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Pablo Kossa
Pablo Kossa

Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

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Quem ainda ouve um disco inteiro?

Playlists estão ganhando cada vez mais espaço | 23.01.12 - 11:25


Se for para ouvir música, eu sempre coloco um disco para tocar. Independente do formato, em MP3, cassete, CD ou vinil. Se é para ouvir, vou da primeira à última faixa. É claro que nem sempre dá para escutar tudo, pois aparecem os compromissos da vida e o tempo está cada vez mais escasso. Assim, as faixas que encerram o álbum acabam sendo menos ouvidas, talvez até negligenciadas. Mas não abdico da possibilidade de ouvir o disco inteiro.

Estou falando disso pois percebo que cada vez menos gente tem interesse em ouvir discos inteiros. Mesmo gente que ama música, discute, pesquisa, conhece e tudo mais. As playlists temáticas ganham espaço em detrimento dos discos. Voltamos à lógica do single, da música avulsa se sobrepondo ao conceito fechado de um álbum. Só para variar, me sinto completamente anacrônico nesse mundo novo.

Eu ainda acredito em artistas que pensam o disco fechado, como uma obra inteira. Então, só tem sentido se ouvirmos o álbum completo e as faixas naquela ordem. Pois uma música está encadeada na outra até a última. Se o artista acertou a mão ou cometeu um equívoco, é outro debate. Depois de fazer a audição dessa forma é que você pode ter elementos para construir a crítica. Antes disso, é precipitação e uma análise que não se debruça sobre aquilo que de fato o artista pensou.

Essa geração shuffle não consegue imaginar a amarração de uma obra de arte e tem sua reflexão naturalmente fracionada. A dificuldade de ver o todo vem daí, dessa impossibilidade de observar que a obra completa tem um sentido único que só se materializa quando todas músicas são ouvidas naquela ordem específica. Quando escutadas de forma aleatória ou separadas, podem até se mostrar grandes canções, mas que não atingem aquele fim maior.


Por exemplo, Time do Pink Floyd é uma excelente música independente da forma como for ouvida. Contudo, ela só se realiza na plenitude quando escutada encadeada dentro do Dark Side of the Moon. A mesma coisa com With little help from my friends dos Beatles no Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band e Pinball Wizard do Who no Tommy. Outro disco que só faz sentido se ouvido inteiro é o Rust Never Sleeps do Neil Young. E digo mais: esse aí só se realiza quando você ouve o vinil. Trata-se de um álbum ao vivo, onde o lado A mostra a faceta acústica e contemplativa do bardo canadense, enquanto o lado B vem com a fúria das guitarras distorcidas como ele tão bem faz.

Então, se me chamar para ouvir um som, saiba que eu tenho critérios. Ou seja, sou bem chato. Venha com discos e não com listas, por favor!


Comentários

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  • 26.01.2012 01:15 eduardo

    é claro que vc no vai ler, mas td bem. Um crítico de música falando sobre o álbum do Mick Jagger - SuperHeavy: "Com uma sonoridade multifacetada e disposta a estabelecer uma ponte musical e, por que não dizer, "pancultural", entre a Jamaica e a Índia, a turma fez um disco que precisa ser ouvido do início ao fim, na ordem das faixas no CD, para que tudo faça sentido em sua cabeça. É pop dos bons!"

  • 25.01.2012 06:48 Ricardo Aug

    Achava que essa "neura" de escutar o disco inteiro era só minha... rs ... ainda bem que ainda existem pessoas que param pra isso! Se for vinil então aí que a neura é maior, talvez por isso que o vinil do TRIVOLTZ que lançamos em 2010 não foi tão aceito, criticado e comentado na rodinha da geração shuffle mas é a vida... resultado de tudo isso é que em 2012 vamos lançar outro vinil mais ainda conceituado pra que poucos gostem... e viva o VINIL!!

  • 24.01.2012 01:49 Flávia Cristina

    Realmente esse nosso maravilhoso mundo novo nos priva de determinados prazeres e acabamos priorizando as coisas...

  • 24.01.2012 11:36 Pedro

    Caro, já viu o dvd do Rust Never sleeps? É coisa de loco. Uma encenação das boas.

  • 23.01.2012 05:47 Diego Veríssimo

    Eu não só ouço um disco inteiro, como ainda acompanho as letras, seja por encarte, quando em vinil ou CD, ou por sites como o "letras" ou "azlyrics". Pesquiso o processo de criação do disco, e assim por diante...

  • 23.01.2012 05:21 Laysson

    Interessante o texto. Essa relação de entendimento fracionado, tenho observado também nos diálogos. Vejo as pessoas com dificuldades em entender um parágrafo ou mesmo um texto, e aí dividem os parágrafos respondendo frase por frase. Me lembro que havia estudo de coesão e coerência nas aulas de redação, mas creio que estes conceitos se perderam em diversos aspectos nessa geração shuffle.

  • 23.01.2012 03:18 Vitor Hugo

    Eu vou além meu caro, para se escutar um disco inteiro é preciso entender a mensagem. Como tu mesmo disse, Time só tem contexto se tu escutar todo o Dark Side of the Moon. Temos muitos artistas que tu pega o cd ou lp e vê que até o set list dos caras é super fragmentado, ou seja, vai em concordância com esse "shuffle". Pior, pegue um cd de qualquer banda por aí que tenha uma música de amor e pergunte: "você conhece a banda tal? Quais músicas?", terá a mesma resposta na maioria dos casos. Problema geracional ou não, fato é, continue escutando os discos por inteiro e se possível, passe adiante esse "ideário". Gerações começam e terminam. (o do neil young não terei como escutar em vinil, não tenho vitrola).

  • 23.01.2012 03:12 Dj Múcio

    Ótima a matéria do grande amigo musical, Pablo Kossa! Eu ouço! Inclusive ainda exercito a rotina de limpar o LP do Lado "A" primeiramente, colocar na agulha, ouvir até chegar no selo do vinil, pra depois repertir a sequência do Lado "B". * Outro álbum indispensável para se ouvir inteiro é o Thick As A Brick (1971) do Jethro Tull. Ele foi escrito por Ian Anderson e gravado como uma história única. Por isso ele é uma obra singular, dividida em duas partes de 30 minutos cada. Fica a dica! Abraço musical!

  • 23.01.2012 11:44 fabricio Cavalcante @fabriciocava

    Assino em baixo em cada uma das frases escritas por você meu caro. Disco é igual obra de arte na minha opinião. Nunca entendi uma pessoa que curte ficar ouvindo "só o sucesso, o hit". Purista, eu sou!

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