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Fabrício Cordeiro
Fabrício Cordeiro

Crítico de cinema e curador da Goiânia Mostra Curtas 2013 - Mostra Municípios / fabridoss@yahoo.com.br

Sala de cinema

Filme de autoajuda

Mais uma investida fracassada de Ben Stiller | 17.01.14 - 19:53 Filme de autoajuda (Foto: divulgação)
 
Goiânia - Enquanto assiste a A Vida Secreta de Walter Mitty*, quinta investida de Ben Stiller na direção de um longa, o espectador pode considerar, por algum momento, revisar sua vida e se dedicar a outras prioridades. "Trabalhar menos, aproveitar mais a vida, ser feliz", essas coisas de autoajuda que, bem, dificilmente ajudam alguém (muito pelo contrário, aliás). E como todo filme que se esforça muito para mudar a vida de seu público, fracassa.
 
Aqui, Stiller interpreta o personagem do título, funcionário da revista ainda-impressa-mas-a-caminho-de-se-tornar-somente-online LIFE. Trabalha na equipe há anos e é acostumado com o cotidiano, vivendo vida não só tediosa como também entediante. Um cara cinza, ombros caídos, sem vida ("LIFE", sacaram?). Sua única via de escape é sonhar acordado, inventando versões alternativas para o que realmente gostaria de fazer em situações que, na verdade, nada faz.
 
Despertos ou não, sonhos são sempre materiais imagéticos de grande elasticidade. Por adentrarem em terreno onde tudo é possível, são cinematograficamente interessantes, sem limites de exploração. Stiller, no entanto, filma esse "vale tudo" como apenas um deck de cartas piadistas que, no fim das contas, querem dizer algo muito importante para as nossas vidas.
 
Mitty trabalha na seção de edição de fotos. A partir de um fotograma perdido, que deveria ser capa da última edição impressa da revista, caberá a ele a responsabilidade de cruzar o mundo a fim de encontrar item tão precioso.
 
Até alcançar seu objetivo, Mitty, auxiliado por interesse romântico (Kristen Wiig, uma zero à esquerda no filme), terá de descobrir o que são outras três fotos e segui-las. Três desafios, três pistas, descoberta de mundos novos, perigosos e aventureiros, quase como num conto infantil.
 
O problema é que Stiller, que pode ser um ótimo comediante mas não um ótimo diretor (sua tentativa de encarnar outros filmes como anedotas já soa como uma boba repetição), parece largar seu filme numa dúvida, o que seria curioso caso gerasse alguma estranheza, mas é simplesmente apático e um beco sem saída para algo tão fabricado: se as grandes viagens e experiências de Mitty são apenas parte de sua imaginação, eis um longa que não sai do lugar; por outro lado, se tudo acontece de fato, não importa, já que tampouco fica difícil identificar o fingimento de suas intenções, de sua "mensagem".
 
Para um filme que tem como meta acordar o público para a necessidade de desbravar, para o arriscar-se, A Vida Secreta de Walter Mitty mal disfarça o quanto é conservador. De tão próximo das células clássicas da indústria que o gera, tudo tem origem na busca do par romântico, da paixão (Mitty e a piscada virtual para a colega de trabalho). Mais que isso: Mitty irá se revelar figura paterna exemplar, e, portanto, a projeção de marido exemplar (a substituir um marido não tão exemplar).
 
Por fim, e de modo algum menos importante, não interessando o conjunto de lições supostamente aprendidas, o mistério da fotografia é entregue de maneira que Stiller parece julgar recompensadora. É na capa da LIFE, exposta para toda a população e observada por futuro casal de mãos dadas, como num comercial (e não seria?), que A Vida de Walter Mitty exibe sua desonestidade, valorizando tão sorridentemente nada mais que o trabalho e a família. O próprio filme é, assim, uma ilusão das mais baratas de se comprar.
 
*existe uma versão homônima de 1947, dirigida por Norman Z. McLeod.

Comentários

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  • 19.01.2014 16:11 Fernanda Gusmão

    Eu amei esse filme! Acho Ben Stiller melhor no drama do que na comédia. A fotografia é perfeita e a história é bacana.

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