A Redação
Goiânia - O Conjunto Arquitetônico Art Déco e Urbanístico de Goiânia completa, neste domingo (11/12), 19 anos de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo.
Goiânia foi planejada e construída para ser a capital de Goiás, por iniciativa do político goiano Pedro Ludovico Teixeira. O projeto foi realizado em consonância com a Marcha para o Oeste, estratégia desenvolvida no final dos anos 1930, pelo governo de Getúlio Vargas, para acelerar o desenvolvimento e incentivar a ocupação do Centro-Oeste.
Para a arquitetura foi escolhido o estilo art déco, que serviu de inspiração para os primeiros prédios que foram erguidos entre as décadas de 1940 e 1950 em Goiânia. A capital do estado de Goiás foi projetada pelo urbanista Attílio Corrêa Lima.
Corrêa Lima criou o projeto da cidade e Armando de Godoy, o do Plano Diretor, inspirado na teoria das cidades-jardim, do urbanista inglês Ebenezer Howard. Inicialmente, foram abertas três avenidas principais (Goiás, Araguaia e Tocantins) que se juntam no Centro, onde foi erguido o Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual.
O superintendente do Iphan em Goiás, Allyson Cabral, explica que o conjunto foi tombado em 2003 e possui um conjunto de 22 edifícios e monumentos públicos. “Os principais estão concentrados, em sua maioria, no centro da cidade e no núcleo pioneiro de Campinas, antigo município e atual bairro da capital goiana”, completa. O Cine Teatro Goiânia e a Torre do Relógio da Av. Goiás se destacam entre o acervo arquitetônico, considerado um dos mais significativos do Brasil.
O superintendente adianta que no próximo ano será feito o lançamento do livro “Arquitetura Residencial em Goiânia - Décadas de 1930 a 1970”, por meio da parceria entre o Iphan, Universidade Estadual de Goiás (UEG), Universidade Federal de Goiás (UFG), Pontíficia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Ministério Público de Goiás (MP-GO) e Fundação de Apoio à Pesquisa (FUNAPE). A obra mostra um inventário de 217 residências e 38 edifícios espalhados pela capital.
Coreto da Praça Cívica
O Coreto, localizado na Praça Cívica, no início da Avenida Goiás, no Centro da capital goiana, é rico em detalhes da art déco goianiense. Na escadaria há um contraste entre elementos retos e circulares que se repetem nos bancos internos.
O início da construção do Coreto ocorreu entre 1940 e 1942 e a inauguração em 05 de outubro de 1942. O bem apresenta composição simétrica e elementos art déco e que também o remetem ao ecletismo, atestado pelas características do decorativismo que apresenta hoje e que já apresentou.
O Coreto apresenta o uso de novas tecnologias do período, como a laje plana esbelta e com trechos em balanço, apoiada em dois apoios. A laje do Coreto tem borda decorada que serve como uma platibanda.
A última revitalização realizada no Coreto foi feita pelo Iphan, entre 2019 a 2020, informa a arquiteta do Iphan, Ana Renata Santos. “Ele foi totalmente restaurado, pois estava abandonado com pichações, danos estruturais, sujeira no interior e exterior”, explica. Foram investidos para a restauração do bem R$ 358.929,90 (investimento total, juntamente com o Relógio da Avenida Goiás também restaurado), afim de resgatar tanto o interior quando o encalçamento do entorno.
Coreto da Praça Cívica (Fotos: Mariana Jardim/Iphan)
Antiga Chefatura de Polícia
Inaugurado em 1937, o edifício que abrigou a primeira sede da Polícia Civil no estado de Goiás está dentre um dos primeiros construídos na capital, com traços clássicos e marcantes do art déco.
A restauração do edifício de 1.916,86 m², que estava fechado desde 2015, priorizou recuperar as características originais. O bem foi entregue em 2022, após passar por intervenções na volumetria da cobertura com reforço estrutural, nas paredes com fissuras e rachaduras, nos vãos das janelas, portas da fachada e no traçado interno da planta, valorizando as qualidades arquitetônicas.
O imóvel também foi dotado com novas instalações elétricas e hidrossanitárias, além de ter sido totalmente adaptado às normas de segurança e acessibilidade.
Em seus mais de 80 anos, o edifício instalado na Praça Cívica, que é considerada o marco inicial da construção de Goiânia, passou por diferentes usos. Inicialmente funcionou como Chefatura de Polícia e Cadeia Pública e, posteriormente, como superintendência de obras do Plano de Desenvolvimento do Estado. Mais tarde, foi Procuradoria Geral do Estado, Secretaria Estadual de Cultura, e parte da estrutura da Secretaria de Segurança Pública do Governo do estado de Goiás. Para a sua revitalização foram investidos R$ 6,4 milhões.
Antiga Chefatura de Polícia (Fotos: Roberto Castro/MTur)
Estação Ferroviária
O edifício está localizado entre as avenidas Independência, Oeste e Contorno, marcando o limite norte da região central da cidade. Foi inaugurado em 1953 e funcionou até a década de 1980, recebendo trens de cargas e passageiros da Estrada de Ferro Goyaz. O bem é considerado um dos mais importantes edifícios representativos do Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia.
Após a sua implantação, viajar e despachar cargas ficou mais fácil de ser feito, além da facilitação da comunicação mais rápida com grandes centros industriais localizados no Sudeste. Isto impulsionou a economia do estado de Goiás a ponto de baratear os custos das trocas comerciais.
O estilo art déco, utilizado no edifício, foi um marco cultural e trouxe mudanças para a capital e o estado, impactando diversos aspectos da vida social, mas sobretudo na arte. O imóvel é constituído por um saguão principal e pela escada interna em mármore branco. Apresenta também planos envidraçados na fachada sul.
O pavimento central do edifício possui dois relevantes afrescos de autoria de Frei Nazareno Confaloni, pintor e muralista, reconhecido como pioneiro da arte moderna em Goiás. Os portões de entrada para a plataforma de embarque e as grades externas são de ferro forjado.
Com o passar dos anos, o edifício passou por reformas e manutenções para garantir a integridade do bem. A última restauração foi realizada pelo Iphan durante os anos de 2017 e 2019, e contou com o investimento do Governo Federal de R$ 5,87 milhões, por meio do Programa de Preservação do Patrimônio Cultural das Cidades Históricas (PPPCCH).
O processo contemplou a revitalização da locomotiva, na qual foram substituídas as partes danificadas, tratamento de ferrugens, aplicação de fundo protetor e pintura. Além disso, a obra contemplou a requalificação urbana do entorno do edifício, que contabilizou uma área de 28.709 m² da Praça do Trabalhador.
Estação Ferroviária (Foto: Iphan)
Imóveis parte do conjunto
Conjunto Praça Cívica
– Casa de Pedro Ludovico Teixeira
– Coreto
– Delegacia Fiscal
– Fontes Luminosas
– Fórum
– Museu Zoroastro Artiaga
– Obeliscos
– Palácio do Governo
– Procuradoria-Geral do Estado
– Secretaria-Geral
– Relógio da Av. Goiás
– Tribunal Eleitoral
Bens isolados
– Escola Técnica Federal de Goiás
– Estação Ferroviária
– Lago das Rosas
– Liceu de Goiânia
– Prédio do Grande Hotel
– Teatro Goiânia
Núcleo Pioneiro de Campinas
– Antigo Palace Hotel
– Sede do Fórum e da Prefeitura Municipal de Campinas