João Unes
Goiânia - Diante do cenário de recessão que a pandemia do novo coronavírus vai desenhando no Brasil, um setor específico espera sair mais forte da crise: o cooperativismo. A avaliação é do presidente do Sistema OCB/SESCOOP-GO, Luís Alberto Pereira. Em entrevista exclusiva ao jornal A Redação, ele fez uma análise sobre os efeitos da covid-19 na economia, e aposta no sistema cooperativo de crédito como o protagonista nos próximos meses.
Confira a íntegra da entrevista:
A Redação: Como o senhor avalia o cenário econômico nacional com a chegada da pandemia da covid-19?
Luís Alberto Pereira: Todos os prognósticos indicam o cenário de recessão para este ano. O tamanho da recessão é um cálculo arriscado, pois vai depender da duração e a intensidade da crise sanitária que estamos vivenciando.
AR: Quais as perspectivas de recuperação para a economia brasileira?
LAP: Acreditamos que a economia pode recuperar mais rápido do que se espera. O setor financeiro está sólido e funcionando, o Banco Central está garantindo liquidez ao sistema num valor equivalente a 16,7% do PIB e o governo planeja repassar algo em torno de 3,2% do PIB em recursos fiscais para a manutenção de emprego e renda.
Passada a crise
AR: Qual a capacidade de resiliência do cooperativismo no atual cenário e nos próximos meses?
LAP: O cooperativismo sempre sai mais forte das crises. Isto deve-se não somente ao modelo de negócio que favorece um relacionamento próximo ao associado e à intercooperação. O ponto fundamental é que as cooperativas são sociedades de pessoas, não de capital. O capital pode mudar de mãos ou perder valor, mas as pessoas permanecem juntas mantendo a força e a resistência do conjunto, ou seja, da cooperativa, como um feixe de varas.
É evidente que a crise vai afetar a todos os segmentos econômicos e as cooperativas não passarão incólumes, contudo a recuperação será mais rápida e mais vigorosa no segmento cooperativista que em outros.
AR: Como o senhor avalia o mercado de crédito para cooperativas nos próximos meses?
LAP: O sistema cooperativo de crédito está totalmente consolidado, sólido e cresce a taxas superiores a 20% ao ano. São R$ 250 bilhões de ativos e R$ 137 bilhões em carteira de crédito. Certamente o cooperativismo de crédito exercerá um papel fundamental nessa crise, qual seja, prover a taxas civilizadas o crédito a seus atuais e novos associados. No final haverá uma maior fidelização de seus atuais associados, bem como um crescimento substancial de sua base de associados.
Outro papel importante a ser reservado às cooperativas de crédito será ajudar que os recursos do Governo, fundos e bancos de fomento cheguem mais rápido à ponta. O Banco Central já deixou explícito que as cooperativas são as parceiras ideais para democratizar o crédito no Brasil.
AR: O setor cooperativista está preparado para enfrentar esta crise?
LAP: O cooperativismo tem experimentado nos últimos anos, especialmente após a criação do Serviço Nacional de aprendizagem no Cooperativismo (SESCOOP) em 1998, um processo muito interessante de formação profissional de gestores e colaboradores. Isso as tem deixado preparadas para competir no mercado e enfrentar momentos de crise, que não são raros no Brasil. Por isso é tão importante os cooperativistas defenderem a integralidade dos recursos do SESCOOP, pois os mesmos retornam em forma de profissionalização para as cooperativas.
AR: Qual o conselho que o senhor dá para o cooperado e o investidor?
LAP: Ao cooperado que mantenha a serenidade, cumpra as recomendações das autoridades sanitárias e que tenham como guia para enfrentar a crise a prática dos princípios do cooperativismo.
Ao investidor fica o convite para conhecer o cooperativismo. Desta forma, ele não passará sustos, seu dinheiro vai estar seguro e os resultados ficarão na própria comunidade, ajudando no desenvolvimento local, ao invés de ir para contas no exterior.