Eu estava assistindo a semifinal da Taça Guanabara entre Flamengo e Vasco na última quarta-feira. Estava sozinho na sala, deitado no sofá. Mulher e filha já estavam em seus respectivos quartos. O jogo estava, na verdade, um jogão. Coisa emocionante de assistir. Lá e cá, boas chances para os dois times, goleiros pegando muito. Quando aconteceu o lance fatídico que marcará essa partida para sempre. Léo Moura cruzou a bola rasteira da direita que passou por baixo do arqueiro vascaíno e o centroavante rubronegro, debaixo do travessão, conseguiu perder o gol. Deivid resvalou na bola que, caprichosamente, resvalou na trave. Uma pintura. Só que ao contrário. Na hora, achei que o bandeirinha tinha invalidado o lance por impedimento. Mas não. Foi um erro mesmo. Grotesco, para dizer o mínimo.
Eu sou torcedor do Goiás. E tenho uma simpatia histórica pelo Flamengo. Na hora, não fiquei muito nervoso pois estava eletrizado com o excelente primeiro tempo. Não achei que seria algo tão significativo assim para a partida e, muito menos para a carreira do cara. Só para variar, me enganei redondamente. Quando vi que a torcida do Vasco gritava o nome do atacante, percebi que a proporção do gol perdido tinha crescido. O assédio gigante dos repórteres no intervalo em cima do camisa 9 foi outro dado relevante. Quando Deivid foi substituído, a torcida cruzmaltina o aplaudindo deu mais robustez ao fato. O resultado final do jogo, com a vitória vascaína com um gol de diferença e eliminando o arquirrival foi a cartada final: a carreira de Deivid será para sempre marcada por esse tento inacreditavelmente perdido.
A repercussão no dia seguinte foi implacável. Em tempos de Twitter e Facebook em altíssima cotação, já viu, né... As piadinhas bombaram nas redes sociais, como não poderia deixar de acontecer. E o Deivid se transformou no novo saco de pancada da chacota nacional. De agora em diante, toda vez que alguém perder um gol mais que feito será chamado de Deivid. Ele inaugurou uma nova categorização do futebol. Agora, meu amigo, já era!
Deivid sempre foi um jogador de médio para bom no futebol brasileiro. Teve boas passagens pelo Santos, Corinthians e Cruzeiro. Jogou na gringa. Chegou ao Flamengo pelas mãos do Zico para cumprir um papel que sempre foi ingrato no clube: o centroavante camisa 9. Não é uma função de nobre tradição dentro do clube, diferente dos meias, laterais e goleiros – posições que o torcedor flamenguista sempre contou com os melhores. Se lembrarmos que já jogaram pelo time Nunes (que perdia muitos gols e, quando marcava os vários que fez, não eram de placa), Gaúcho, Souza, Obina, entre outros que não me lembro agora, veremos que Deivid está na média.
Mas nenhum desses errou um gol tão feito contra o Vasco em um jogo decisivo. Isso tem um preço alto. E Deivid vai pagá-lo. Em sua honrada entrevista coletiva concedida um dia após o jogo, ele mostrou que tem consciência disso. Mostrar a cara se mostrou uma atitude de extrema hombridade, mas infelizmente é pouco para minimizar a piada pronta que foi o gol perdido.
Deivid, foi mal, mas você já está na história do futebol brasileiro. Uma pena que por um motivo tão vergonhoso.