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Memórias e receitas de Nádia Köller

Ana Christina da Rocha Lima publica livro com resgate histórico pessoal

Autora quer que ensinamentos sejam repassados | 15.07.18 - 16:00 Ana Christina da Rocha Lima publica livro com resgate histórico pessoal Ana Christina da Rocha Lima (Foto: Mônica Parreira/ A Redação)
Yuri Lopes

Goiânia
- O livro Nádia Köller - Memórias e Receitas de Goyaz, de Ana Christina da Rocha Lima, não é um livro de receitas, de histórias de mulheres ou de resgate histórico da família e da cidade de Goiás; é tudo isso ao mesmo tempo. Em entrevista ao jornal A Redação, a autora contou sobre o processo criativo, do orgulho em retratar alguém da própria família que merece ser conhecida pelos outros por ser uma pessoa interessante e com muito a ensinar.   


O nome que dá título à obra foi o nome social adotado futuramente por Agnaldo Fleury da Rocha Lima, nascido em corpo de homem em 16 de agosto de 1932, na cidade de Goiás. “Se o registro do cartório certifica o nascimento de Agnaldo Fleury, o caderno de receitas certifica o nascimento de Nádia Köller, pois já em 1967, aos 35 anos, assinava o nome nas receitas, sem explicação”, cita Ana Christina na apresentação do livro.   


Perguntada sobre como definiria o livro, Ana Christina explicou a complexidade das questões abordadas na obra. “Esse livro não é apenas um livro da minha família ou de um grupo de mulheres,  ele é de todos nós. Uma coisa não pode ser particular, porque se for particular ela não funciona. Tem que tocar uma coisa do universal, e a intenção do livro é que seja de cada um”, relata a autora, destacando que há uma parte dedicada ao estímulo à autoria, para anotações das próprias receitas, releituras de outras. 

Motivação
Ana Christina explicou que a ideia do livro começou de forma inesperada e que depois a experiência se tornou algo importante para o aprendizado pessoal. “Esse projeto meio que foi acontecendo e eu só tive noção mesmo depois que já estava pronto. Sempre tive paixão pela cozinha, que era o centro da casa que eu cresci, com mais de 20 pessoas. O cheiro e as lembranças ficaram impregnados em mim. Minha avô fazia as receitas, mas quem as registrava era a tia Nádia. Quando minha avó faleceu o livro ficou com a tia Nádia, e quando ela morreu, foi repassado para mim e eu não soube o que fazer com ele, mas entendi que deveria ser guardado de uma forma diferente”, diz.   


“Fiz o projeto do livro, que foi aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado de Goiás (Lei Goyazes). Quis contar a história da Nádia, mas também queria que as mulheres citadas no livro dela aparecessem. O livro original já era de certa forma um registro. Tem receita do início do século 19, como o pudim de pão. Acredito que a comida é uma das facetas mais importantes da cultura, ela guarda a infância, e isso é muito importante”, resume.   

Para Ana Christina, um dos objetivos de publicar o livro é poder mostrar, registrar e homenagear essas mulheres que faziam parte de uma rede de amigas da Nádia. “Fui para Goiás, comecei a conversar com elas e seus familiares e senti que estava fazendo uma homenagem à minha própria história. São mulheres comuns e ao mesmo tempo únicas”, lembra a autora, que foi para Goiás e ficou por vários dias refazendo as receitas e relembrando o cheiro da cozinha da casa onde cresceu.   


Ana Christina explica que o prazer em escutar as histórias que foram contadas no livro podem ter relação com a psicanálise [a autora é psicanalista, ilustradora, designer e artista transmídia]. “Essa coisa de gostar de ouvir histórias tem muito a ver com a minha prática no consultório. Conhecer cada um dentro das diferenças. Aprendi muito isso com a Nádia, ela olhava as pessoas”. 

Resposta positiva
“Depois que o livro saiu eu fiquei muito surpresa com o retorno e o carinho que recebi das pessoas. Teve um momento que eu contei no livro, sobre um sonho que tive onde a Nádia estava na minha casa, chegou na janela e me jogou um beijo. Toda vez que alguém me dá um retorno eu penso que recebi um beijo dela”.   

Ana Christina reconhece que muito do que está no livro resultou da influência recebida por Nádia. “Eu digo que tenho três pessoas na minha vida, que são meu pai, minha mãe e a tia Nádia, que também era mãe e pai, pois ela era muito carinhosa, muito brava, criativa. Ela me adotou e eu a adotei”.   

Nádia compartilhada
Ana Christina conta que uma história como a da tia não poderia ficar restrita apenas a seus familiares e amigos. “Agora que o livro foi publicado essa história não é mais só minha. É por isso que eu prefiro não chamá-la de tia, a chamo de Nádia, pois pareceria que ela era minha, e eu acredito que ela é de todo mundo que pode aprender alguma coisa com ela”, comenta.   

Registro e resgate histórico
Uma obra que inicialmente pode parecer apenas um livro de receitas, é contextualizado pela autora como uma obra baseada em três pilares. “O registro histórico é essencial pois é a partir dele que tem um resgate e a coisa da difusão. Essa receita deixa de fazer parte de um período, de uma família e de uma cidade e vai para o mundo”.   

Livro para ser usado
O capricho com todas os detalhes envolvendo o visual do livro é creditado pela autora ao vários parceiros envolvidos na produção da obra. “Nós fizemos um trabalho bacana porque eu encontrei pessoas que acreditaram no projeto. O livro hoje é um objeto de arte, já que está fácil ler qualquer coisa pela internet. Eu acho que livro tem que ser lindo. Quando fui fazer o projeto pensei no livro como uma reprodução de um caderno de contas, já que a Nádia fazia o registro financeiro da família”, revela Ana.   

Distribuição independente
O livro pode ser encontrado em pequenas livrarias, pontos de venda em Goiás, no Restaurante Flor do Ipê, no Café Jasmim e nas Mulheres Coralinas. Em Goiânia a obra pode ser adquirida na Livraria Palavrear, além de e-mail (ana@anadehelios.com) e pelo telefone (62) 981122863. Ana Christina também vende seu livro pelo site aqui e conta que muitas vezes os clientes pedem para que ela escreva dedicatória. “É uma venda, mas às vezes parece presente”, diz. 

Herança valiosa
Ana Christina fez questão de contar a importância da citação de Freud citando Goethe, sobre a herança, que está no começo do livro: Aquilo que herdastes conquista para tê-lo como seu. “Antes de escrever o livro eu não tinha noção tão profunda do significado disso. Essa coisa da herança ser conquistada eu acredito que é um dever que cada um tem. Quando se herda uma coisa emocional essa é uma herança que precisamos identificar e depois fazer algo de interessante com isso. Se alguém faz parte de uma linhagem, se tem um sobrenome importante, ela deve ser interessante, importante para poder merecer esse reconhecimento. Não acho legal se escorar nos ombros de quem fez, acho que a pessoa tem que produzir. É produzindo que eu acredito que se conquista a herança. A Nádia já deu a contribuição dela, agora é a minha vez”, comenta.   

A entrevista é encerrada com uma conclusão honesta e merecida feita pela autora. “Eu acho que tentei aqui merecer a herança que a Nádia me deu”. 

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