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Nádia  Junqueira
Nádia Junqueira

Nádia Junqueira é jornalista e mestre em Filosofia Política (UFG). / njunqueiraribeiro@gmail.com

Ora, Pois!

Eu danço kuduro

Sobre a noite bragantina | 06.10.11 - 13:23
Assustou com o título acima? É a noite de Bragança. Mas vou explicar. E não deixe de clicar nos links que vou passar. Não tenho muito para onde correr aqui. Ultimamente em Goiânia, antes de vir, eu passava bem de bar em bar (ai que saudade de comer um espetinho completo e do chopp do Glória), nas festas no Martim Cererê, Metrópolis ou El Club. Nunca fui muito de boate-do-momento, essa coisa de Sedna e Royal, nunca pisei. Nem me interessei. Há uns anos freqüentei House Garden, mas não demorou muito para eu ver que não é minha praia. Aqui não tenho muita saída: é boate! Aliás, discoteca, o pá!

Por aqui, se quiser só tomar uma cervejinha, as opções são os pubs. Mas eles chamam de cafés (mas se serve cerveja, e não café). Também, sempre badalados. Fora eles, são quatro boates que se revezam durante a semana por se encher de moradores e Erasmus. Bonitas, boa estrutura, preços bons, sempre tem uma promoçãozinha para Erasmus, mas a música. Ai, a música. Uma experiência antropológica a cada saída. Fico tentando lembrar o que eu achava que ia ouvir aqui: house? Ou qualquer coisa eletrônica do razoável ao ruim? Pois é: muito Michel Teló e kuduro. Todo dia. Em toda boate. Todo mundo cantando junto.

É bom para enrolar a língua de quem acha que aqui, no velho e civilizado mundo, as pessoas só gostam de coisas elaboradas ou tradicionais. Que a cada esquina vai ter alguém tocando violino. Aprendi, inclusive, que farofeiro aqui se chama azeiteiro. Música de massa é música de massa, minha gente. Em Goianésia ou em Bragança. E tem mais, saudade de não chegar em casa fedendo cigarro. Todos fumam nos locais fechados e não tem uma noite que você não volte para casa parecendo que rolou num cinzeiro. Parabéns, Brasil!

Descobri também que o sertanejo não só é universitário, como faz intercâmbio. “Nossa, nossa, assim você me mata. Ai, se eu te pego, ai, ai, se eu te pego”. É essa a sensação de Bragança. (Nesse instante que vos escrevo ouço meninas gritando essa música ali no trote da faculdade de saúde). É, inclusive, a cantada fuleira que os portugueses fazem para gente quando andamos na rua (para não dizer faculdade, tá?). Eu nem sabia qual a cara do tal Michel Teló até ele estar estampado nos telões das boates. Inclusive descobri que aquela “o jeito é dar uma fugidinha com você” também é dele, achei que era pagode. Você não tem a opção de sair aqui sem ouvir isso, eu que sempre consegui fugir do sertanejo, mesmo sendo sua conterrânea.

Outra importação que rola é axé. Quando toca “ei, e daí, se tem mulher solteira dá um grito que eu quero ouvir” a mulherada portuguesa sobe no palco ou grita muito. E rebola como se não houvesse amanhã. E tem essa também batendo ponto na balada, cuja letra se resume a “bará bará bará, berê berê berê”. Mas essa aqui é de deixar qualquer capoeirista se coçando de raiva. Eu não sou, mas fico imaginando os que conheço vendo essa música bombando nas pistas. Mas vou confessar qual a pior parte. Eu não sinto a mínima brasilidade quando escuto essas coisas. Na verdade, nas oito primeiras vezes me deu vontade de ir ali buscar uma cerveja ou ir ao banheiro. Eu fui. Mas, por fim, você vai abstraindo e sendo vencida.

Falando em ser vencida, quem me ganhou foi o kuduro. Porque nós não somos os únicos colonizados a exportar música azeiteira. Esse ritmo, assim como o kizomba (tipo zouk) vem lá da Angola e também dominaram as pickups por aqui. O kizomba se dança a dois. Sorte sua se tiver um africano na balada pra te ensinar a dançar. Te faz achar que arrasa na dança. Você pode ouvir essa, essa e essa música de kuduro. E dança todo mundo juntinho, fazendo passinho, como nesse video.

Como não me lembrar da minha mãe? Qualquer festa de casamento, 15 anos, Natal ou sei lá e começa um "Stayin' Alive" lá está ela fazendo passinhos complexos, comandando uma turma. Ela pegaria o passinho na primeira noite. Peguei na segunda. Ou na terceira. Até que domingo passado as brasileiras aqui de casa que estão aqui desde fevereiro deram um workshop para todo mundo. E sério, danço de turminha na balada agora.

Aí, para fechar o setlist-nosso-de-cada-dia, no meio da noite, do nada, dão uma pausa no frenesi e soltam um “someone like you”, da Adele. É tipo o momento dor de cotovelo da noite, aproveitando do álcool que já subiu. A idéia é: pense em algum rolo mal sucedido, um romance que ficou no Brasil ou lembre da família e dos amigos, feche os olhos, cante alto, abraçando alguém com um braço e levantando o outro. Pronto. Pode tirar a cara de choro que o kuduro voltou. Oioioi, oioioi!

E no último fim de semana foi reinaugurado o bar com karaokê da cidade. A sensação! Estava lotado e dá-lhe portugueses cantando Ivete Sangalo: “hoje sou feliz e canto! Só por causa de você!”. Não, dessa vez eu não cantei. Mas só porque tinham encerrado as inscrições. Porque intercâmbio é isso aí: não ia para boate? Agora vai. Não cantava sertanejo? Agora canta. Nunca cantou num bar com karaokê? Agora sim. Nunca dançou de turminha na boate? Agora dança. Mas ainda tenho esperanças de encontrar uma bossa nova em qualquer esquina. Ou uma roda de coco, quem sabe. 


Comentários

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  • 08.11.2011 04:41 Mariana valente

    Nádia, li os teus textos mas este " bateu aquela saudade" metropolis, martim cererê, muito bom realmente , provavelmente cruzamo-nos por lá! :) Tb nunca fui á sedna. Mas olha, teria sido engraçado ouvir Tony Carreira na balada, como tu ouves cá Michel Teló:). Nós importamos mt música brasileira ao contrário de vocês que conhecem pouco do que se faz em Portugal ( pelo menos foi a noção que tive) Mas conpreende-se a nossa indústria musical é mt mais pequena e é dificil a internacionalização. Só tenho pena que seja axé e forró a grande quantidade que nos chega cá com tanta boa música no brasil... enfim Quer dizer o resto tb chega, só não sei porque raio ñ passa nas dicotecas nos bares... Enfim, vamos dançando kuduro:)

  • 04.11.2011 11:10 Anna Luiza Magalhães

    sensacional! e a gente vai achar também um samba, um choro... um rock n'roll !!! enquanto não achamos temos um violão, um cara que toca e a sua voz bela para arrastar um chico buarque e caetano veloso.... seus textos são viciantes!! adoro todos! beijos

  • 04.11.2011 11:10 Anna Luiza Magalhães

    sensacional! e a gente vai achar também um samba, um choro... um rock n'roll !!! enquanto não achamos temos um violão, um cara que toca e a sua voz bela para arrastar um chico buarque e caetano veloso.... seus textos são viciantes!! adoro todos! beijos

  • 13.10.2011 12:09 Sâmara

    Muito bom Nádia, essa ai é nossa vida de intercâmbista na cidade "bombante" Bragança!

  • 10.10.2011 09:06 Dan Paranhos

    Excelente! Definiu Bragança com maestria.

  • 10.10.2011 06:02 taiane nazaré

    A cada parágrafo, uma noite engraçada em Bragança. Adorei o jeito embalado e cheio de ritmo desse texto. Deve ser coisa de brasileiro-jornalista-músico, não? rs Um beijo, tai.

  • 10.10.2011 11:14 Rafaella Pessoa

    Nadinha!! Ri demais lendo e ouvindo esse texto. Confesso que alguns videos não consegui chegar ao final, mas enfim, boa sorte na arte da abstração. hahahah ótimo texto, como sempre! Parabéns!!!

  • 09.10.2011 02:56 Nádia Junqueira

    Deu sorte, ein Ana? Aqui a coisa tá assim. E Espanha também tem muito kuduro! Se correr bicho pega, se ficar bicho come, né Elder? E a gente vai levando. Eu vou fazer, Raisa! Sério! Arrumar um bombo e tocar uns cocos na praça! rs. Tia Clara, pede mesmo! Uma aulinha pelo menos! rs. Gostei de saber que está fazendo aulas. Beijo!

  • 09.10.2011 11:59 Clara

    Nádia comecei a fazer dança de salão de novo, vou pedir o professor para ensinar o kuduro, adorei!kkkk,como sempre, ótimo texto lindinha!!!

  • 07.10.2011 11:41 jordana frauzino lima

    Adorei seu texto! muito bom!

  • 07.10.2011 10:05 Raisa

    Faz um show do Passarinhos aí, Nádia!!!! Um pocket show! Voz e violão! Ou melhor, voz e coco!

  • 07.10.2011 09:53 Mayra

    Hahahaha....mttt bom!!! deu vontade de dançar Kuduro tb!

  • 07.10.2011 09:53 Mayra

    Hahahaha....mttt bom!!! deu vontade de dançar Kuduro tb!

  • 06.10.2011 06:51 Élder

    Faço minhas suas palavras, porém não tão bem escritas. Depois de tanto fugir do sertanejo no Brasil ele continua me perseguindo por aqui e por fim a gente tem que ceder. Parabéns, seu texto tá excelente.

  • 06.10.2011 06:15 Ana Carolina Castro

    Eu consegui passar um ano longe de sertanejos na Alemanha, graças a Deus!! Mas senti falta de hip hop, porque lá só se dança os hits de rádio, pops com fundo eletrônico.

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