José Abrão
Goiânia - A programação da 7ª Feira de Arte Goiás (Fargo), realizada no Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia, começou nesta quarta-feira (14/5) com uma homenagem a Sáida Cunha: professora, artista e colecionadora, considerada uma das mulheres mais importantes do cenário e da história da artística da capital.
A homenagem foi uma surpresa, que emocionou a artista e os convidados presentes. "A emoção é tão grande porque eu não sei se eu mereço!", brincou a homenageada. "A minha coleção tem quase todos os artistas goianos. Eu não vivo sem arte. A minha parede não tem branco: são só quadros. Foi uma vida que valeu a pena, rodeada de amigos, cercada pela arte", disse.
Sáida Cunha (foto: Anna Stella/A Redação)
"Ela na verdade deveria ser a nossa homenageada todos os anos, porque ela é uma mulher que abre portas para novos artistas há anos. Foi professora de vários artistas, vários designers, vários arquitetos. Ela é verdadeiramente uma mestra", disse Wanessa Cruz, diretora da Fargo. "Ela é uma mulher muito generosa. Essa é uma palavra que resume a Sáida. E ela foi uma mulher em uma época em que o cenário da arte era muito dominado por homens. Ela é uma grande referência para todas nós", completou.
Wanessa Cruz (Foto: Anna Stella/A Redação)
Na parede que presta homenagem à Sáida, é possível ver uma pequena galeria de retratos dela, feitos ao longo dos anos por diferentes mestres artistas como Frei Confaloni e Siron Franco.
Cruz ressalta que toda a programação desta edição está voltada para as mulheres, tendo Sáida como o ícone que engloba todas as mulheres nas artes. A programação conta com visitas guiadas pela feira sobre os artistas, coleções e galerias participantes, além do lançamento de livros e performances artísticas.
Este ano, a Fargo também traz uma exposição especial em homenagem ao centenário de Antônio Poteiro, um dos artistas goianos mais importantes da história, com diversas obras suas em exposição e à venda.
Fruto de parcerias
A diretora também destacou o papel dos parceiros na realização da feira. "O apoio do Estado por meio da Secretaria de Cultura e da Secretaria da Retomada é imprescindível, sem isso, nada aconteceria. É muito importante para nós ressaltar que sem a co-realização do Sesc Goiás a feira não teria crescido na proporção em que cresceu. Fizeram com que esse sonho se tornasse maior".
"O Sesc tem a missão de apoiar e incentivar a arte em todo o país. É a instituição privada que mais investe em cultura no Brasil. Em Goiás temos buscado os grandes eventos para apoiar, trazer conteúdo, realizando várias palestras importantes com pessoas que são referência e dando suporte para que o público possa conhecer a potência dos artistas goianos", disse o diretor do Sesc Goiás, Leopoldo Veiga Jardim. Esperamos em breve podermos levar estes artistas daqui para rodar todos os Sescs do Brasil", completou.
Leopoldo Veiga Jardim (Foto: Anna Stella/A Redação)
Outro parceiro da feira é o Sebrae Goiás que nesta edição trouxe o trabalho de 33 artesãos goianas utilizando técnicas variadas. "Estamos na nossa quarta edição com esse espaço. Ele é muito interessante porque podemos valorizar o artesanato goiano neste espaço tão importante", contou Daniela Caixeta, gestora do Sebrae.
Daniela Caixeta (Foto: Anna Stella/A Redação)
Uma delas é a artista Walmira Andrade, de Goiânia, que trouxe peças feitas em alumínio reciclado para a feira. "O Sebrae foi um divisor de águas na minha vida. Lá, eu pude fazer diversas capacitações. Eles ajudam muito o artesão goiano", destacou.
Walmira (Foto: Anna Stella/A Redação)
Artistas e colecionadores
Para quem é de fora, uma feira de artes pode parecer algo intimidador, mas uma das mensagens da Fargo é de mostrar aos seus visitantes que toda pessoa pode ingressar nesse mundo, seja como artista ou como colecionador.
O jovem Augusto Mangussi tem apenas 17 anos e autismo nível 2 de suporte e começou a pintar aos 12 anos. Seu gosto pela arte o fez decolar, participando de dezenas de exposições, incluindo duas nos EUA. O pai do jovem, Antônio Mangussi, conta que ele começou a fazer aulas de arte na escola e logo se tornou o aluno mais interessado.
"Ele pegou gosto pela pintura. Os coleguinhas todos desistiram e ele permaneceu", contou Antônio. O interesse foi parar no Instagram e rapidamente passou a repercutir. "Conforme ele começou a participar das mostras, isso valorizou muito sua autoestima e ajudou a tirá-lo da sua zona de conforto: ele se viu obrigado a se comunicar com as pessoas. É uma forma de estimulá-lo", completou.
Augusto Mangussi (Foto: Anna Stella/A Redação)
Já o colecionador José Seronni tem apenas 40 anos e conta que qualquer um pode apreciar arte e investir em arte. "Eu participava ativamente da cena, mas não me via como colecionador. Aos poucos eu comecei a descobrir que Goiânia é um grande celeiro de artistas", disse.
Ele destacou que é possível começar investindo pouco. "Minha coleção é basicamente de jovens artistas. Muitas das obras que eu tenho é abaixo do valor de um papel de parede, do que um espelho", brincou. "Hoje mesmo eu encontrei aqui obras incríveis por R$ 300. Pode ser que aqui tenha uma obra nesse valor que amanhã vão valor US$ 100 mil", lembrou.
José Seronni (Foto: Anna Stella/A Redação)
"A Fargo tem uma relevância muito grande. Hoje em dia ela é a terceira maior feira do Brasil. Isso se deve à riqueza dessa arte produzida no centro do país", finalizou Seronni.
A diretora da feira, Wanessa, lembra que o espaço é o ideal para fomentar essa cena efervescente: "você está investindo em uma obra e também garantindo que os artistas continuem produzindo. E as obras, vale lembrar, são únicas. Uma bolsa, um sapato, carros, existem outros iguais, mas não uma obra de arte. A arte é maior que tudo isso. O público do Centro-Oeste não precisa sair de Goiás para investir em excelentes obras de arte".
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