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Pablo Kossa
Pablo Kossa

Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

O Blog

Nossa civilidade no lixo

Intolerância venceu a razão | 12.11.14 - 14:22

 

Goiânia - A prova cabal de que por essas bandas deixamos de ser humanos é a organização das torcidas na final da Copa do Brasil, o jogo entre os rivais belo-horizontinos Atlético e Cruzeiro. A primeira partida da decisão acontece hoje (dia 12/11) na capital mineira e teremos somente a torcida do Galo nas arquibancadas do Estádio Independência. No jogo de volta, 90% dos presentes vestirão azul no Mineirão – 10% da carga total dos ingressos será destinada aos atleticanos. Esse fato é a bala de prata no coração do último resquício de humanidade que ainda tínhamos no Brasil. Está decretada a falência do brasileiro como ser humano.
 
Não poder dividir o mesmo espaço de contemplação futebolística por ser do time oposto é o fim da picada. Mostra que a intolerância venceu a razão, a barbárie venceu a civilidade, a estupidez venceu a cordialidade, o ódio venceu o bom senso.
 
É, Belchior, eles venceram e o sinal está fechado para nós que somos velhos. Estou mais angustiado que o goleiro na hora do gol, tal qual o nobre compositor cearense. Nós perdemos. Nós que assistíamos aos clássicos com estádios divididos ao meio, com a arquibancada cheia de cores que representam os clubes rivais, com cânticos e provocações de um lado e a resposta imediata do outro. Hoje, isso parece coisa de outro mundo. É algo extinto, que só habita nossa memória ou prateleiras de museus ao lado de itens como máquina de escrever, lamparina e a formação original do Guns n' Roses.
 
Onde que a vaca foi para o brejo? Até a primeira metade dos anos 1990, eu assistia aos clássicos entre Goiás e Vila Nova ao lado de torcedores rivais, com a camisa do time e tudo mais. A divisão existia somente no lado oposto as cabines de rádio no Serra Dourada. Do lado do amendoim, tudo era lindamente misturado. O cordão de isolamento é a prova de que não evoluímos tanto assim, Darwin. Afinal, desde os primórdios o homem continua fazendo o que o macaco fazia, Titãs.
 
E impressiona a normalidade que encaramos o fim de nossa civilidade. Banalizou ao nosso olhar a impossibilidade de convivência pacífica. E o que mais estranha é que, em outros ambientes, a presença de torcedores rivais não incomoda, Na escola, universidade, trabalho, boteco, igreja e padaria conversamos e fazemos piadinhas com o time do conhecido. No estádio, no meio da massa, dentro da turba, liberamos aquilo de pior que habita nosso peito.
 
Como é que fico agora? Eu, que criticava essa geração de agora criada a base de futebol europeu? Começo a ficar com vergonha do que dizia. Como culpar o moleque por assistir jogo gringo quando ele não pode frequentar o estádio brasileiro com segurança? E o que é pior: sequer pode ir nos grandes clássicos quando o rival é o mandante. Para assistir pela televisão, julgando só o espetáculo da bola rolando, o jogo europeu é melhor mesmo, já que os maiores jogadores do mundo estão nos campos de lá.
 
Matamos o futebol brasileiro, assumimos nossa bestialidade e nem nos demos conta disso. Triste, muito triste...

Comentários

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  • 14.11.2014 00:38 Néviton César Leão

    Olha gente tudo isso tem solução mas não fazem por dois motivo CBF, Clubes e falta de punição dos marginais. Enquanto não fizerem como lá na Inglaterra proibiu os torcedores violentos de ir aos jogos, os clubes parar de dar ingressos as torcidas, os clubes terem que indenizar as famílias que teve um ente querido morto ou ficou com uma deficiência devido a violência da torcida. Onde a indenização por morte seria no valor de R$ 3.000,00 em cima do tempo de trabalho que ele teria, e no caso da invalides devido a deficiência e o graus de dependência de medicamento, fisioterapia e acompanhante para ajuda-lo no seu dia a dia no valor de R$ 4.000,00 enquanto viver. E por ultimo os clubes a CBF serem responsável em contratar segurança para o evento, terem que pagar os danos de bens material no estádio, na vizinhança, dos transporte, dos danos de veículos no estacionamento e do batalhão Policial e Civil para manter a ordem e eles terem que pagar ao batalhão militar, civil pelo serviço prestado. Ai sim teremos de volta o verdadeiro torcedor como o moço sita que não existia a divisória de estádio de torcida poder assistir o jogo com a camisa de seu time e todos misturados e você curtindo de seu amigo do outro time se tiver perdando.

  • 12.11.2014 22:29 waldes Alves de Souza

    Bom texto Pablo. A pergunta é: Por que a gente não anda cara? Por que caras como Eurico permanece? Por que amistosos por dinheiro? Por que nosso futebol não evolui? A resposta está aí, a resposta está nas pessoas intolerantes.

  • 12.11.2014 21:25 Denny Kessons de Souza

    É Pablo. Acabou o que fazia o encanto de uma partida em um estádio de futebol nacional: a rivalidade entre torcidas. Peguei muito pouco do que hoje leio você comentar com um "fato histórico". Me lembro de um Vila e Goiás de 1999, tinha 8 anos, não havia medo de ir ao estádio e ficar na ala "familiar". O encanto do vermelho e verde foi de outrora. Me admiro hoje, sendo da geração Barcelona, com o respeito de uma torcida que, mesmo perdendo em um Camp Nou por três, quatro a zero, é capaz de um intocável respeito para com a equipe adversária, a ponto de aplaudir a mesma. É isso o que a geração Barcelona busca, mesmo que nas ondas de HD.

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