Goiânia 86 anos: Influências art déco que nortearam a construção da capital

Passeio pela história

"Elegemos um representante de cada uma dessas áreas fundamentais da cidade: o portal de chegada, que é a estação; a administração, que é a própria natureza da cidade, representada pela antiga delegacia fiscal; a infraestrutura da cidade, destacando o recebimento dos visitantes, que nesse caso é representada pelo Grande Hotel; o entretenimento, com o Teatro Goiânia; e a educação, representada pelo IFG", Lista Wolney Unes. 

 

A Estação Ferroviária de Goiânia, assim como outros prédios públicos construídos entre 1930 e 1950, acabaram inspirando construções futuras. Grande parte dos edifícios particulares no centro de Goiânia seguem a tendência art déco, que ainda hoje constitui maioria em algumas áreas dos setores Central e Campinas.
 

Bilheteria da antiga Estação Ferroviária (Foto: Wolney Unes)

 

Inaugurada na década de 1950, assim como todas as demais estações no trecho de 95 km entre Leopoldo de Bulhões e a capital, a Estação começou a receber trens de cargas e passageiros da Estrada de Ferro Goyaz em 1952. Em razão da construção da rodoviária da cidade e a continuidade da Avenida Goiás, o pátio ferroviário foi levado para Senador Canedo, nos anos de 1980. 
 

(Foto: estacoesferroviárias.com)

Chamada atualmente de Estação Cultura, o espaço recebe exposições diversas e oferece serviços do Atende Fácil, galeria de artes e um Centro de Atendimento ao Turista, além de um posto da Guarda Civil e painéis do artistas Frei Confaloni, que ficam instalados permanentemente no local.
 

Painéis do Frei Confaloni (Foto: Wolney Unes)

Para Wolney Unes, a estação foi um importante instrumento na construção e crescimento da capital goiana, entrelaçando histórias de muitas famílias de Goiânia e de outros lugares.

"Dezenas de milhares de pessoas passaram por ali [Estação Ferroviária] quando chegaram em Goiânia como imigrantes nos anos de 50 e 60, que foi justamente a época de maior crescimento da cidade. Naquela época não tinha rodovia, então as pessoas chegavam de trem", explica ao destacar que o local foi o "portal de chegada, o acesso e a ligação da cidade ao resto do mundo".
 

(Foto: Adriano Carvalho)
 

 

Recentemente, o prédio da Antiga Delegacia Fiscal passou por um processo de restauração, que buscou enfatizar e resgatar os aspectos mais positivos do edifício e dar a ele um novo uso, compatível com a sua importância para a memória e história da cidade. Além das áreas técnica e administrativa, a nova casa do Iphan no Estado de Goiás irá abrigar espaços para eventos e exposições.
 

(Foto: Iphan-GO)

 

Está em execução a quarta e última etapa da obra: o novo anexo, que terá auditório, salão de exposição e espaço de eventos para atender às atividades do Iphan-GO e de seus parceiros. Com a construção desse anexo, o edifício passa a ter dois acessos: pela Rua 82 e pela Avenida Araguaia. No recuo da Avenida Goiás, será resgatado o jardim externo de modo a criar uma ambiência entre o edifício e a via pública. Todas as etapas de intervenção foram realizadas com recursos do Iphan-GO. A previsão é que a obra seja entregue ainda neste mês de outubro.

"O espaço está localizado no Centro da cidade e tem a questão da apropriação do local, que era o funcionamento da cidade em si. As pessoas iam procurar os serviços lá", frisa Unes. 
 

(Foto: Iphan-GO)

 

O Teatro Goiânia fica situado na Praça Joaquim Câmara Filho, no centro de Goiânial. Ele integra o conjunto arquitetônico do início da capital. Trata-se de projeto do arquiteto Jorge Félix, que o concebeu em estilo art déco. Sua construção teve início em 1940. Foi inaugurado durante o Batismo Cultural de Goiânia, no dia 12 de junho de 1942, como Cine-Teatro Goiânia pelo interventor Federal no Estado de Goiás Pedro Ludovico Teixeira.
 

(Foto: Hélio de Oliveira)

 

A estreia do Cine-Teatro Goiânia foi marcada por importantes espetáculos. Foi apresentado o filme Divino Tormento, com Jeannette McDonald e Nelson Eddy, e na mesma semana se apresentou a maior empresa de comédia brasileira à época – a Companhia Eva Todor, que levou a peça Colégio Interno, de Ladislaw Todor. A atriz Eva Todor foi convidada pelo então prefeito Venerando de Freitas Borges para inaugurar profissionalmente o Cine-Teatro Goiânia.
 

(Foto: Divulgação/Teatro Goiânia)
 

O Cine-Teatro Goiânia foi projetado pelo arquiteto Jorge Félix, nascido na Cidade de Goiás. Professor, engenheiro, arquiteto e urbanista, ele elaborou o espaço da planta construtiva de um navio, espacial em sua dimensão, com elementos que se lembrassem escotilhas, proa, popa, convéns e linha de flutuação. Era comum à época edifícios do estilo art déco, misturando elementos de estrutura fórmicas.
 

(Foto: Wolney Unes)

O teatro, que ainda é um dos espaços culturais mais tradionais de Goiânia, recebe atrações culturais diversas que agradam os mais variados públicos da capital. 
 

(Foto: Josemar Callefi)

"A cidade foi fundada em 1933 e só 9 anos depois foi batizada. Então, assim como a pessoa, que teoricamente só ganha alma no momento em que é batizada, a cidade só passou a existir, de fato, no momento em que se inseriu no circuito cultural, contando com o equipamento urbano que é o Teatro Goiânia, que foi o primeiro espaço cultural da cidade," diz Wolney Unes.
 

(Foto: Divulgação/Teatro Goiânia)

 

O Grande Hotel foi inaugurado em 23 de janeiro de 1937 na região que mais tarde se tornaria o Setor Central. Sua construção foi iniciada em 1935. 
 

(Foto: acervo Wolney Unes)

O espaço, atualmente, funciona como um dos polos culturais de Goiania e abriga projetos da Lei de Incentivo à Cultura, como mostras de artesanato. Grupos da terceira idade às vezes usam o espaço par a promover oficinas de música e dança. O Grande Hotel também abri o famoso "Chorinho", que acontece, normalmente, às sextas-feiras.

"O Grande Hotel recebia os visitantes e pessoas que vinham trabalhar em Goiânia. Foi o primeiro prédio construído aqui e serviu como apoio e logística para desenvolvimento da capital", explica Unes. 
 

(Foto: aproveiteacidade.com)

 

Além de ser palco histórico do Batismo Cultural, o que chamamos hoje de Câmpus Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG) faz parte da memória arquitetônica de Goiânia. Em 2003, parte de sua estrutura foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como um bem isolado e edifício público que compõe o acervo arquitetônico e urbanístico art déco da cidade de Goiânia.
 

IFG Campus Goiânia (Foto: IFG)

O tombamento se deu na época em que a instituição era chamada de Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás (CEFET – GO), mas refere-se a edificações erguidas na época em que era Escola Técnica de Goiânia e, depois, Escola Técnica Federal de Goiás. Além do pórtico alusivo ao Batismo Cultural de Goiânia, outros espaços também foram tombados pelo Iphan.
 

(Foto: acervo Wolney Unes)

 

O pórtico alusivo ao Batismo Cultural de Goiânia foi tombado em 2003 e integra o acervo arquitetônico e urbanístico art déco da capital. O monumento alusivo ao Batismo Cultural de Goiânia passa por obras de restauro, que, segundo o arquiteto responsável por conduzir as obras, Luiz Botosso, já passou pelas etapas de levantamento arquitetônico, com mapeamento dos danos sofridos pelo bem e diagnóstico dos elementos estruturais (a laje) através de exames técnicos. Agora é feita a proposta de restauro de todo o pórtico.
 

(Foto: Adriano Carvalho)