Hoje, quem passa pelos vitrais do Palácio das Esmeraldas percebe que não é uma obra de arte apenas com o objetivo de embelezar. Eles filtram a luz do Cerrado, transformando-a em narrativa visual do desenvolvimento de Goiás. São fragmentos de história que resistem ao tempo, guardando consigo tanto a intenção do artista que os criou na década de 1930 quanto a dedicação dos que, quase 80 anos, devolveram-lhes a vida.
 
Assim, cada cor e cada desenho dos vitrais do Palácio filtram mais do que a luz sobre a Praça Cívica. Eles carregam a memória de Goiás, a marca dos artistas que os conceberam e a emoção de quem, no silêncio de um ateliê, os restaurou para que continuem a iluminar a história.
 

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