Nada irrita mais que a enrolação. Nem muriçoca zumbindo no ouvido a noite inteira, nem ver seu time goleado em casa. O que realmente torra a paciência é quando ficamos esperando algo que temos a plena consciência de que não precisaríamos estar vivendo. O tempo vai passando e, imediatamente, pensamos em tudo aquilo que poderíamos estar fazendo se não tivéssemos que suportar a enrolação alheia. É de deixar monge budista furioso.
Um exemplo clássico é esperar mulher se arrumar para sair. É mais fácil ver o Zico vestir a camisa e beijar o escudo do Vasco da Gama do que encontrar uma mulher que saiba cumprir o horário quando se trata de ir para a balada ou a um jantar. Entendo que a preparação feminina demanda muito mais que a masculina. Para me aprontar, eu não penso em nada. Olho o calçado, vestimenta e ponto final. Não tem análise, não tem debate (por que diabos sempre perguntam nossa opinião se não vão ouvir e farão só exatamente aquilo que elas querem?), não tem reflexão. Não experimento todas as opções do mundo para chegar à conclusão de que não tenho roupa – mesmo que na cama se encontre uma pilha de blusas, calças e vestidos experimentados do tamanho do Everest. Sei que a mulher precisa de maquiagem, cabelo, combinações que não faço nem ideia da existência. E também sei que isso as deixa daquele jeito que gostamos: lindas, perfumadas, sedutoras. Mas, diabos, se já sabem que as coisas são assim, por que elas não começam a se arrumar com as três horas de antecedência que são necessárias? Existe um prazer sádico em toda mulher em nos ver esperando e perdendo tempo, seja dentro do carro, no sofá ou na porta do elevador gritando “chegou! Vem rápido que tem gente!”.
Outro caso que deve ser um teste emocional de paciência dos mais eficazes é o serviço de call center. Só de pensar que preciso ligar para um, começo a ficar irritado. É tanto lero-lero, é tanta musiquinha, é tanto gerúndio que até a existência de Deus passa a ser questionada. O fato é que se existir inferno, ele será a espera eterna de atendimento em um call center. Nem o diabo seria criativo o suficiente para inventar um sofrimento mais agudo. Atingimos o teto, não tenho dúvidas! E o pior de tudo é que sabemos que eles fazem isso só para nos enrolar. Aí a irritação bate níveis recordes. Quando desligamos o telefone, a vontade é cuspir marimbondo no primeiro ser com sotaque de outro estado e usando verbos no gerúndio que encontramos na rua.
Nosso tempo anda escasso demais para ser desperdiçado. Temos muitas atividades, os dias parecem passar cada vez mais rápidos e nunca temos tempo para nada. Por isso que a enrolação desperta tamanha ira. O ideal seria voltarmos ao método de vida slow, onde pudéssemos dar um passo de cada vez. Como o ideal não é o real, seguimos fazendo tudo ao mesmo tempo agora e de saco cheio com as enrolações que nos fazem perder tempo.