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Pablo Kossa
Pablo Kossa

Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

O Blog

Quem diz que gosta de trabalhar mente

Trabalho não é prazeroso, não nos satisfaz | 02.10.13 - 22:07
Deixemos de lado nosso espírito protestante de linha tradicional, que historicamente construiu a noção edificante do trabalho, e vamos assumir sem vergonha a verdade: nós odiamos trabalhar. Que nossos chefes não nos ouçam, mas só trabalhamos pelo simples motivo de não termos outra maneira de pagar as contas que nos atordoam ao longo do mês.

Relacionamos tudo que é difícil e chato ao trabalho. Veja só você o quanto a palavra trabalho tem percepção negativa em nosso linguajar diário: “Essa criança dá trabalho demais”; “Não faça assim, desse jeito dá menos trabalho”; “Ô cara que gosta de dar trabalho”...

Trabalho não é prazeroso, não é edificante, não nos satisfaz. O que é prazeroso se chama sexo. O que é edificante se chama hobby de cunho humanístico. O que satisfaz se chama almoço farto acompanhado de uma bela garrafa de vinho. O resto, na boa, é a mais pura groselha.

Dizem que se trabalho fosse bom, ninguém lhe pagaria por isso. Impossível não assinar embaixo. O que é bom de verdade é aquilo que gastamos nosso dinheiro para fazer, sacrificamos nosso tempo livre para estar lá. O que, cá entre nós, não é o caso de nossas atividades remuneradas.

Quando estou sonhando com o que faria se ganhasse na Mega Sena em um grupo, alguém sempre fala que não gostaria de parar de trabalhar. Mentira. O que ele queria era fazer aquilo que até pode exercer profissionalmente, mas sem a pressão de prazos, clientes, chefes, horários ou qualquer outra chatice. Sem isso, meu amigo, aquilo que você ama fazer não é trabalho, é hobby. Aí a coisa muda de figura.

Caso eu fosse milionário, até acho que continuaria escrevendo. Mas sem a pressão dos formatos, tamanhos, prazos e demais rotinas que burocratizam aquilo que gosto de fazer por prazer. Mesma coisa com meu trabalho na rádio, idem com minhas pesquisas musicais.

Se ganhar o cobiçado prêmio já é difícil para quem habitualmente faz sua fezinha, no meu caso é mais fácil o Super-Homem virar bolchevique, tendo em vista que há séculos não aposto meus suados reais em alguma Lotérica. Um amigo joga todo concurso. Ele diz que não paga para ganhar, compra seu direito de sonhar. Eu abdiquei desse direito. Meu sonho é chegar aos 65 anos e me aposentar com saúde para viver mais uns 25 anos, sem precisar da ajuda de ninguém para me limpar após as necessidades mais elementares.

Voltando ao lance do trabalho, precisamos revalorar Paul Lafargue, genro de Karl Marx, e seu clássico O Direito à Preguiça. Não ficarmos orgulhosos quando levamos trabalho para a casa ou passamos mais de 12 horas na firma. Isso deveria ser constrangedor e não algo que nos encha de honra. E não ficarmos envergonhados de assumirmos que detestamos trabalhar, que só fazemos isso pelo infortúnio de não termos nascido herdeiros de fortunas incalculáveis.

Todo mundo que joga limpo consigo mesmo é mais feliz. Não dizia aquele barbudo que mentir para si mesmo é sempre a pior mentira? Além disso, quem é honesto com suas vontades tende a atingir seus objetivos mais rapidamente. O meu é a aposentadoria tranquila na beira do mar. E sem remorso algum proclamar aos quatro cantos do mundo: eu odeio trabalhar!

Comentários

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  • 03.02.2017 16:42 Junior

    Eu tenho um ditado que criei me baseando na lógica matemática. Quem consome o necessário tem que trabalhar o tempo necessário, quem consome muito tem que trabalhar muito. Apesar do ditado ser novo, essa é uma regrinha básica que as pessoas deveriam reconhecer antes de ficar criando espectatívas exageradas de consumo. Quem consome pouco tem direito de trabalhar pouco. Isso não é ser vagabundo, é valorizar o tempo e a si mesmo. Quantas coisas as pessoas compram pra depois enjoar e se desfazer?. Em quanto isso prefiro economizar tempo e dinheiro de forma equilibrada sem me revoltar porque não posso comer fora várias vezes por mês. Consumismo só gera briga e desgraça, gera cobrança de esforço desnecessário por parte de cônjugues, gera extresse e necessidade de esforço extra. Meu conselho para os odiadores de hora extra é ficar com uma pessoa que não precisa se depender de dinheiro pra ser feliz. Minha dica aos consumistas é se casar com quem da mais valor ao trabalho do que a si mesmo. Somente você conhece seus limites físico, emocional e psicológico, e você não tem obrigação de ajustar sua carga horária de trabalho para agradar espectativa consumista de outra pessoa. Se a sociedade fosse perfeita, não existiria fome e guerra no mundo, não haveria conflitos religiosos nem mesmo preconceito étnico. Por tanto, não se abale com a opinião da sociedade, ela é imperfeita de mais pra te julgar

  • 04.10.2013 09:08 DIMAS LOPES PUREZA JUNIOR

    So pra constar a palavra Trabalho deriva da palavra do latim Triparium que era um instrumento de tortura

  • 03.10.2013 17:50 Noxnoctis

    "Caso eu fosse milionário, até acho que continuaria escrevendo." —o fato de odiar ter que trabalhar e ser obrigado a escrever explica um bocado sobre a motivação deste texto. E por acaso, existe uma estória do Superman da linha "Elseworld", aonde ele é bolchevique

  • 03.10.2013 14:38 Patrick Vinicius

    Muito bom o post. Realmente, tem gente que fica dois anos sem tirar férias e acha que é vantagem. Eu quero o máximo de férias possíveis, pra descansar da sofrida vida de proletário.

  • 03.10.2013 13:50 Ana Carolina Castro

    Sou do seu time, Pablo, e não escondo isso de ninguém. Workaholics são, pra mim, incompreensíveis.

  • 03.10.2013 13:16 Retroagido

    Deu muito trabalho ler esse texto. Vou tirar o resto do dia de folga!!! Abraços!

  • 03.10.2013 12:48 Brunno Lobo

    A preguiça é a mãe do progresso. Se não fosse a preguiça de andar, o homem não teria inventado a roda.

  • 03.10.2013 11:39 Sarah Mohn

    hahahahahaha nossas conversas sempre virando pauta de artigo. Vou começar a cobrar pelas ideias, brasilândia.

  • 03.10.2013 11:30 Driano

    Eu odeio trabalhar!! Mas é esse ódio ao trabalho que deixa meus tempos livres mais prazerosos.

  • 03.10.2013 09:34 Gustavo Sá

    Falou tudo exatamente o que eu penso ! Hipócritas são aqueles que enchem a boca pra dizer que ama trabalhar e adora o que faz !

  • 03.10.2013 08:18 wilson cunha junior

    Sou autônomo e sempre costumo ouvir que eu devia pegar mais coisas pra fazer e ganhar mais dinheiro. Tento me explicar que do jeito que está tenho tempo pra fazer coisas que jamais faria se trabalhasse demais. Como por exemplo sentar no meio de uma tarde qualquer na beira de um lago com minha filha caçula e observar os pássaros. Dinheiro é bom mas dinheiro demais te obriga a mantê-lo crescendo. E isso te tira um tempo simples e precioso que nenhum dinheiro põe de volta.

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