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11.02.2015 19:41 Ana Carolina Castro
Só não gostei do carnaval quando fui obrigada a trabalhar em um - e graças que isso não me pertence mais!
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Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br
Goiânia - Ninguém é obrigado a gosta de nada. Nem da bunda da Paolla Oliveira (eu gosto), nem de Cinquenta Tons de Cinza (não li o livro, não verei o filme e não gosto) e muito menos de carnaval (eu gosto). O que geral não entende é que o fato de não gostarmos de tal coisa não nos transforma em embaixadores do ódio àquele produto. Ninguém tem o dever cívico de ficar reclamando do que não gosta ano após ano. O mimimi em loop é a coisa mais sacal do mundo. Falo isso por causa do carnaval.
Já fui adolescente roqueiro e me arrependo profundamente do tanto de bobagens que fiz e que falei. Uma da longa lista é o tanto que eu falava mal do carnaval. Mais pueril impossível. Achava a festa o ápice alienante (cóf!), cercada da exploração sexual vulgar (cóf! cóf!) e com música ruim por todos os cantos (cóf! cóf! cóf!). Ia para a chácara dos meus tios jogar videogame com os primos. Ou então embarcava em pescarias com meu outro tio. Não ia a bailes de clubes e nem viajava para as cidades de carnaval tradicional. Não pegaria bem para um cabeludo de camisa preta do Ramones.
O tempo passou e a cabeça mudou, graças ao bom Deus. Hoje o carnaval é minha segunda festa preferida, perdendo somente para o Réveillon. Admiro um país que libera todos do trabalho para quatro dias de esbórnia, gente pelada na televisão aberta e a ode compoleta à diversão. E ainda por cima dá meio feriado na quarta-feira para curarmos a ressaca. Genial!
Essa leveza para encarar a vida atualmente me apraz mais que a sisudez oriental, a falta de ginga europeia ou o literalismo estadunidense. Sou Brasil mulambo e me orgulho disso. Gosto mais da zoeira do menino acriano mandando um “chupa, São Paulo!” enquanto se esbalda na água da torneira do que o politicamente correto asséptico, coxinha e limitante.
Sei que tal discurso está longe do consenso. Melhor assim. Mas gostaria de lembrar que existem alternativas mais legais para quem detesta a festança do ficar reclamando em redes sociais. Fazer uma maratona de seriado em frente ao computador, pegar uma sequência de filmes no cinema, encarar a leitura daquele livro calhamaço que a rotina nunca lhe permite fazer, ouvir um monte de discos que vão se acumulando na estante, visitar aquele parente que há tempos não vê, dormir 14 horas por dia para compensar a falta das 8 horas diárias... Sei lá. Falta de opção não existe. O que há de sobra é vontade de falar mal do que quer que seja.
Então antes de postar todas lamúrias possíveis contra o feriadão que se avizinha, lembre-se que a virtude de dar um feriadão para uma festa gigante é privilégio de pouquíssimos países do mundo. E se sua insatisfação é realmente tamanha, uma pergunta de boa: seu passaporte está em dia?