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Betty Faria em 'Bye Bye Brasil' (Foto: divulgação)José Abrão
Goiânia – Morreu nesta sexta-feira (14/2) o cineasta brasileiro Cacá Diegues, um dos fundadores do Cinema Novo, movimento que revigorou o audiovisual brasileiro nos anos 1960 e 1970. Ao longo de décadas de carreira, o diretor fez mais de 20 filmes, explorando diversos temas e linguagens. O professor de cinema da Universidade Federal de Goiás (UFG), Rodrigo Cássio, especialista em Cinema Novo, avalia “Bye Bye Brasil” (1980) como a obra-prima do diretor. “É um filmão, acho que é a grande obra do Cacá Diegues”, disse à reportagem do jornal A Redação.
O filme, inclusive, está disponível na plataforma de streaming Mubi. O longa acompanha uma trupe de artistas ambulantes que viaja pelo interior do Brasil. Um caminhão colorido carrega a Caravana Rolidei e suas atrações – Salomé, a Rainha da Rumba, Lorde Cigano, o Imperador dos Mágicos e dos Videntes, e Andorinha, o Rei dos Músculos. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço e sua esposa, Dasdô. Fazendo espetáculos e fugindo da concorrência da televisão, atravessam o Nordeste e o Norte do país, do vale do São Francisco até a rodovia Transamazônica. No elenco estão grandes nomes como José Wilker, Betty Faria e Fábio Júnior. A jornada de gravação percorreu 15 mil quilômetros pelo interior do Brasil.
“Ele foi muito importante porque era uma figura agregadora e participou de todas as fases de formação do Cinema Novo, esse movimento do cinema moderno brasileiro”, aponta o professor. “Ele se tornou um diretor bastante profícuo, fez muitos filmes, grandes produções”, completa. “Ele tem uma obra muito longeva e que acaba sendo demarcada por períodos do cinema brasileiro. Ele está presente em diferentes períodos, então é um autor de muitos filmes e uma figura muito amável e interessante”, diz Cássio.
O pesquisador relembra que o cineasta foi muito criticado e questionado pela esquerda nos anos 1970 por não se enquadrar nas expectativas da época. “Ele veio de dentro dos movimentos da esquerda comunista dos anos 1960, mas não era um cara alinhado. Era alguém com pensamento livre, e criou o termo ‘patrulha ideológica’ para se referir a esse tipo de pressão que a esquerda fazia naquela época. Hoje em dia a gente chama de cancelamento, mas já acontecia”, explica.
“[Ele] enriquecia a discussão sobre o cinema no Brasil e a cultura no Brasil, sempre muito preocupado em pensar a cultura no Brasil, participando do debate com artigos de jornal, se posicionando de uma maneira clássica, aquele intelectual artista clássico, porque sempre tinha algo a dizer, pois sempre pensou a sua própria arte a partir da necessidade de falar da realidade, o que é um princípio básico do Cinema Novo. Enfim, grande perda pra gente”, finaliza Cássio.
“A geração mais inventiva do cinema brasileiro”
Também professor de cinema da UFG e ex-diretor da Cinemateca Nacional, Lisandro Nogueira era amigo de Diegues e esteve com o cineasta em outubro do ano passado, no Rio de Janeiro. “Conversamos exatamente sobre a geração dele, do Cinema Novo: ele, Glauber (Rocha), o (Arnaldo) Jabor. A geração mais inventiva do cinema brasileiro foi a dele, porque eles criaram uma ideia de cinema brasileiro”, avalia.
“E o Cacá foi o que mais tentou fazer um cinema brasileiro que dialogasse mais diretamente com o público: fez um filme extraordinário, que é o Bye Bye Brasil”, adiciona o professor. Ele relembra que Diegues esteve em Goiânia em 2019 para lançar O Grande Circo Místico, seu filme mais recente, e também esteve no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) por duas vezes. “A importância dele é grande porque ele pensou o Brasil através do cinema”, finaliza Nogueira.