Goiânia - A não ser que você esteve em algum lugar fora da Via Láctea desde a semana passada, com certeza ouviu, leu ou ouviu alguma coisa sobre o vídeo de um casal de Goiânia fazendo sexo viralizado via WhatsApp e transformado em meme nas outras mídias sociais. O roteiro é velho conhecido: os pombinhos se divertem, filmam e um dos protagonistas resolve postar o vídeo (geralmente o homem). Daí para a comoção e execração nacional é um pulo.
Muito se falou sobre o assunto. Aqui mesmo na Redação o tema rendeu textos inspirados do Pablo Kossa (http://www.aredacao.com.br/colunas/34626/pablo-kossa/caiu-na-net-e-pau) e da Cássia Fernandes (http://www.aredacao.com.br/colunas/34640/malhados-cuspidos-e-apedrejados). Pretendo, portando, discutir outro aspecto do caso: o tal do efeito manada, que, como várias outras distorções do comportamento humano, encontra nas redes sociais um campo fértil para a proliferação desembestada e desenfreada.
O efeito manada consiste na repetição irracional de uma determinada ação. Na maioria dos casos o sujeito passa a agir como parte de um bando, sem qualquer decisão consciente, e não é raro que, passada a catarse inicial, chegue à conclusão de que nem mesmo concordava com aquilo. É assim, por exemplo, com as torcidas organizadas no futebol. É o famoso “Maria-vai-com-as-outras” que, nas redes sociais, ficou conhecido pela fofíssima e aparentemente inofensiva expressão “meme”.
O meme personifica aquilo que chamamos de viralização. Geralmente são assuntos banais, como a história de uma garota que esteve no Canadá ou da atriz que anunciou aos quatro ventos que aquele era “um dia de rock”. O meme substituiu as novelas e seus bordões (quem não se lembra de expressões como “A cada mergulho, um flash”?). Ele, por si só, não chega a ser ruim. É apenas banal.
Mas, em alguns momentos, o meme reflete aquilo de mais negativo que passa pela alma das pessoas. E é isso que acompanhamos na última semana. Não bastasse a exposição, aparentemente sem permissão, a garota do vídeo de sexo acabou inspirando um meme de extremo mau gosto. Centenas de pessoas publicaram no Facebook fotos em que repetiam o gesto que ela fez indicando o sexo anal.
Quando penso na utopia da inteligência coletiva que emergiria da Internet, fica ainda mais difícil compreender o que leva alguém a tripudiar sobre outra que nunca viu, ampliando exponencialmente, com a força da rede, o estrago psicológico que o alvo do meme já deve estar sentindo. Nesse caso específico, a situação extrapolou a rede e caiu no “mundo real”, pois, segundo se informou, algumas pessoas chegaram a repetir o tal gesto em frente ao local de trabalho da garota.
A essas pessoas, só posso dizer uma coisa: VTNC!