Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 14º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

cultura

Professor Paulo Knauss cita IHGG como 'novo modelo de gestão institucional'

Doutor frisou proteção do patrimônio cultural | 31.10.25 - 00:44 Professor Paulo Knauss cita IHGG como 'novo modelo de gestão institucional' Professor Paulo Knauss cita IHGG como 'novo modelo de gestão institucional'. (Foto: Jacira Rosa)
 
Jales Naves
Especial para AR

Goiânia - O Instituto Histórico e Geográfico de Goiás representa bem a renovação do modelo de gestão institucional que as mudanças sociais vão impondo. A afirmação é do professor Paulo Knauss de Mendonça, doutor em História e pós-doutor pela Universidade de Estrasburgo, França, ao falar na abertura do VIII Colóquio de Institutos Históricos Estaduais, na manhã desta quinta-feira (30/10), na Casa Rosada de Goiânia.

Nessa iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, como Vice-Presidente, afirmou que os institutos históricos se aproximam cada vez mais do modelo das historical societies britânicas e norte-americanas, com feições muito mais próximas de organizações não-governamentais sustentadas na sua capacidade de mobilizar o apoio da sociedade civil.
 
“O quadro atual desafia a identidade de nossas instituições congêneres, impondo a renovação de sua imagem institucional e inserção social, situando-se mais como agente de mediação cultural entre o universo dos especialistas e o mundo dos não iniciados, podendo ser mais bem situados no campo do que contemporaneamente vem sendo chamado de História Pública”, disse. Citou que o bem-sucedido programa de cursos do Instituto Histórico do Rio de Janeiro tem sido um espaço de formação de guias de turismo, que buscam conhecimento inovador para a construção de roteiros de visitação, “apontando na direção de outros horizontes de aplicação do conhecimento histórico em sintonia com demandas de nosso tempo”.
 
Para ele, surpreende a riqueza e a reunião de coleções de raridades nos institutos históricos, seguindo o modelo do IHGB que desde sua fundação se comprometeu com a prática do colecionismo institucional. “Não há como negar, contudo, que essas ricas coleções possuem uma visibilidade social muito aquém de sua significação, e no seio dos institutos históricos poucas vezes receberam o tratamento técnico profissional à altura de sua importância e na medida do desenvolvimento do conhecimento especializado no campo da conservação e acesso ao patrimônio cultural”, disse.
 
Ao se valorizar quase que exclusivamente as ricas coleções do IH´s apenas como manancial de documentos de pesquisa para pesquisadores especializados, deixa-se de valorizar sua importância como monumentos ou bens significativos raros e únicos da cultura brasileira, que deveriam ser objeto da construção social de comunidades de sentido. Para isso, “é preciso conceituar o patrimônio cultural como capital ativo e buscar a profissionalização de nossas práticas de colecionar, menos focada no recolhimento e mais centrada na conservação e acesso à informação. Dito de outro modo, está na hora de afirmar o papel que os institutos históricos têm no Brasil no campo da proteção do patrimônio cultural”, explicou.
 
Modelo
Em seu pronunciamento, Knauss discorreu sobre o modelo de instituição de produção de conhecimento que caracteriza os institutos históricos. “De certo modo, predomina a visão de que nossas entidades são herdeiras das sociedades literárias ou sociétés savants que originaram as academias de estado europeias representativas da ciência e da cultura”, esclareceu. “O patronato do imperador Pedro II conferia esse sentido ao IHGB, do mesmo modo que noutros tempos o patronato de governos renovou esse sentido de academias oficiais dos nossos institutos históricos”.
 
Defendeu que, diante das mudanças sociais, é preciso admitir que a cada dia mais “o mecenato do Estado vem se afastando de nossas instituições, conduzindo nossos institutos históricos a afirmarem seu caráter de associação civil sem fins lucrativos e representantes da sociedade civil”.
 
Recentemente, todos foram surpreendidos pela notícia de que o Governo da Bahia decidiu por cancelar a subvenção anual que sempre dedicou ao Instituto Geográfico e Histórico daquele Estado, instituição fundada em 1894. “A consequência desafia a sustentabilidade da instituição centenária, cujo sentido se amplia pelo senso de responsabilidade diante da riqueza dos bens culturais reunidos na Casa da Bahia. Muitas outras de nossas instituições congêneres há tempos já não contam mais com qualquer subvenção oficial e dependem da contribuição dos seus sócios e da capacidade de captação de recursos por projetos ou por patrocínio cultural incentivado ou não”, ressaltou.
 
Renovação institucional
O Vice-Presidente do IHGB propôs que o colóquio seja também uma oportunidade para a reflexão sobre a renovação institucional dos institutos históricos. “Recorro à imagem que serviu para tornar conhecido o famoso manifesto lançado pelo historiador francês Lucien Febvre para anunciar a retomada do projeto editorial da revista dos Annales no imediato pós-segunda Guerra Mundial, compreendendo justamente que a atividade intelectual e de pesquisa era uma resposta aos desafios de seu tempo, considerando que o conhecimento resulta da atividade de encontrar respostas a perguntas que são postas pelos desafios da atualidade”.

A rigor, o principal autor da crítica ao anacronismo na pesquisa histórica, terminava por concordar com a dimensão presentista do conhecimento. “O tema que nos reúne – o bicentenário do nascimento de Pedro II – é também uma oportunidade para nos situarmos face ao vento da história. Seguramente, no nosso ambiente, a efeméride é uma boa ocasião para descentralizar as visões sobre a história do Brasil e para pensarmos a construção nacional a partir das experiências regionais”, salientou.
 
O exílio demarcado pelo decreto do banimento do imperador e da família imperial representou um capítulo marcante da história do patrimônio cultural no Brasil, considerando a ordem do Governo Provisório de que a família imperial deveria liquidar todos os seus em até dois anos. “A instauração da República permitiu que a família imperial levasse para o exílio os bens simbólicos mais representativos do poder imperial no Brasil, tornando privado o que tinha sentido público como o conjunto das insígnias imperiais, pinturas históricas marcantes e a mesa da assinatura da Lei Áurea. A ordem republicana, no entanto, reteve apenas a coroa que ao ser entesourada em cofre e mantida distante da sensibilidade pública parecia traduzir a vontade de trancafiar o passado na impossibilidade de obliterar a memória, tarefa impossível”.
 
Por decisão pessoal de Pedro II – como frisou – as ricas coleções da biblioteca e do museu do imperador, que ficavam situadas no Paço de São Cristóvão, foram doadas e divididas entre o IHGB, a Biblioteca Nacional e o Museu Nacional, perdendo seu contexto original e dispersando-se sob o controle de instituições públicas de referência, mas que sempre lutaram para cumprirem seu compromisso com a preservação do patrimônio cultural.
 
Lembrou que, no contexto da primeira época republicana foram autorizados os famosos leilões do Paço que dispersaram os bens pessoais da família imperial, que não foram levados para o exílio. “O paradoxo é que entre objetos exilados, objetos doados e objetos leiloados, formou-se a primeira geração de colecionadores dedicados a tomar o Brasil como objeto de coleção, reunindo grande quantidade de bens que serviram para formar as coleções de museus públicos criados a partir da década de 1920, depois do fim do banimento da família imperial e no contexto das celebrações do centenário da Independência nacional”, completou.
 
 

Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351