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Entrevista

Em Goiânia, MQN se despede dos palcos

Banda faz último show na próxima quinta-feira | 29.02.12 - 11:51 Em Goiânia, MQN se despede dos palcos Gustavo Vazquez, Rodrigo Miranda, Cesar Jr. e Fabrício Nobre em um dos últimos ensaios do MQN (Foto: Aline Mil)
Raisa Ramos

Eles começaram há 15 anos, quando Goiânia não passava de uma cidade interiorana e caipira, pacata e sem muita coisa para fazer. Os quatro moleques recém-ingressados na faculdade, na faixa dos 17 anos, conseguiram fazer muito barulho e perturbar a tranquilidade tediosa que existia então, transformando a capital de Goiás na capital do rock independente e fazendo com que a terra do pequi ficasse tão famosa por suas bandas alternativas quanto pelas duplas sertanejas. Esse é o grande legado dos rapazes já senhores de uma das bandas mais tradicionais, não só do nosso Estado, mas do país: a MQN. Nesta quinta-feira, 1º de março, o quarteto vai se despedir dos palcos com um show, no mínimo, quente e claustrofóbico. O grupo vai se apresentar na pequena casa noturna Metrópolis e só de pensar na quantidade de gente que vai disputar um lugar na pista, dá um leve desespero. Mas é o MQN e vale a pena todo o empurra-empurra. Rock and roll é isso.

Trip in Reality
No início, eram Fabrício Nobre (vocal), Rodrigo Miranda (bateria), CJ (guitarra) e Jorge Nascimento (baixo), mais conhecido como Gereba que, em 2006, passou o instrumento para Gustavo Vazquez, dono do estúdio Rocklab e responsável por discos elogiados, como “Artista Igual Pedreiro”, do trio Macaco Bong, e “Life is a Big Holiday for Us”, da Black Drawing Chalks. Para o show de despedida, os integrantes disseram, em entrevista ao A Redação, que fizeram uma setlist de 15 faixas, incluindo clássicos dos discos “Hellburst”, “Bad Ass Rock and Roll” e de alguns compactos, como “13 Nights”. Haverá também uma música do novo disco, que não tem data certa de lançamento, mas já foi batizado de “Trip in Reality”. Segundo a banda, falta ainda gravar os vocais, o que depende basicamente de uma brecha na agenda “vazia” do produtor, empresário e pai Fabrício Nobre. Com nove faixas inéditas, o álbum terá também um cover do The Police. “A gente é anos 80. Só estamos assumindo a idade”, reconheceu o vocalista.
 
Para os integrantes, a saudade do palco vai ser menor do que a saudades que vão sentir uns dos outros. Amigos fiéis e, em alguns casos, até compadres, eles estão acostumados a se verem sempre, o que não será mais possível com a mudança do baterista Miranda para Nova York. Isso, inclusive, foi o que motivou o “assassinato” - como Fabrício gosta de falar – da banda. Sem Rodrigo, não querem tocar mais. Coisa de amizade mesmo. 
 
Quem vê aonde o quarteto conseguiu chegar nem pensa que, no começo, eles tiveram que implorar para tocar no Goiânia Noise Festival – na época, Nobre ainda não fazia parte da Monstro Discos; tinha seu selo próprio, o Me and my Monkey. Mesmo com tantos anos de estrada, o grupo ensaiou várias vezes para o show de quinta-feira. “Estou com medo de não dar ninguém”, brincou Fabrício, logo depois do último ensaio deles antes da despedida, que aconteceu na segunda-feira, no estúdio República. Suados, cansados e um pouco bêbados, os quatro sentaram nos sofás de estampa de zebra e conversaram com o AR, relembrando o passado e fazendo planos para o futuro.
 
"O MQN é uma das bandas que mais influnciaram roqueiros pelo Brasil afora nos últimos anos. As músicas prezando pelo refrão e a mais pura essência do roqueiro, o grito e shows explosivos, com direito a insultos, cusparadas, latinha na cabeça, mosh e invasões de palco. Sem MQN a musica alternativa hoje estaria bem diferente! Sem MQN o aquecimento global vai se solucionar, para tristeza de um bom roqueiro!"
Victor Rocha, vocalista do Black Drawing Chalks
 
A Redação - Dando início a uma sessão nostalgia, como foi começar em Goiânia na década de 90? Hoje as pessoas reclamam muito que não há muita coisa para se fazer na cidade. Antigamente devia ser pior.
Fabrício - Goiânia hoje tem coisa demais para fazer. 
Cesar - Tem até restaurante bom!
 
Vocês tocavam onde?
Fabrício - No Território Brasileiro, no Martim Cererê desde sempre, Garage, Café Acústico...
 
E ensaiavam onde?
Fabrício - Nós dividimos muito tempo um estúdio com o Punch, que era a banda do Íkaro [Stafford], que hoje está no Kamura. Muito tempo... uns cinco anos, mais ou menos, lá no Setor Oeste. Depois, mudamos para um estúdio aqui na [Rua] 24, em frente à delegacia. Era o Hang [the Superstars], o NEM e a gente durante uma época. E depois pedimos o Casarão do Rollin' Chamas, até o Japão abrir o República.

"MQN é o tipo de banda que mesmo parando as atividades não morre, pois tem grande parcela de culpa no nascimento de tantas outras bandas do gênero que surgiram desde então. Quando se vê um show do MQN, a única coisa que se pensa é: 'vou montar uma banda foda pra um dia, quando esses caras estiverem na primeira fila, eu me vingar de toda essa cerveja que esse gordinho já jogou em mim'."
Diogo Fleury, vocalista do Hellbenders


Rock, boas risadas e muita cerveja na fórmula do MQN (Foto: Aline Mil)
 
E nesse tempo todo de banda, vocês nunca pensaram em sair de Goiânia e ir para outra cidade, como São Paulo, por exemplo?
Fabrício - Sabe que nós já tivemos até uma vontade...
Miranda - Mas durou só cinco minutos, no máximo!
Fabrício - O mais legal do MQN é que a gente tinha muita clareza de onde podia chegar com uma banda alternativa, independente. Nós somos meio bandeirante nesse negócio. Somos de uma época em que gravadora não existia, que a onda das bandas que cantavam em inglês já tinha passado e nós não queríamos fechar contrato com ninguém. Já fomos até almoçar com cara de gravadora, que propôs para a gente cantar em português, mas não aceitamos. O cara pagou a conta e foi embora. 
Miranda - É, a gente sabia o que dava para fazer com as nossas próprias pernas.
Fabrício - Gravamos um disco todo com nosso próprio dinheiro.
Gustavo - A banda sempre serviu a propósitos não financeiros. Fazíamos por realização pessoal.
Fabrício - A gente queria curtir, beber e tocar no máximo de lugares possíveis.
Gustavo - "O que você quer fazer com a sua banda?" Queremos gravar com os amigos, viajar para todos os lugares possíveis...
Miranda - E beber a quantidade de cerveja que você quiser.
Cesar - Melhor que restaurante, eu aposto.
Fabrício - Só não tocamos em  cinco capitais brasileiras.
 
Quais?
Fabrício - Teresina (PI), Boa Vista (RR), Macapá (AP), Manaus (AM) e Vitória (ES). O resto, a gente tocou em tudo.
Gustavo - Tocamos no Acre! O primeiro show da banda foi em Garanhus (PE)! Terra do Lula.
Fabrício - Ter a banda em plena atividade foi muito importante para a gente, [assim] como o Black Drawing [Chalks] funciona bem hoje para o Bicicleta sem Freio. 
Gustavo - Uma coisa alavanca a outra. O MQN ajudou demais no meu estúdio, conheci um monte de gente.
 
"Um dos primeiros shows de rock que eu fui foi do MQN. Ver toda aquela insanidade ao vivo mudou meu conceito sobre essa cidade e me colocou no mundo do rock goiano. Se não tivesse sido tão insano, talvez nem vontade de ter uma banda 'de verdade' aqui eu teria."
Augusto Scartezini, guitarrista do Mugo
 
Agora, falando um pouco das turnês, vocês fizeram algumas internacionais, não foi?
Fabrício - Fizemos uma turnê nos Estados Unidos em 2003. Gravamos um disco lá em 2001 [Hellburst].
Miranda - Fomos a primeira banda brasileira a tocar no [festival] South by Southwest [SXSW, que acontece toda primavera em Austin, no Texas].
Fabrício - É... Na época que era novidade uma banda brasileira tocar no South by Southwest. Fui lá outra vez em 2010 e, na coletiva de imprensa, tinha uns 500 brasileiros.
Miranda - Quando a gente foi, o pessoal ficava jogando macaco no palco...
Fabrício - Perguntavam se nós íamos tocar samba... Tocamos também em Seattle. Nada viável, gastamos uma grana. Depois, teve a turnê na Argentina. Fomos umas três vezes. Teve um selo que lançou um compacto nosso lá, doido até, e ele fez uma compilação sobre os dez anos da banda.
Gustavo - Aí, rolou uma oportunidade de fazer turnê na Europa, mas "neguim" teve filho [Fabrício] e tivemos que cancelar.
 
Vocês acham que o MQN abriu portas para o rock goiano?
Fabrício - Acho que sim. O Sebrae tem um estudo iconográfico da cultura de Goiás que inclui o rock. Se não fosse o Hang, o Mechanics e, principalmente o MQN, não haveria essa referência. Se você ligar para vinte bandas de Goiânia, com integrantes na faixa de 25 anos, e pedir para cantarem 30 músicas do MQN, eles vão saber. Eu tenho um monte de fotos com pessoal do Hellbenders, do Black Drawing, na frente do palco, na plateia. O Pedrinho, do Bang Bang [Babies] era uma canseira! Ele queria ir em todos os shows! Então, sem falsa modéstia, a banda é importante para uma geração da cidade. Acho que a banda tem a sua relevância. Claro que não chega a ser a relevância do Marcelo Barra, do Zezé di Camargo, por exemplo. A nossa é mais restrita.
 
"Temos boas lembranças do MQN, principalmente na fase do Hellburst, que é o disco deles que a gente mais se identifica. Foram vários shows insanos. Lembro que o baixista do Bang Bang  puxava  moshs nos shows do MQN com uns treze anos de idade."
Pedro Rabelo, vocalista do Bang Bang Babies
 
Hoje, qual é a prioridade de vocês?
Fabrício - Para mim, é a minha família: Gabriela, Ana e Lara. A banda é muito rock-família!
Gustavo - No último show que a gente fez fora, em Belo Horizonte, encontrei com o Claudão [Pilha, dono da casa noturna “A Obra” e do festival Primeiro Campeonato Mineiro de Surfe] no camarim e a conversa que rolava era "E aí? Como vai a família? Como vai o casamento?". Eu não me interesso tanto mais por outros assuntos.
Fabrício - Eu queria ter tempo de tocar mais, mas eu também quero ter tempo de buscar minhas filhas na escola. Todo mundo aqui trabalha 20 horas por dia, então não dá.
 
Rodrigo, e esse plano de ir para Nova York? Surgiu do nada?
Miranda - Na verdade, começou com a minha esposa. Ela trabalha com moda e sempre teve um projeto já meio traçado. Daí chegamos à conclusão de que o momento está bom para ela e para mim [de fazer essa mudança]. Resolvemos então alavancar esse plano que já existia há muito tempo. Mas ainda não tenho definido o que vou fazer por lá.
 

(Foto: reprodução)
 
"O MQN, assim como o Hang the Superstars e o Mechanics, é uma das maiores influências da nossa geração de bandas. Tem um pouquinho de cada uma na maioria dos grupos de rock atuais da cidade. Crescemos ouvindo essas bandas nos festivais e casas de Goiânia. Quem não tomou um banho de cerveja do Nobre não pode montar uma banda de rock. É o batismo!"
João Lucas, vocalista da Johnny Suxxx and the Fucking Boys
 
Vocês dividiram o palco com muita gente importante, como Deep Purple, Mudhoney... Teve algum desses momentos que marcou mais?
Fabrício - Acho que tocar com as bandas de fora foi muito legal.
Miranda - O mais legal, pelo menos para mim, foi tocar com o Mudhoney. 
Fabrício - Os caras gostaram da gente. Foi bom mesmo.
Gustavo - Posso ser piegas?
 
Pode.
Gustavo - Eu nunca toquei com uma banda que eu gostasse realmente dos caras. Se eu desmarco um ensaio com o MQN, fico em depressão de não ver os caras. E isso é raro.
Fabrício - A maioria das bandas acabam por causa de briga. A gente está acabando porque somos amigos. Esse negócio de ter banda é para os outros.
Miranda - A seriedade com que levamos a banda foi o que fez ela continuar de verdade.
 
E depois do dia 1º de março, como é que vai ficar?
Fabrício - Vai ter luto oficial na cidade, vai ser ponto facultativo.
Gustavo - Até suspenderam o recadastramento biométrico. [risos]
 
Em todos esses anos, o que foi mais importante para vocês?
Miranda - É difícil falar...
Fabrício - Todos os shows do Martim Cererê. Foram incríveis.
Gustavo - Teve um show na Argentina [em 2002] que foi antológico também. Estava entupido gente, bom para caramba. E tudo deu errado!
 
"MQN é uma das pioneiras no rock de garagem em Goiânia e com certeza a que tem mais anos de estrada. Não existe uma banda de hard na cidade que não seja ou tenha sido influenciada pelo seu som cru, quebradas de bateria e vocal rasgado!"
Kaju, guitarrista da Girlie Hell
 
Serviço:
Show – R.I.P. MQN
Data: 1º de março, quinta-feira.
Local: Metrópolis Retrô (Av. 83, St. Sul)
Ingressos: R$ 15 até meia-noite.

Comentários

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  • 02.03.2012 03:00 João Paulo

    Como ja foi dito vairas vezes ai em cima, o mqn fez a juventude rockeira valer a pena nessa cidade,pelo menos pra min e mais uma renca de retardados, que gostam de barulho, de cerveja e calor humano. Tomara que o capeta os leve, vão estar em casa.

  • 02.03.2012 02:59 João Paulo

    Como ja foi dito vairas vezes ai em cima, o mqn fez a juventude rockeira valer a pena nessa cidade,pelo menos pra min e mais uma renca de retardados, que gostam de barulho, de cerveja e calor humano. Tomara que o capeta os leve, vão estar em casa.

  • 01.03.2012 12:10 Center Half

    'Eles começaram há 15 anos, quando Goiânia não passava de uma cidade interiorana e caipira, pacata e sem muita coisa para fazer"....é mesmo ? E hj então ? Raisa, minha pequena perestroika daughter, foi assim, continua assim e só vai piorar. Os bravos mamutes do MQN não são pioneiros, não foram os primeiros e nem serão os últimos a esmurrarem a faca aí pelas plagas do cerrado. Abaixam as portas do boteco com um monte de serviço prestado à, como bem disseram, uma geração. Outros já fizeram isto e sabem o peso de ouvir o ruído minguar, a lembrança sumir e sobrar quase nada. Fazem bem em cuidarem da família.....é somente ali que vale à pena !

  • 01.03.2012 12:05 Orlando

    Até que enfim vai acabar essa merda, demorou... Incrível como uma banda de um gordo arrogante que canta mal pra cacete durou esse tempo todo. O cara começou a organizar os festivais pra que ele pudesse tocar e ter moral com outras bandas, assim ele traria as bandas de fora também e teria oportunidade de ser chamado pra tocar fora de Gyn. Já foi tarde...

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