José Abrão
Goiânia – A pandemia de covid-19 afetou negativamente a vida das pessoas. O aumento do desemprego revela como o mercado de trabalho, além da saúde, foi drasticamente impactado, especialmente fora do âmbito dos serviços considerados essenciais. Muitos profissionais liberais foram dormir um dia com a agenda cheia e acordaram na manhã seguinte sem perspectivas. Entre os mais afetados, estão os fotógrafos.
Com a pandemia, todas as especialidades que recheavam o mercado, especialmente eventos sociais e esportivos, assim como fotografia publicitária e de moda, foram paralisadas inteiramente ou, em certos lugares, por longos períodos. Isto fez com que os profissionais tivessem que buscar alternativas para permanecer atuantes e clicando em meio à crise.
“A pandemia afetou demais, eu sempre trabalhei com fotografia de moda, para lojas, e com cobertura de eventos também, e minha maior parte da renda vinha de fazer fotos de festas”, conta Itas Pato ao jornal A Redação. Quando a pandemia começou, ele foi um dos que tiveram a agenda zerada.
Relativamente novato na carreira, Roberto Corrêa revela que o impacto foi repentino e total. A pandemia explodiu quando ele estava começando o seu segundo ano na fotografia profissional e logo quando começava a encontrar o seu lugar no cenário esportivo, especialmente no automobilismo, clicando a Copa Truck e a Stock Car.
Seu caso foi agravado por outro fator: as viagens. “Para acompanhar as corridas você tem que viajar bastante e aglomera muita gente, de diversas partes do país”, conta. “Passou a ter uma série de restrições para podermos trabalhar, como por exemplo, com extensa testagem. Você só pode entrar no autódromo com os testes negativos”.
Roberto Corrêa investiu seu tempo nos estudos e em trabalhos pontuais para equipes (Foto: Roberto Corrêa)
A mesma dificuldade foi sentida no Fotojornalismo. “Sempre se concentrou mais em coberturas de eventos, entrevistas e coletivas de imprensa. A pandemia paralisou meu trabalho”, conta a fotojornalista Letícia Coqueiro.
Driblando a crise
Todos os três profissionais tiveram que encontrar outro caminho para não abandonar a fotografia. Coqueiro encontrou uma alternativa migrando para a publicidade. “Eu consegui achar algumas alternativas que estavam mais em alta nesse momento, como fotografia corporativa, de alimentos, de ambientes, de produtos e outros”, explica.
Pato, por outro lado, mergulhou na fotografia artística alinhada a ensaios pessoais por encomenda. “Eu me dediquei a criar trabalhos autorais, produzir para mim, para mostrar para prováveis clientes o que eu conseguia fazer”, disse. Ele conta que os primeiros ensaios ele fez com amigos no quintal de casa para montar um portfólio que pudesse atrair possíveis clientes. A estratégia funcionou. “Tenho feito ensaios pessoais em sua maioria, clientes que gostam do resultado das minhas fotos e querem fazer algo diferente”.
Corrêa, de repente com muito tempo livre nas mãos devido ao cancelamento de eventos, encontrou o caminho se ligando a esta ou aquela equipe. Mas, a maior parte do tempo, passou a estudar, cursando uma especialização em fotografia pela Universidade Federal de Viçosa. “Fiquei estudando e esperando as corridas. É o que eu estou fazendo até hoje”, disse, “pego alguns serviços com as equipes fotografando oficinas ou a montagem dos carros para os campeonatos esse ano”.
Ainda assim, mesmo com todo o esforço dos profissionais, os trabalhos são minguados. Os três fotógrafos ouvidos pela reportagem relatam que as "vacas magras" estão longe de passar: os novos trabalhos são poucos e espaçados e são sempre afetados pela atual situação da crise e pelos decretos vigentes.
Letícia Coqueiro investiu na fotografia publicitária e para as redes sociais (Foto: Letícia Coqueiro)
Instagram em alta
Nesse momento de incerteza, a rede social fotográfica Instagram se provou um aliado tanto para fazer contatos com possíveis clientes quanto para divulgação do trabalho para montar portfólio. Pato, através do seu perfil @photitas, conta que consegue “tudo pelo Instagram". "Sempre vem alguém dizendo que viu meu perfil e gostou das coisas que eu faço”.
“A principal forma de ser visto no meio do automobilismo é pelo Instagram”, declara Corrêa. Ele agora tem três perfis: um pessoal, um artístico e um profissional. Com isso, @betocorreaphoto se tornou a sua principal forma de fazer contatos.
Letícia Coqueiro, porém, não era tão fã da plataforma. Mas como os trabalhos que foram aparecendo geralmente miravam as redes sociais e, principalmente, o Instagram, ele acabou se dedicando a estudar a plataforma. “O Instagram foi a plataforma que me inspirou quanto ao que buscar , já que a maioria das fotos são para serem usadas nele”, conta, “Eu tive que aprender novas maneiras de fotografar e comprar alguns outros equipamentos pra área por ser tão diferente”, finaliza.