Théo Mariano e Lucas Cássio
Goiânia - O asfalto quente e os prédios acinzentados, levemente desbotados, ganharam destaque nos entornos das Ruas 3 e 8, no Centro de Goiânia. O dia amanhecia normal, comum, acalorado e movimentado. Gigantescas paredes coloridas, no entanto, passaram a reluzir cores brilhantes e imponentes chamando a atenção de quem passa pelo Setor Central. Estavam ali, parados e grandiosos, dois novos murais de grafite, que agora estampam prédios da região.
"Geraldinho", do grupo Bicicleta Sem Freio, e "Andança", de Wes Gama (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
A autônoma Kesia Aparecida, que tem o hábito de passar pelo local, foi enfática: "Mudou a cara do Centro". "Quando vi as pinturas fiquei impressionado pela beleza da arte e pelo contraste. Ultimamente, por conta de algumas obras na região, o que se vê é concreto, além das fachadas e propagandas que tiram a beleza natural do Centro.”
Ela fez votos, em entrevista à reportagem, de que a inicitiva sirva de incentivo para criação de outas artes variadas. "O Centro pode se tornar uma galeria a céu aberto democrática. Na região já tem algumas galerias do tipo, como o beco da codorna e na própria rua do lazer. Mas a forma com que a arte foi exposta nas paredes dos prédios, dá uma visibilidade maior para esse tipo de cultura”, afirmou.
Já o estudante de engenharia Ambiental, Italo Vieira, opinou que nunca se viu murais artísticos dessa grandiosidade na região central de Goiânia. “O centro está precisando disso, precisando valorizar mais a arte e trazer mais alegria”, disse. “Estamos acostumados a ver sempre as fachadas das lojas e propagandas. Esse tipo de arte muda a energia da cidade”.
O estudante destacou que, por meio da arte, é possível fazer com que as pessoas reflitam sobre problemas atuais. Ele citou o mural do manifesto urbano, que levanta questões importantes sobre o meio ambiente. “Se plantamos árvores, teremos água de qualidade no futuro”, disse sobre sua interpretação do mural.
Andança
O autor Wes Gama afirma que sua obra "Andança" aborda “o problema da sociedade global é que as pessoas não compreendem que somos parte da Terra, que somos um organismo vivo”. “A relação com a água, a terra, as plantas, a qualidade do ar, esse é o ponto principal. O que vemos é uma sociedade que enxerga essa extensão do nosso corpo, como recurso a ser explorado, a gente vê ai a mineração, o agronegócio e o desmatamento, as usinas e garimpos, as invasões nos territórios, os rios secando, o ar poluído, e o pior, as pessoas vivendo para alimentar um sistema baseado em lucros e desigualdades”, prossegue.
“Em minhas obras busco representar os povos e culturas que tem uma relação de equilíbrio com todo esse organismo Terra que somos, e são esses povos que resistem e ainda lutam para um modelo de sociedade sustentável e socialmente justo”, conclui o artista.
"Andança", obra de Wes Gama (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
A idealizadora do projeto, Larissa Pitman, que é geógrafa e produtora cultural, explicou ao jornal A Redação que a pintura “Andança”, assinada pelo artista Wes Gama, foi uma iniciativa para trazer “valorização desta arte em Goiânia”. “Durante quatro anos como produtora de arte urbana, percebi que muitos artistas migraram para o eixo sudeste ou até para fora do país em busca de maior visibilidade e oportunidades de pintar em novos projetos”, acrescentou.
"Andança", obra de Wes Gama / (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
A obra de Wes Gama está localizada no Edifício Alencastro Veiga, na Rua 3. “Tanto síndico quanto os moradores entenderam o conceito do projeto, pois a obra não é apenas para o prédio, mas uma doação à cidade”, continuou a idealizadora. “O edifício possui uma localização privilegiada e estratégica para execução do projeto devido a visibilidade em vários pontos do centro.”
O gigante Geraldinho
Pouco antes do mural de Wes Gama, quem passa pelo Centro também nota outra pintura exuberante. Esta é a representação do contador de causos Geraldinho Nogueira, feita por artistas do Bicicleta Sem Freio, Douglas Pereira e Renato Reno. Segundo os artistas, a obra é fruto de uma ação publicitária, que será lançada nos próximos dias, em parceria com uma marca de cerveja.
"Geraldinho", do grupo Bicicleta Sem Freio / (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
Geraldinho é uma das marcas da história de Goiás. O comediante nasceu em 18 de dezembro de 1913, em local onde atualmente é o município de Bela Vista. Sua trajetória como contador de histórias ganhou destaque no programa Frutos da Terra, após ser descoberto por produtores do show enquanto narrava seus causos engraçados, em um bar de onde morava.
A partir dos televisores, a sua carreira migrou para teatros espalhados pelo Brasil. Apenas 18 dias antes de completar 80 anos, Geraldinho se foi e deixou aos que ficaram as reverberações de tantas histórias.