Ontem, na quarta-feira de cinzas, enquanto rolava aquela sempre pitoresca apuração das notas das escolas de samba do Rio de Janeiro (tem algo mais singular do que a voz daquele locutor? Meu bom Deus...), tive uma espécie de epifania: minha vida é boa demais. Uma circunstância de momento muito particular me levou a pensar isso. Só que, no mesmo instante, já pintou uma contra reflexão que me colocou em cheque: será que minha vida é boa mesmo ou sou muito bobo alegre? Naturalmente, a segunda opção se mostrou mais pertinente...
No meio desse devaneio, comecei a listar as coisas que são capazes de me deixar feliz de forma imediata. Sem intermediários, sem delongas. É acontecer e, pimba!, uma alegria sincera e contagiante surge no peito. Simples e, como já disse, meio bobo. Mas preciso dizer que prefiro ser bobo assim do que aquele reclamão contumaz. Pessoas que não conseguem nunca ficar de boa são difíceis de aguentar.
Gente que é bonita, tem uma família ótima, pega um monte de gente também bonita quando quer, viaja para a gringa, vai aos shows mais legais, mora onde sempre sonhou e, mesmo com tudo isso nas mãos, faz questão de manter o baixo astral. Esse mau humor contínuo funciona como uma espécie de medalha, um orgulho que a pessoa precisa carregar para se sentir mais honrada perante a média. Uma bobagem. Além disso, inteiramente sacal para quem está ao seu lado. Não sou assim. Qualquer coisa boba me alegra e estou satisfeito dessa forma. Olha como a lista de pílulas de efeito instantâneo de alegria que agem no meu humor é extensa:
- Sorriso de criança (se for de minhas filhas, pode decuplicar);
- Lua bonita no céu;
- Vinho que emana cheiros indescritíveis;
- Jimi Hendrix tocando guitarra;
- Conversa de madrugada em boteco vagabundo com gente que amo;
- Árvore florescendo;
- A abertura dos Simpsons;
- Gol do time do coração;
- Uma bela garfada de comida gostosa;
- Cerveja matutina com o jornal dominical após o café da manhã;
- Música que gosto quando toca no rádio e me surpreende;
- Conviver em família;
- Ter amigos de cumplicidade;
- Dirigir sem trânsito e sem horário para chegar ao destino;
- Mar, rio, cachoeira, córrego ou lago;
- Livro que não consigo largar antes de terminar;
- X-Tudo de esquina com muita maionese;
- Céu azul da cor do mar;
- Nadar;
- Viajar em boas companhias;
- Viajar sozinho;
- Assistir bons filmes deitado no sofá;
- Chegar em casa e brincar com o cachorro;
- Acordar sábado pela manhã e não saber o que almoçar;
- Sonhar com a aposentadoria tranquila.
Eu poderia ainda listar mais dezenas de itens que conseguem me deixar feliz. Mas, como dá para ver, não sou muito exigente e prefiro seguir a feliz sina do bobo alegre do que trilhar o triste caminho do reclamão de internet. Sem medo de parecer (mais) estúpido.