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Audiovisual

Cinema é uma “luz para a escuridão” diz Antônio Pitanga em Goiânia

Cineasta participa de evento sobre ‘Malês’ | 10.11.25 - 12:45 Cinema é uma “luz para a escuridão” diz Antônio Pitanga em Goiânia Antônio Pitanga (foto: José Abrão/A Redação)José Abrão
 
Goiânia – O ator e diretor Antônio Pitanga está em Goiânia nesta segunda-feira (10/11) para participar de uma roda de conversa sobre o seu mais novo filme, Malês, dirigido e estrelado por ele e que está em cartaz nos cinemas. O longa reconta a Revolta dos Malês, uma rebelião de escravizados na Bahia que aconteceu em janeiro de 1835.
 
O evento deve abordar os temas da escravidão, do racismo e da intolerância discutidos na nova produção. Antes, o cineasta fez uma entrevista coletiva em que abordou o filme e o cinema nacional. Veteraníssimo, Pitanga começou sua carreira ainda nos anos 1950. Foi nome importante do Cinema Novo, foi exilado na Ditadura Militar e está no elenco do único filme brasileiro vencedor da Palma de Ouro de Cannes: O Pagador de Promessas (1962).
 
“A cultura é o estado mais democrático, porque emana do povo. Fui criado no teatro, no Cinema Novo, num momento em que se levantava uma bandeira importantíssima: que o brasileiro entendesse o valor da sua cultura e que a gente ainda no século XXI tem dificuldade em compreender o que é Brasil”, conta. “Com Malês, eu conto uma história que o povo brasileiro não conhece! Quantas histórias têm aqui em Goiânia, em Goiás, que os brasileiros precisam conhecer?”, completa.
 
Para ele, o cinema, e em particular Malês, é uma chance de “levar uma luz para a escuridão do esquecimento. Iluminar a memória. Essa memória é do povo: ela não é como o 7 de Setembro, ela não está no calendário”. Pitanga argumenta que é muito importante que a juventude possa conhecer essas histórias e entender como ela está viva agora, no século XXI. Ele relata que, com este filme, ele já foi convidado para falar em três universidades de fora: Princeton, Harvard e Cambridge. Além disso, o filme tem atraído um grande público, tendo passado os 100 mil neste fim de semana em todo o país: “Os jovens querem beber um pouco da fonte da história que foi sequestrada deles. O cinema é essa ferramenta que possibilita colar essa história do século XIX com o século XXI”.


 Antônio Pitanga (Foto: José Abrão/A Redação)
 
“A importância de Malês não só é poder estar conversando com os jovens, mas trazer luz à invisibilidade de todo tipo de preconceito que ainda no século XXI nós sofremos”, afirma. “Temos aí um manancial para poder conversar, discutir, aprender. É importante conhecermos a importância e a força da cultura na construção desse país”, continua.
 
Um sonho antigo
Malês é fruto de um sonho antigo de Pitanga que começou lá em 1986 após ler o livro “Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835”, de João José Reis, já da vontade antiga e sempre presente de aprender mais sobre suas origens e sobre a história da negritude brasileira. “Eu nasci no Pelourinho. Ninguém nasce no Pelourinho por acaso. Um local que é a referência da tragédia. Minha mãe nasceu em 1918, neta de escravos, aos 12 anos já era empregada doméstica”, relembra. “Essas histórias eu já tinha dentro de mim, da minha formação. Quando eu li o livro, eu liguei pra ele e disse ‘professor, eu quero fazer um filme sobre a sua pesquisa’. Ele me disse: ‘Pitanga, o livro eu já escrevi, o filme se você quiser é com você’”.
 
Desde então foram décadas batendo em portas, buscando financiamento, apoios para só agora tirar o filme do papel: “Eu fiz dezenas de filmes nesse tempo, mas nunca perdi Malês de vista. Precisava contar essa história”. Essa vontade, explica ele, vem da sua visão do poder transformador do cinema: “Quando começamos o Festival de Cinema de Gramado, lá não tinha nada. Hoje é a cidade mais turística do Brasil”, exemplifica. Ele inclusive elogiou os festivais de cinema de Goiás: “trazer o cinema pra cá é trazer os olhos do mundo”.
 
Antônio Pitanga (foto: José Abrão/A Redação)

‘Oeste Outra Vez’ e a nova geração
Antes de Malês, Pitanga estrelou recentemente no filme goiano Oeste Outra Vez, de Erico Rassi, de grande repercussão nacional e internacional, entrando na lista da disputa do Oscar, perdendo para o favorito O Agente Secreto. “Oeste Outra Vez me revela um Brasil tão bonito e um cinemão feito aqui que agora o Brasil todo passa a conhecer bem”, conta. “Por isso digo que o cinema é tão democrático. Quando você descentraliza o cinema, começam a aparecer jovens de todo o Brasil”, completa.
 
Para Pitanga, o cinema brasileiro vive sua melhor fase, mas ainda enfrenta um grande desafio que é o mesmo que ele diz ter enfrentado por toda a vida: falta uma política de Estado para a cultura. “Enquanto o Brasil não tiver esse olhar da importância da cultura pro mundo, vamos seguir dependendo de governos. O último que veio aí impôs terra arrasada: tivemos que recomeçar, recriar ministérios... enquanto os EUA viraram o que viraram, ao exportar a sua cultura. Eles entenderam a importância do audiovisual”, diz.
 
“Quando eu fui aos EUA, para Nova York, para o Brooklyn, para o Harlem, eu já conhecia tudo. Parecia que estava andando pelo bairro, por causa do cinema americano”, resume. “O tesouro americano investiu durante anos na cultura. Essa é a força que a cultura tem”, completa.
 
Como próximos projetos, Pitanga vai fazer um documentário sobre a esposa, Xica da Silva, e vai fazer outro filme histórico sobre o Dia da Independência da Bahia, celebrado no dia 2 de julho de 1823, que culminou com a expulsão definitiva dos portugueses do Estado.

A roda de conversa com o cineasta nesta segunda ocorre às 19h no Teatro da Fac Unicamps no Setor Coimbra. A entrada é gratuita e os ingressos podem ser retirados pelo site.
 
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