Determinadas invenções não deveriam ter saído do papel. E não estou falando de coisas extremamente dramáticas e definidoras de gerações como é o caso, por exemplo, da bomba atômica. Tenho certeza que até mesmo o grupo envolvido no desenvolvimento daquele artefato nuclear se arrepende e pensa na vida quando vê imagens de Hiroshima e Nagasaki. Estou falando desses itens absolutamente ordinários, que estão por aí nas ruas e que, quando incorporados à nossa rotina, se tornam tão viciantes que dá até raiva de ter um. E sempre vem aquela dúvida: “como é que vivi sem isso por tanto tempo?”.
O caso mais clássico desse tipo de invenção é o telefone celular. Nossa vida corria bem, sem a necessidade do imediato que temos de falar com alguém como é hoje. Antes, ligávamos na casa da pessoa. Se ela não estava, deixávamos um recado e ligávamos no trabalho. Se não o encontrássemos também, outro recado ficava lá e aguardávamos o cara retornar. Simples. Correto. Educado. Não é esse desespero de hoje, em que ficamos angustiados quando não falamos com alguém naquele exato minuto que queremos. O celular definitivamente piorou nossa vida.
Nessa mesma linha, o acesso à internet pelo aparelho celular também foi algo que nos torna absolutamente dependentes. Antes, se não sabíamos determinada informação, nos esforçaríamos ao máximo para lembrar. Caso não conseguíssemos, a vida continuava perfeitamente. O mundo não parava de rodar. Agora, com o Google estando disponível ao bolso, nos sentimos impelidos a dirimir qualquer dúvida no exato momento em que ela surge. E a angústia que cresce no peito caso não façamos isso é de lascar.
O ar condicionado em carros é outra invenção que não poderia ter sido criada. Antes, o quebra-vento era nosso ar condicionado. Abríamos aquela janelinha e direcionávamos para o meio do nosso peito. Aquele jato de ar era o refresco para os dias calorentos que tínhamos de passar dentro do carro. O quebra-vento era o ar condicionado ecologicamente correto. Agora, entramos no carro e mesmo com chuva queremos um ventinho frio para nos ambientar. É difícil demais ficar sem o conforto que detona o meio ambiente, queimando mais combustível para que você fique fresquinho dentro do veículo.
Depois que nos acostumamos a essas modernidades, fica difícil lembrarmos como vivíamos antes de suas invenções. A dependência criada é incômoda e limitante – como são todos os vícios. E o libertador é, de tempos em tempos, voltar ao estilo old school e abdicar dessas comodidades. Relembrar como a vida fluía sem esses artefatos. Nem que seja para voltar correndo aos mesmos de braços abertos após o período sabático.