Uma grande amiga sonha em ser mãe há tempos. Desde remotas épocas, de quando a maior prioridade da nossa turma era juntar as moedas para pagar a conta do bar em que bebíamos a cerveja mais barata - pelo simples fato de render mais. Ninguém sequer imaginava que um dia teríamos que lidar com coisas como financiamento de casa, malha fina da Receita Federal ou revezamento dos pneus do carro para uniformizar o desgaste. Família era uma realidade tão distante quanto a dos índios do Acre encontrados recentemente pela Funai. E desde essa época ela já falava em ser mãe.
A maternidade é o sonho da vida dela.
Mas a natureza é muito cruel com a mulher que quer ser mãe. O tempo urge. Ela engatou alguns relacionamentos, mas nada que virasse casamento e constituição de família. E o prazo final para colocar um pimpolho no mundo começa a ficar cada vez mais próximo. Bateu o desespero.
Semana passada, ela me chamou para um café. Atualmente, está cogitando uma produção independente. Na ocasião, fez uma entrevista comigo sobre as dificuldades que tive nos diferentes momentos de vida que minhas filhas nasceram - duas lindas garotas. Ela me encantoou de jeito.
É completamente desproporcional minha experiência de pai com a de qualquer mulher. Por mais presente e companheiro que um homem seja, a demanda de um filho para ele não chega a 10% do que é para a mulher. Contextualizei minha amiga disso e falei que seria muito mais proveitoso se ela conversasse com outras mulheres sobre isso. É claro que ela já tinha essa ideia. Pontuei que, para mim, o maior problema dos filhos é que eles são caros. É muito dinheiro manter a prole do jeito que sonhamos. Mas muito mesmo.
Os trampos que eles dão no dia a dia - comida, banho, fraldas, sono inconstante… - são cansativos, mas recompensadores. Exceto quando estão doentes, que aí sim dá uma taquicardia e nervosismo, o restante é de boa. As contas não.
Leite especial é caro. Cadeirinha de transportar no carro é caro. Fralda é caro. Berçário é caro. Remédio é caro. Plano de saúde é caro. Material escolar é caro. Curso de línguas é caro. Balé é caro. Roupa é caro. Brinquedo é caro.
Para ser sincero, não me lembro de nada que seja de preço acessível.
Essa pressão é que faz você dormir tarde terminando um trabalho e acordar cedo no dia seguinte para trabalhar. Não saber como pagar a fatura do cartão de crédito é o verdadeiro Red Bull da vida, aquele que lhe dá asas para você arrumar outro emprego e deixar tudo em dia.
Valeu de muito pouco minha conversa com ela. Ficou claro que a demanda feminina é completamente diferente da masculina, por mais que o homem se esforce para dividir as tarefas.
Imagine a pressão sobre ela que está se convencendo da hipótese de tocar o trampo sozinha…
Minha admiração por ela só cresceu. Gente de fibra sempre é respeitável. Ela está nesse seleto rol.