Luiz Fernando Teixeira
Especial para A Redação
Londres - A Royal Academy of Art, em Londres, promoveu, neste ano de 2013, uma retrospectiva da obra do arquiteto Richard Rogers, denominada Inside Out. Numa tarde fria e chuvosa de outubro, típica do outono Londrino, aproveitei para aprofundar meus conhecimentos sobre a obra de um dos mais importantes arquitetos da atualidade.
Por sorte, ao chegar à exposição, o próprio Rogers proferia uma palestra na qual dizia de seus ideais filosóficos, sua convicção de que com a arquitetura é possível adaptar e modificar uma sociedade. Nas obras expostas e nos textos que as apresentava, ficou evidente a importância de estar a arquitetura engajada às políticas públicas que incluem o debate cultural e o ativismo social.
Espaços
A fala do arquiteto demonstrou também que conjugar princípios teóricos com a prática é perfeitamente possível. Para tanto, é necessário que se esteja atento às relações da arquitetura com seu tempo histórico, com o lugar e as relações de poder que estão estabelecidas em cada cidade e o exercício da democracia de cada localidade. Questões da ordem da sustentabilidade, adaptabilidade e mudança, ainda, transparência, movimento, cor e linguagem da construção não foram deixadas de lado.
O arquiteto acredita que um espaço público vibrante promove o encontro de pessoas e a consequente troca de ideias. Para ele os edifícios, enquanto contâineres de espaços internos e externos, são atributos que contribuem para humanizar as cidades. Aí está o segredo do nome da exposição. Seu mais significativo exemplo de inside out é o projeto do Centro de George Pompidou (foto), realizado numa quadra de Paris, em parceria com Renzo Piano. Foi um sucesso da inserção espacial, o qual Rogers denominou como "lugar para todas as pessoas".
Influências
Outros aspectos relevantes da palestra dizem respeito à sua trajetória de formação e prática profissional. Em 1962, após terminar a graduação na Architectural Association em Londres, ele e o arquiteto Norman Foster foram para a Universidade de Yale, para a obtenção do título de mestre.
No início, ficaram chocados ao descobrirem que Paul Rudolph - diretor do Departamento de Arquitetura - estava mais interessado nos aspectos visuais, estéticos da arquitetura do que na relação funcional da obra com a sociedade, princípio teórico predominante na Europa daquela época. Porém, aos poucos, sob a influência de Vincent Scully, professor de História da Arte e Arquitetura, Rogers e Norman Foster compreenderam a importância da arquitetura americana, principalmente, aquela realizada pelos arquitetos Henry H. Richardson, Louis Sullivan e Frank Lloyd Wright. Tanto que, juntos, empreenderam uma viagem pelos Estados Unidos para conhecerem, in loco, a obra de Wright. Como afirmou Rogers, as memórias daquela viagem, o marcaram para sempre.

Descortinando sobre o modo como absorveu suas influências, diz que determinados valores e conceitos ficam impregnados no inconsciente, emergindo de lá no momento oportuno, impulsionado por um esquema sensorial que é materializado, posteriormente, nas próprias obras.
Para Rogers, o movimento futurista Archigram influenciou o arquiteto Cedric Price no seu projeto, não executado, do Fun Palace que, por sua vez, influenciou Rogers e Renzo Piano na concepção do Centro Cultural Pompidou, obra inovadora da arquitetura européia, tal como a galeria Tate Modern (projeto dos arquitetos suiços Herzog & De Meuron ) é para Londres. O primeiro, transformou o Marais com a chegada das instituições culturais, a Tate está transformando, positivamente, o degradado bairro de Southwark.
Referências
Durante a palestra demonstrou uma profunda sensibilidade para a cultura humanística e tecnológica, apresentando obras de valor histórico como suas referências culturais. Começando pela Piazza Del Campo, em Siena, que foi a maior influência para concepção da praça do Centro Cultural Pompidou; o pioneiro desenho da cúpula da Catedral de Florença de Brunelleschi; o Crystal Palace em Londres e, finalmente, a Casa de Vidro de Pierre Chareau.
Em um dado momento o arquiteto fez uma homenagem a Peter Rice, engenheiro de estruturas, que desempenhou papel importante no desenvolvimento da arquitetura high tech. "Um bom projeto de arquitetura é o amálgama de expertises, incluindo matemáticos, físicos, biólogos, engenheiros aeronáuticos e navais, etc". A esse conjunto de profissionais chamou de "Engineering", cuja expressão máxima é a Overup, empresa que oferece suporte tecnológico aos arquitetos, inclusive para I.M.Pei, na concepção da pirâmide do Museu do Louvre.
Sobre cidades, a lição é clara: "Não importa se são pequenas ou grandes, independentemente da localização geográfica, do poder econômico, as cidades são delicados ecossistemas que devem ser desenhadas para serem sustentáveis".
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A palestra terminou com a seguinte afirmação: "não se desenha um excelente edifício se não houver um extraordinário cliente”. Aproveitei da digressão do momento final para falar com Sir Rogers, Barão de Riverside. Relembrei-lhe dos nossos encontros, na década de 70, no Saint Mary's, hospital em Londres onde nasceram nossos filhos. Ele, muito gentil, me respondeu com a fleuma característica de um lorde britânico: "I remember very much".
*Luiz Fernando Teixeira é arquiteto e esteve em Londres para conferir a exposição.