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Ação será lançada na quinta-feira (2/6) | 01.06.16 - 12:22
(Foto: Renato Conde)
Mônica Parreira
Goiânia – O artista plástico Siron Franco lança, na manhã desta quinta-feira (2/6), uma exposição que incentiva a reflexão sobre a violência praticada contra a mulher. A “Estatística Brasileira” compreende as paredes externas do Instituto Rizzo, no Setor Sul, em Goiânia. Dentro do casarão, será montada uma estrutura para acolher denúncias e apoiar as vítimas dos crimes que o artista chama de “filme de terror”.
Siron recebeu a reportagem do jornal A Redação para falar sobre o seu novo projeto, motivado pela grande repercussão dos casos de estupro coletivo ocorridos no Rio de Janeiro e no Piauí. Mas exposição vai além e abrange uma realidade próxima, silenciosa e perigosa. “É claro que aqueles crimes bárbaros que aconteceram nos faz reagir. Mas tem muitos absurdos que não chegam até a mídia. Por isso eu pensei na estatística, e não em um caso específico”, disse.
A obra
Antes brancas, as paredes do casarão deram espaço a duas frases que se repetem ao longo de toda extensão: “A cada 2 horas, uma mulher é assassinada” e “A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil”. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Resolvi usar só palavras. Distribuí como se fossem os classificados de jornal, e isso diz muito. É uma página repetitiva, infelizmente assim como a violência”, explicou.
(Foto: Renato Conde/A Redação)
“Quando as pessoas vão ler, elas acham que tem algum outro texto novo e acabam lendo até o fim. E essas informações, lidas repetidamente, chocam muito mais”, completou Siron. Enquanto executava a implantação do projeto, o arista conseguiu observar a reação das pessoas. As mulheres, segundo ele, são as que mais se chocam. “Teve uma senhora que parou e me perguntou: ‘meu Deus, isso é verdade, moço?’. É isso que a gente precisa despertar”.
Toda a obra foi desenvolvida na cor vermelha. “Pela questão do simbolismo da violência, do sangue, do sacrifício de tantas mulheres. Elas precisam se sentir amparadas, precisam saber que existem muitas pessoas que se importam com elas e preocupam com seu bem-estar”, justificou o artista.
Ação social
Quando projetou a exposição, Siron também teve a preocupação de articular alguma ação que não ficasse somente no alerta à sociedade, mas que prestasse algum serviço para as vítimas da estatística brasileira. Conforme explicou durante a entrevista, uma parceria com a vereadora Dra. Cristina Lopes vai tornar sua ideia realidade. “Vamos montar um grupo de apoio às mulheres que têm medo de denunciar. Também são bem-vindas pessoas que queiram ajudar com a campanha de alguma forma”.
(Foto: Renato Conde)
A vereadora disse ao AR que está montando um grupo de trabalho itinerante para os plantões no Instituto Rizzo. “Membros da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal vão nos ajudar nesse projeto. Queremos aproveitar que o assunto ganhou muita repercussão e encorajar as mulheres a denunciar, sem medo de represálias”, disse a Dra. Cristina. O trabalho vai começar na quinta-feira (2/6), durante a inauguração da exposição.
A exposição "Estatística Brasileira" estará montada até o mês de dezembro. A intenção é que o ponto de apoio à mulher, no interior do casarão, permaneça durante o período. O Instituto Rizzo fica na esquina da Avenida Cora Coralina com a Rua Dr. Olinto Manso Pereira, no Setor Sul.
Engajamento
Siron se auto-intitula um artista plástico intimamente ligado às questões sociais e ambientais. Há décadas desenvolve trabalhos sobre a violência contra a mulher que ganham grande repercussão. Antes de “Estatística Brasileira”, o mais recente foi a participação no “Ciranda do Bem”, em 2013. Na ocasião, o artista plástico desenvolveu esculturas e joias cuja renda da comercialização foi destinada ao Centro de Valorização da Mulher Consuelo Nasser (Cevam).
“Foi um trabalho maravilhoso que fizemos, também em parceria com a Dra. Cristina, para ajudar essa ONG que tanto se doa em prol das mulheres desamparadas. É uma realidade tão próxima que a própria vereadora, tão engajada no tema, já fez parte das estatísticas de violência do país”, lembrou.
Siron ainda citou outros trabalhos, como uma participação na Revista Electra, na década de 1990, quando entrevistou 350 garotas de programa para descobrir suas origens. “Gravei esse material na época e vi que todas tinham histórias semelhantes. Ou foram violentadas, ou o padrasto abusou e a mãe não acreditou, ou não tiveram pais presentes ou uma boa educação em casa”.
Ainda nos anos 90, desenvolveu o “Salvai nossas almas” em Brasília e Goiânia. “Fiz um cruzamento de jornalismo com a arte. Era um jornal gigantesco, de 250 metros de comprimento por 200 metros de largura. Ampliei as matérias só de pedofilia ou violência doméstica”.
Siron citou ainda o “Veracidade”, lançado em 1978, para chamar a atenção sobre o que acontece na sociedade. “Ver a cidade, ver de verdade. Então minhas obras sempre tiveram esse cunho social”, finalizou.