Goiânia - O Brasil é mesmo um País estranho. Aqui, uma renda de R$ 2,30 por dia é suficiente para o cidadão não ser considerado miserável. E aqueles que têm pelo menos R$ 9,70 para gastar todo dia já são da classe média. Pelo menos é assim nas contas governamentais, que também apontam que 65% das pessoas que moram em favelas são dessa tal classe média.
E é nesse país que se espera com ansiedade os novos brinquedos tecnológicos mais cobiçados, que desembarcam com preços que estão entre os mais altos do planeta. É aqui que um Play Station 4, por exemplo, custará R$ 4 mil – ou seja: uma pessoa da base da classe média pode comprar um PS4 se juntar toda a sua grana anual, inclusive o 13º.
É nessa latitude, também, que os novos iPhones 5C e 5S saem pela bagatela de R$ 3.599 na versão topo de linha. O tal classe média aí de cima só tem de trabalhar 12 meses para comprar o seu – o 13º, nesse caso, poderia ser utilizado para colocar créditos no celular.
É claro que ninguém é obrigado a investir seu suado dinheirinho nesses luxos. Mas o susto com a divulgação dos preços dos novíssimos equipamentos tecnológicos é justificável. Afinal, eles estão longe de algo próximo ao razoável. E, o pior, o abuso é recorrente e lembra os idos anos 1980, quando havia uma reserva de mercado fortíssima a impedir que produtos importados chegassem aos portos e às casas dos brasileiros.
No Brasil, as tarifas de telefonia e internet também estão entre as mais altas do planeta. E não é preciso nenhum especialista para nos explicar que os serviços estão na outra ponta, entre os piores do mundo (pelo menos do mundo dito civilizado).
O mesmo ocorre em outros setores, como o mercado automotivo. Duas décadas depois de o famigerado ex-presidente Collor ter decretado que nossos carros eram verdadeiras carroças, o panorama continua quase o mesmo. Os carros Made in Brazil têm acabamento, equipamentos e sistemas de segurança inferiores. Ainda assim são mais caros que similares em outros países – mesmo nos nossos vizinhos latinos.
A esses absurdos os economistas costumam chamar de custo Brasil. Que nada mais é que impostos altos, logística ruim e margens de lucro elevadas, entre outros fatores. A soma disso tudo é uma conta salgada, mas que pagamos e ainda saímos felizes da loja com o embrulho debaixo do braço.
Bom, mas deixemos a conversa de lado, pois vou ali anunciar nos Classificados: “Troco meu carro usado num PS4 zero quilômetro”.