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Noite dançante

Clube Cruzeiro fará baile para ajudar Nego-Ná

Evento será nesta segunda-feira (11/10) | 11.10.21 - 09:21
Jales Naves
Especial para o AR

Goiânia - Negro, simples, sem vaidade, não se preocupando com a aparência, Valdivino Feliciano de Jesus, 71 anos, conhecido como Nego-Ná, conseguiu projeção na sociedade goiana pelo seu estilo criativo e despojado de dançar. Tímido para determinadas situações, como buscar divulgação para seu trabalho, e desinibido em outras, como quando entrava nos salões, chamando a atenção pela forma como conduzia sua parceira, acabou criando diferenças com algumas pessoas, por causar inveja e não dar satisfação para suas ações. Meio desleixado, como gosta de comer e depois tirar uma soneca, criou uma barriga mais volumosa.

Essa extravagância na mesa, por comer muito e exagerar nos refrigerantes, trouxe alguns problemas para a sua saúde, nos rins, que pararam, e depois um câncer de próstata, emagreceu muito, submeteu-se a cirurgia no Hospital Geral de Goiânia, recuperou-se, o problema se alastrou para outros órgãos, e na semana passada ele teve consulta no Hospital Araújo Jorge. A médica preferiu não recomendar quimioterapia ou radioterapia no momento, pois ele está muito debilitado, em função da doença, e terá acompanhamento em casa nesses 30 dias, quando haverá uma nova consulta para definir a data da outra cirurgia.

Sensibilizado com a situação dele, a direção do Cruzeiro, clube de dança que fica na praça do Cruzeiro, no Setor Sul, decidiu realizar nesta segunda-feira, dia 11, a partir das 21h, uma noite dançante, para arrecadar recursos para o tratamento do Nego-Ná.
 
Vida simples
Valdivino aprendeu sozinho a dançar, um dom que foi esculpindo desde quando sua mãe o deixou, aos quatro anos de idade, interno no Preventório Afrânio de Azevedo, e ali aproveitava os bailes que realizavam para exercitar sua criatividade. Essa desinibição chamava a atenção, em especial das mulheres, que queriam dançar com ele, e assim foi criando um estilo próprio, a partir das músicas populares que ouvia, em especial das fitas e CDs que comprava ou ganhava. Um jeito mais descontraído e que agradava as parceiras, muitas das quais se envolveram sentimentalmente com ele. Não se casou e teve muitos filhos, que ninguém sabe quantos, ao certo, pois nem ele mesmo sabe.

Goiano de Paraúna, onde nasceu no dia 28 de outubro de 1949, caçula de mais dois irmãos, ele perdeu a convivência com os pais, Aristides Feliciano de Jesus e Ana Maria de Jesus, ainda criança, quando a mãe o internou, junto com Divina e Antônio, no preventório em Goiânia, no início dos anos 1950, onde eles estudaram até a quinta série, e não mais tiveram contato. Antônio tornou-se pintor, depois policial de trânsito e foi assassinado há tempos; Valdivino e Divina, hoje com 74 anos, moram perto um do outro e se veem com frequência.


Valdivino Feliciano de Jesus (Foto: divulgação)

Trabalhador e dedicado àquilo que faz, Valdivino sempre teve uma vida simples, que manteve nesse tempo todo. Aos 15 anos, quando fugiu do internato, arranjou um amigo, negro como ele e com o mesmo sobrenome, Ari de Jesus e apelido Nego Ari, que morava perto de onde se instalou, na rua P-38, no setor dos Funcionários, e passaram a trabalhar juntos, lavando carros na av. Goiás, atividade na qual permaneceu por muitos anos. Ari, hoje com 70 anos, aprendeu a pintar, e pinta até hoje, com o irmão do Nego Ná, que tinha o apelido de Antônio Banguela.

Valdivino teve uma única experiência fora de Goiânia, quando acompanhou uns amigos e foi trabalhar em São Paulo, como auxiliar de escritório, mas ficou apenas dois anos e voltou.
 
Dança criativa
Um dos melhores dançarinos goianos, que aperfeiçoou sua técnica nos palcos nos últimos 40 anos e formou grande parte dos profissionais que atuam hoje em Goiânia, Valdivino destacou-se numa segunda atividade, o karatê. Fã de Bruce Lee, estudou na academia de Pedro Mizukami e logo chegou na faixa preta, tornando-se um destacado lutador, que não rejeitava nenhuma disputa. Uma terceira iniciativa não deslanchou, que foi sua candidatura a Vereador em Goiânia, quando obteve boa votação, mas não se elegeu.

Sua história se concentra na dança, tendo passado por vários espaços e sempre aplaudido em suas apresentações.

Admiradora de Nego Ná desde criança, quando o viu dançar, pela primeira vez, no Aureliu’s, que funcionou no setor Garavelo, na divisa dos municípios de Goiânia e Aparecida de Goiânia, nos anos 1980/90, Adeluzia Aélia da Silva interessou-se pela dança de salão e decidiu aprender a bailar. Primeiro, economizou dinheiro e procurou a academia dele, mas não foi bem atendida no primeiro contato, e depois, quando o procurou nesse espaço e foi recebida por ele mesmo, a situação mudou. Enturmou-se e logo aprendeu todas as técnicas de rodopiar pelo salão com leveza e elegância, como fazem os grandes dançarinos.

Quatro lugares ficaram na memória do goianiense quando ele se instalou profissionalmente. O primeiro lugar foi a Alegria Alegria, que ficava na av. Tocantins esquina com a rua 3, no centro. Depois, no Bailão Gaúcho, no setor Oeste, que tinha seus bailes nas sextas-feiras e nos sábados a partir das 18h e até às 21h; a academia funcionava de segunda a quinta-feira, onde ficou por muitos anos. Em seguida, foi para a academia Hugo Nakamura, na av. Goiás; e, por último, na rua 8, no centro, que se chamava Oficina de Dança Nego-Ná. Considerando que as turmas são de 25 a 30 pessoas ou casais, nesses mais de 40 anos de dança foram formados, nos mais diversos estilos, em torno de mil pessoas e casais.


(Foto: divulgação)

A Oficina de Dança começou de uma maneira especial: ele conseguiu o espaço e o dono de um restaurante que ficava em frente decidiu vendê-lo; como não tinha o dinheiro necessário, seis mil reais, decidiu procurar um político para ajudá-lo, e obteve esse apoio com o Tatico, que era deputado federal. Como a gastronomia não era seu forte, foi vendendo as peças que comprou, o que lhe possibilitou organizar a academia.
 
Relacionamentos
O dom para dançar o aproximou de muitas mulheres, bonitas, e ele se relacionou com várias, sem assumir compromissos. Teve filhos, como Bryan Pablo, de 1991, coreógrafo, criado por Solange Maria da Silva, com quem Nego-Ná morou por 16 anos e se tornou a primeira mulher professora de dança em Goiás; Maxkristel, que mora em Barcelona, na Espanha, tem um lava-jato e dá aulas de dança; Caíque, filho com Cleide Félix, capoeirista; e Maxwell, que faleceu há algum tempo. Atualmente vive com Ana Luísa.

Convidado, ele teve chance de se apresentar na França, mas acabou não viajando.

Natural de Sanclerlândia, GO, onde nasceu em 1975, Adeluzia mudou-se com a família ainda jovem para Goiânia e começou a trabalhar cedo, aos 13 anos, em empresas concessionárias de veículos, na área de venda de peças e acessórios, onde ficou por muitos anos. Trabalhou na Pinauto e na Cevel. Devido a dificuldades de relacionamento com a mãe, deixou o emprego, ficou parada e conseguiu, quando estava se relacionando com Nego-Ná, nova ocupação, na área de seguros, na qual está até hoje. Os dois ficaram juntos por 12 anos, quando dançaram pelos mais diversos salões da cidade, mas não tiveram filhos.

Ela continua admiradora dele, que considera uma pessoa séria, honesta e solidária, “mas muito mulherengo”. “Nego-Ná tem bons princípios: não fuma, não bebe bebida alcoólica e não utiliza drogas”, concluiu.
 


Comentários

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  • 03.08.2022 08:01 Maurício Do Nascimento Freitas

    Embora as pessoas digam que não existe racismo, a história do Nego Ná , deixa essa evidência pela pouca divulgação de sua história, tive o prazer de participar de vários eventos onde o NÁ esteve, sempre carismático e um defensor da não violência como forma de repudiar o câncer chamado racismo. Seu falecimento não recebeu sequer uma nota de referência à uma vida dedicada a arte da Dança, externo aqui os Meus sinceros sentimentos de pesar que Deus console todos os entes e amigos... Obrigado NEGO NÁ por encantar várias gerações.

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