-
16.01.2018 14:32 Flávia
Eu não assisti ainda. Mais um filme na minha lista de filmes para assistir!!! Adorei!!! Parabéns!!!
Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.
Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com
Goiânia - Alain Resnais, um dos maiores diretores do cinema, revela-se um hábil traquejo para construir sua arte por meio de uma teatralização das relações humanas perpassando por temas que remetem ao tempo e à memória, concatenando as mais distintas expressões artísticas para lograr seu espaço e esboçar uma estética sublime para contar suas histórias e demonstrar toda a sua perspicácia no que tange ao pleno domínio de suas técnicas cinematográficas e uma encenação inesquecível.
Da profusão de sentimentos irrompe um melodrama que versa sobre o amor, a amizade e a traição embalada em uma ode à arte recheada de citações e referênicas em Melodia Infiel (1986). Há um trio de personagens que norteia o andamento da narrativa que se passa em Paris da década de 1920. Pierre (Pierre Arditi) e Romaine (Sabine Azéma) são casados e felizes, mas a presença de um velho amigo de Pierre, o maestro Marcel (André Dussolier), desencadeará uma paixão irrefreável entre este e Romaine.
Não há como deixar de mencionar a cena em que prenuncia a propensa traição que de fato ocorrerá posteriormente a ela. Romanie seduz o maestro enquanto ela apresenta suas qualidades musicais dedilhando o piano e extraindo uma bela melodia enquanto ele a acompanha com o violino. Este evento será determinante e, a partir dele, é possível inferir imediatamente que a traição se consumará. A elegância formal com que Resnais burila sua obra é de uma força impressionante e corrobora o talento incorrigível deste mestre na consecução de uma obra colossal e de representatividade singular no contexto cinematográfico.
Os amantes enamorados passam a se encontrar às escondidas assiduamente, mesmo quando Pierre se encontra enfermo. Ao passo que a chama da paixão se acentua, Romaine não suporta a ideia de abandonar o marido, e acaba por medicá-lo de modo errôneo dando-se a impressão de que ela almeja a morte de seu marido servindo como uma espécie de passaporte para que possa se jogar aos braços de Marcel. A melodia surge num outro momento crucial em uma deslumbrante sequência de um baile de tango em que Marcel e Romaine dançam e Pierre demonstra-se incomodado o que acende um sinal de alerta.
É estrondoso o trabalho de Resnais na direção e na composição de cada plano, muito bem pensado e elaborado, sendo que é impossível sobreviver incólume à sua veia artística que apresenta um valor inigualável. A cortina vermelha do início remete à ideia do teatro, muito presente na obra do diretor e que delineia bem a divisão da película em atos distintos. Resnais transita entre a memória e o tempo erigindo uma obra que se mescla com estes substantivos para, não somente apresentar a história destes personagens, mas para que nem mesmo o tempo e as vicissitudes da vida sejam capazes de apagar a memória de sua arte.