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Literatura

Aidenor Aires comemora 50 anos de poesia e lança box literário

São 10 livros e muita gratidão a Goiás | 12.09.23 - 18:33
Aidenor Aires e Jales Naves com o box (Foto do pastor Giovani Ribeiro)

Jales Naves
Especial para o jornal A Redação

Goiânia- Integrante de todas as entidades culturais de Goiás, tendo presidido a maioria delas, e vencedor de diversos concursos literários, o escritor Aidenor Aires, 77 anos, decidiu criar um box literário, que denominou “Poesia Completa”, e o lançou em tarde de autógrafos nesta segunda-feira, dia 11, na sede do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. O evento, muito prestigiado, foi organizado pela Comissão de Memória e Cultura do TJGO e comemorou seus 60 anos de vida em Goiás e mais de 50 anos de dedicação à poesia. Para o presidente da Comissão, desembargador Luís Cláudio Veiga Braga, como “poeta, escritor, discursista” ele está na lida há muitos anos e “tem muito a nos entregar, por meio de sua obra, que é imortal”.
 
Baiano de Riachão das Neves, Aidenor destacou a sua história com Goiás e fez um agradecimento especial pelas muitas oportunidades que lhe ofereceu nesse quase um século de vida plena, “tempo de minha formação, de meu trabalho, de minha família e de muita poesia”.
 
No box literário, 10 obras: “Reflexões do conflito”, publicado pelo Departamento Estadual de Cultura de Goiás, de 1970, escrito em parceria com o poeta Gabriel Nascente; “Itinerário da aflição”, ed. Oriente, Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, e “Na estação das aves”, ambos de 1973; “Rio interior”, ed. Líder, Prêmio Fernando Chinaglia, 1977; “Amaragrei”, ed. Ipiranga, 1º lugar no 3º Concurso Nacional de Literatura de Goiás, 1978; “Aprendiz do desencanto”, ed. Unigraf, 1982; “Os Deuses são pássaros do vento”, Cerne, Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, 1984; “Via viator”, ed. Melhoramentos, Prêmio Bienal Nestlé de Literatura, 1986; “O dia frágil”, 2005; e “XV elégies”, ed. Kelps, 2007.

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Na íntegra, o discurso do poeta Aidenor Aires no lançamento do seu box literário:
 
“É costume deixarmos os agradecimentos para o fim. Mas agora a gratidão e o reconhecimento vêm antes. Quero dizer que sou muito grato a Goiás, à nossa gente. A Goiás devo quase um século de vida plena. Tempo de minha formação, de meu trabalho, de minha família e de minha poesia. Abraçado ainda criança, Goiás me deu formas de construir uma vida, me deu oportunidades e bons caminhos para andar, bons companheiros de jornada, rumo a destinos luminosos. Se mais longe não fui, culpo meus pés pequenos, minha ossatura frágil e a minha mente estreita. Não me faltaram trilhas bem traçadas e largos horizontes.
 
Por isso agora, que já começo a descansar meus mortos neste chão generoso, não tenho acenos de adeuses, mas gestos de abraços. Eu que fui um vulto despejado de um caminhão pau-de-arara com 10 anos de idade na Praça do Bandeirante, cresci, tomei corpo e desfruto de amizade, estima e reconhecimento. Servi na Educação, na Cultura, na Advocacia e no Ministério Público. Integro as mais importantes instituições culturais de Goiás, sou Cidadão honorário de Goiânia e de Goiás. Recebi várias condecorações, as melhores que Goiás reserva a seus filhos, nativos e adotados.
 
Neste ato de lançamento externo minha gratidão ao Governo de Goiás, através da Secretaria de Cultura e o Fundo Estadual de Cultura, que tornou possível esta edição. Ao Tribunal de Justiça de Goiás, na pessoa de seu presidente, desembargador Carlos Alberto França; ao desembargador Luís Cláudio Veiga Braga, diretor cultural do TJGO e sua assessoria, que tudo fizeram para a excelência deste evento.
 
Aqui estou bem. Aqui criei meus filhos, escrevi meus poemas e já começo a enterrar meus mortos. Nenhum pesar, nenhum sentimento de perda. Fiz o possível. E este possível é tudo que alguém como eu poderia ter feito. Por isso, minhas palavras são de inteira gratidão. E se faço isso com palavras é porque sempre vivi para elas. No começo, naqueles dias de aparição na terra, eu não tinha palavras. Cheguei em silêncio, só corrompido pelo lacerado choro, aportado no desconforto da vida.
 
Depois fui recebendo palavras. As primeiras, de minha mãe, depois as dos próximos. Linguagem inicial confusa misturada a balido de cabras, grunhido de porcos, cacarejar de galinhas, relincho de asnos, berro das vacas e urros de marruás curraleiros espantando onças do rebanho. Depois vieram outras palavras chegadas do mundo, das viagens, dos livros. Meu maior trabalho na vida foi saber o nome das coisas concretas e das esculturas do imaginário, dos pensamentos e das sensações. A busca de palavras para nomeá-las.
 
Assim, cumpri a tarefa jornaleira de construir um vocabulário. De inventar nomes que não estavam nos livros, nem na boca das pessoas. Palavras que encontravam seu eco nos vales da poesia. Essas palavras não eram minhas, não serviam apenas a meu prazer, gozo ou aflição. Eram palavras de meus mortos. Palavras que davam notícias deles. Da aventura que fora suas vidas. As palavras são como música; ouvimos, e já se acabou. Fica o eco, a memória do que deixou por pouco de ser silêncio.
 
Pus-me a conviver com elas. Ora doces, afáveis, amorosas; ora angustiadas, tristes ou ferozes. As palavras não servem ao discurso egocêntrico, à dor mínima que nos alcança, nem ao júbilo prazenteiro que às vezes temos. Elas servem para alcançar outros ouvidos, nominar o sentir, o chorar, rir ou cantar dos companheiros de jornada. Há gente espalhada, perdida, desterrada nos caminhos do mundo. Há injustiçados sem procurador ou patrocínio. Há filhos morrendo em guerras que seus pais não fizeram. Há crianças náufragas despejadas pelas vagas nas praias do mundo. Por isso, os poetas não podem se calar. Precisam falar muito, porque há muitos ruídos no mundo e nossa geração é surda.
 
Somos poucos e humildes. Nossas vozes são frágeis para despertar os homens, para acordar a paz atropelada. Mas seguimos cantando, como cantaram os mortos, como cantam sabiás nas florestas incineradas, como zumbem as abelhas na primavera intoxicada. Somos o ouro fugaz dos ipês endoidecendo os ventos do cerrado em setembro. Cantamos. Fazemos uma muralha de palavras que, acreditamos, deterão os horrores que nossa espécie produziu. Acolherão a infância mínima dos berços e darão sustento às aves na primavera. Por isso cantamos. Fabricamos a insônia das estrelas. E ousamos anunciar a distante ilha chamada utopia. E damos aos homens o dom de caminhar juntos, de partilhar narrativas e abraços, de ousar tecer um canto de esperança. Sejamos, poetas, por enquanto, os promissores heraldos da esperança.
 
Agora entrego a todos vocês a minha poesia, como quem abre o peito, como quem derrama o sangue da sua vida em oferenda de gratidão que faço a todos os companheiros desta caminhada.
 
Meus amigos, Muito Obrigado”.

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