Ando me aventurando com frequência pela cozinha. Já disse inclusive que meu novo vício é a gastronomia, com todos os prazeres e ônus que um novo vício lhe proporciona. Os prazeres são fáceis de listar: comer, ler sobre comida, conversar sobre comida, descobrir novas comidas, beber... Enfim, o rol de atividades aprazíveis envolvendo a cozinha é farto. Os vícios também são simples de lembrar: problemas para segurar o ponteiro da balança, o excesso de gordura ingerido, as quantidades homéricas de álcool a cada prato degustado, o limite do cartão batendo no teto todo mês... Mas não é sobre isso que quero falar agora. Gostaria de refletir um pouco sobre um conceito que considero muito útil para quem está se interessando pela arte de preparar um rango: a cozinha de guerrilha.
A primeira vez que ouvi esse termo foi em uma série que passava no Canal Brasil (aquele das pornochanchadas brasileiras dos anos 70 de madrugada, saca?) chamada Larica Total. O apresentador do programa se calcava nesse princípio para fazer as receitas mais absurdas do mundo, tipo macarrão com salsicha, yakisobra, moqueca de ovo, dentre outras pérolas do fogão de quem mora sozinho. A lógica é o seguinte: cozinhar com aquilo que tem em casa. Se você não tem um produto, o substitua por outro. O que não vale é ficar sem comer por que não tinha alecrim fresco em casa.
Não sou tão ousado quanto o programa, mas aderi ao princípio de nunca recuar de uma receita perante alguma adversidade. Vou na lógica da substituição, como um fiel adepto da cozinha de guerrilha. Não tem uma coisa? Beleza! O que pode substituir? Nada que tenho em casa? Beleza! Vai sem mesmo! E assim vou tocando minha vida gastronômica.
Não dá para se furtar à experiência gastronômica por conta de um item ou outro que está na receita mas inacessível a você naquele momento. É muito frustrante quando estamos lendo e nos interessando por um prato e, lá no meio, vem algum ingrediente que aborta aquele início de sonho para o almoço de forma tão abrupta. É aí que entra a criatividade de quem está no comando da cozinha. Tentar entender por que aquele elemento foi inserido na receita e achar seu substituto. É para dar consistência? Cortar a gordura? Ressaltar o elemento central? Amenizar alguma característica? Essas são algumas das perguntas do exercício de compreender a receita e achar o que pode substituir sem desarmonizar o todo.
Sei que não é punk como no Larica Total, mas segue a mesma lógica. O que não dá é para desistir do prato quando surge alguma dificuldade. Isso sim é uma desonra ao sentimento glutão que estimula todos que colocam uma panela no fogão. E eu não sou doido para causar essa decepção a algo tão caro para mim!