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REPORTAGEM ESPECIAL

Trigo do Cerrado é aposta de revolução na indústria de alimentos em Goiás

Qualidade do grão na região é um diferencial | 30.10.21 - 14:44 Trigo do Cerrado é aposta de revolução na indústria de alimentos em Goiás Goiás registrou crescimento de quase 40% na produção do trigo na safra 2021, se comparado com o período anterior (Foto: Wenderson Araujo/Sistema CNA)
 
Fernando Dantas
Especial para o jornal A Redação
 
Goiânia - Alimentos como pães e massas se tornaram indispensáveis na mesa da população brasileira. É o que mostra um levantamento divulgado neste ano pela Kantar WorldPanel, realizado a pedido da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi). Segundo a pesquisa, os pães industrializados são consumidos em 89,4% das casas no País, enquanto o macarrão está presente em quase 100% dos lares (99,6%). Outro item que se destaca, especialmente nas festas de fim de ano, é o panetone, apreciado por 52,4% dos brasileiros. 
 
Tão queridos pela população, esses alimentos têm em comum o fato de utilizarem, em sua maioria, o trigo como matéria-prima em seus processos de fabricação. O trigo é um dos principais cereais cultivados no Brasil e tem conquistado cada vez mais espaço no Cerrado, especialmente em Goiás. Na safra 2021, o Estado registrou crescimento de 39,9% na produção do grão em relação à safra anterior, com 129,3 mil toneladas, e aumento de 138% na área cultivada, com 55 mil hectares, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
 
Apesar do crescimento, a quantidade produzida em Goiás e no Brasil ainda é insuficiente para atender à demanda estadual e nacional pelo grão. Cerca de 50% do trigo que é consumido no País precisa vir de fora. Dados da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) revelam que o consumo brasileiro é superior a 12 milhões de toneladas de trigo por ano, porém o Brasil necessita importar seis milhões de toneladas para abastecer o mercado local, com negócios feitos em dólar. “O desafio é manter a rentabilidade do setor industrial. Isso por causa da variação do dólar na importação e porque os custos de produção aumentaram muito, tanto frete, quanto insumos”, destaca o presidente da Abitrigo, Rubens Barbosa.
 
Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apostam que o trigo do Cerrado é a oportunidade para expandir mais a área de produção no Brasil e reduzir a importação do grão para o País. “Estima-se que um aumento de área de 100 mil hectares na região do Cerrado poderia significar mais 300 mil toneladas de trigo e menos R$ 450 milhões de despesas com importação do grão”, afirma Jorge Henrique Chagas, pesquisador da unidade Trigo da Embrapa. “Esse cálculo é bem significativo, porque é um dinheiro que pode circular no Brasil, resultando em mais emprego e renda. Com base nisso e no potencial do trigo do Cerrado, acreditamos que a região pode contribuir significativamente para aumentarmos a produção do grão e usarmos menos trigo importado, principalmente em anos em que o dólar está muito alto, como agora”, informa o pesquisador da Embrapa Cerrados, Júlio Albrecht. 
 
Com a expansão da produção e mais produtividade no campo, o resultado pode ser conferido em melhor rendimento e competitividade para as indústrias, como a de transformação, que envolve a área de alimentação. Hoje, o trigo impacta toda uma cadeia produtiva, que vai do cultivo do cereal nas propriedades rurais às indústrias de alimentos, como moinhos, fabricação de pães, bolos, massas e bebidas. Em 2019, Goiás possuía 757 indústrias relacionadas à moagem de trigo e fabricação de derivados, produtos da panificação e fabricação de massas alimentícias, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg). Isso representava 34% das indústrias goianas de fabricação de produtos alimentícios, que empregam 9.075 funcionários. “É inquestionável a importância da indústria de alimentos em Goiás, inclusive aquelas relacionadas ao trigo. Goiás produz 44,2% de todo o trigo do Centro-Oeste”, informa o presidente da Fieg, Sandro Mabel. 

 
 
Presidente da Fieg, Sandro Mabel destaca que a Federação, em parceria com outras entidades,
tem atuado para buscar soluções na cadeia do trigo para as indústrias e para o campo (Foto: Alex Malheiros)
 
 
Segundo ele, trata-se de um setor que sempre busca a melhoria e a padronização da qualidade dos produtos. “As indústrias dessa área têm o desafio de atender à crescente demanda do segmento de alimentos até o aumento da procura por produtos à base de farinha de trigo. E apesar de apresentar capacidade produtiva para moagem, sofrem com a insuficiência de matérias-primas para atender à demanda da indústria do trigo”, explica. 
 
Sandro Mabel informa que a Fieg e a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) – ambas completam 70 anos de atuação em 2021 - têm ‘andado de mãos dadas’, com o intuito de buscar soluções para o campo e para as indústrias. “As duas federações estão, constantemente, defendendo seus representados. A Fieg tem o Conselho Temático do Agronegócio, que discute temas voltados ao setor, e a Faeg faz parte. Somos parceiros, um não se sustenta sem o outro. O objetivo tem sido estreitar ainda mais o diálogo entre os produtores de trigo e a indústria, incentivando a cultura no Estado, de forma a atender à demanda de processamento da indústria”, relata.
 
 
Se é no campo que é cultivado o trigo, um dos caminhos tem sido investir em pesquisa para fortalecer a produção e torná-la mais sustentável e competitiva. Esse é o trabalho da Embrapa, que por meio de diferentes unidades atua há décadas no Cerrado, tendo como objetivos oferecer novas variedades de trigo para ampliar produtividade, atender à demanda de indústrias e mercados, além de contribuir para que o Brasil busque se tornar autossuficiente no cultivo do grão. Na região, os trabalhos tiveram início a partir de 1970, por meio de testes e pesquisas com variedades do sul do País. Segundo o pesquisador da Embrapa Cerrados, Júlio Albrecht, na época, as variedades apresentaram baixa produtividade e falta de qualidade para uso na panificação. “Por isso, foi criado um programa de melhoramento genético na unidade Cerrados, em Brasília (DF). Através desse programa, a Embrapa lançou novas cultivares, ao longo dos anos, e identificou que o trigo deve ser produzido em duas épocas diferentes, tanto safrinha ou sequeiro, que é plantado em março e colhido nos meses de maio e junho, quanto o trigo irrigado, cultivado em abril ou maio e colhido em agosto e setembro”.
 
Júlio explica que por meio de estudos e trabalhos de campo foi possível, ainda, entender a adaptação do cereal às altitudes e temperaturas do Cerrado. “Detectamos que áreas com altitude acima de 800 metros têm mais condições de produzir trigo safrinha. Já no irrigado, as plantas se desenvolvem melhor com altitudes de 400 a 500 metros”, informa. O clima da região é favorável ao cultivo nos dois sistemas, principalmente pelo fato da colheita ser realizada no período seco, garantido a qualidade tecnológica dos grãos e livre de micotoxinas – que são substâncias produzidas por fungos e que provocam efeitos tóxicos em animais e seres humanos. 
 
À medida que a Embrapa foi desenvolvendo novas cultivares, houve registro de aumento na produtividade. Júlio diz que no início eram produzidas de duas a três toneladas por hectare. Agora, segundo ele, são mais de nove toneladas por hectare, no caso do trigo irrigado. “Em função dessa genética que a Embrapa desenvolveu, da qualificação dos produtores e das condições climáticas do Cerrado, nós identificamos que a região produz um dos melhores trigos em termos de qualidade para panificação”, enfatiza.
O pesquisador da Embrapa Trigo, Jorge Henrique Chagas, acrescenta que outra vantagem do trigo no Cerrado é a possibilidade de proporcionar a colheita em dois momentos distintos, o que permite o planejamento e o abastecimento dos moinhos locais. “O cultivo sequeiro também tem a vantagem de ser o primeiro trigo a ser colhido no Brasil, o que pode favorecer a comercialização a preços melhores”, relata. 
 
Outro ponto, de acordo com Jorge, é que a adoção do trigo traz inúmeros benefícios aos sistemas de cultivo, como a capacidade de supressão de plantas daninhas, quebra do ciclo de doenças causadas por fungos e nematoides de solo, aproveitamento da infraestrutura e dos recursos humanos no inverno, além da geração de renda na entressafra. “O trigo de sequeiro ou safrinha proporciona cobertura de solo, importante para o sistema de plantio direto no Cerrado. A diminuição da pressão de pragas e doenças sobre os cultivos favorece o rendimento de grãos e diminui o uso de defensivos agrícolas, contribuindo para uma maior sustentabilidade dos sistemas de cultivo”, afirma.
 
O pesquisador da unidade Trigo diz, ainda, que o Cerrado possui muita área disponível para o cultivo do cereal, principalmente no sistema sequeiro. “Estudos recentes estimam uma área potencial para cultivo do trigo sequeiro variando entre 1,3 milhão a três milhões de hectares. Porém, cabe considerar que são apenas estimativas, pois áreas aptas ao cultivo são também aptas para outras culturas de safrinha, como o milho e o sorgo, que também estão em expansão. Assim, considerando um sistema de produção composto pela soja e milho no verão, ou seja, na primeira safra, e pelas opções na safrinha, com base na área já ocupada pelo milho e pelo sorgo, estima-se que ainda restariam disponíveis para o trigo sequeiro cerca de 500 mil hectares, em Goiás e no Distrito Federal, e cerca de 500 mil hectares, em Minas Gerais”, relata. 
 

 Cultivar de trigo irrigado desenvolvida pela Embrapa para a região do Cerrado (Foto: Júlio Albrecht)
 
A família do produtor Alexandre Caixeta, de Vianópolis (GO), sempre acreditou no potencial do trigo no Cerrado e investe na cultura há mais de 20 anos. O pai dele, Macel Caixeta - ex-presidente da Faeg, que faleceu em 2008 -, apostava na atividade. “Quando meu pai começou o plantio, todo mundo o chamava de louco. Na verdade, ele foi visionário, porque sempre acreditou no trigo e na qualidade do grão produzido em terras goianas”, reforça Alexandre. 
 
Atualmente, na propriedade da família, chamada de Fazenda Vargem, são cultivados o trigo safrinha/sequeiro, em uma área de 200 hectares, com produção em torno de 1,5 a 2 toneladas por hectare; e o trigo irrigado, em uma área de 218 hectares, com produtividade de 6 toneladas por hectare. No local também há uma indústria de trigo artesanal. “É outro estilo de farinha, mais gourmet e 100% pura, e voltado para a área de panificação. Por mês, produzimos cerca de 30 toneladas”. 
Para Alexandre, além de todas as características favoráveis ao cultivo no Cerrado, a união de todos os elos da cadeia pode contribuir para tornar o País e o Estado autossuficientes na cultura. “Capacidade a gente tem, tecnologia nós temos. O caminho é juntar todas as pontas para fortalecer o segmento em Goiás”, defende.  
O trigo é colhido no campo e comercializado aos moinhos. Lá, os grãos são transformados em farinha para as indústrias alimentícias e farelo para alimentação animal. Da farinha, são feitos pães, massas, bolos, biscoitos, entre outros itens da gastronomia, que chegam até a mesa dos consumidores. Diferentes indústrias são envolvidas nesses processos, adotando práticas inovadoras e sustentáveis, criando postos de trabalho e gerando renda nas cidades.
 
Em Goiás, por exemplo, são seis moinhos de trigo em operação, que geram, aproximadamente, mil empregos diretos e quatro mil indiretos, sendo responsáveis ainda por R$ 500 milhões em faturamento por ano, segundo dados do Sindicato dos Moinhos de Trigo da Região Centro-Oeste (Sinditrigo). De acordo com o associado da entidade e sócio do Moinho Centro Norte, André Lavor, a farinha produzida no Estado abastece indústrias e mercados em Goiás e outros estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste do País. “Nos últimos cinco anos, todos os moinhos goianos buscaram ampliar suas capacidades de produção para aumentar a participação na venda de farinha em Goiás”, informa.
 
Com sede em Aparecida de Goiânia (GO), o Moinho Vitória é uma das indústrias que atua na área de alimentos e farinha de trigo no Estado. A capacidade de moagem e processamento de grão no moinho é de 10 mil toneladas por mês, fabricando farinha e o subproduto farelo de trigo. A empresa tem em torno de 100 funcionários diretos e 300 indiretos. 
 
De acordo com o sócio-diretor da indústria, Murilo Rodrigues da Cunha, a demanda anual por trigo, no Moinho Vitória, é de 100 mil toneladas. A maioria do grão tem origem em Goiás. “Existe uma produção regional que está crescendo muito e nós temos absorvido isso. Mas ainda compramos trigo de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e até do Paraguai e Argentina”, informa. Já a farinha produzida pelo Moinho Vitória atende mercados em Goiás, majoritariamente, além de Amazonas, Rondônia, Acre, Pará, Tocantins, Maranhão e Distrito Federal. 
 
Para Murilo, a indústria de trigo em Goiás vem se desenvolvendo nas últimas décadas de forma sustentável. “Não é um crescimento rápido, mas é contínuo. Nós tínhamos no século passado, nos anos 90, apenas uma indústria de trigo. Depois de 2000 para cá, somos seis indústrias nessa atividade. E elas se desenvolvem paralelamente ao cultivo de trigo e também às indústrias que fazem parte do sistema na fabricação de ração animal. É todo um sistema produtivo que se integra e é interdependente. É impossível ter um moinho sem ter o trigo, como também é impossível ter moinho sem ter indústria de macarrão”, enfatiza. 
 
Ele defende a atuação de entidades como Fieg e Sinditrigo no fortalecimento de toda a cadeia produtiva no Estado. “Recentemente a Faeg se juntou a nós e estamos fazendo um trabalho muito importante para o crescimento do cultivo de trigo em Goiás, de forma que seja mais rápido e se torne exponencial. Então, sem dúvida nenhuma, tem sido importante trabalhar em bloco, todos unidos”. 
Murilo lista também os diferenciais dos moinhos goianos. No caso do Vitória, ele destaca a preocupação constante com a sustentabilidade. “Nós temos uma planta moderna que foi construída, recentemente, com uma condição de eficiência energética altíssima para o setor. Foram feitos investimentos, de forma que todos os acionamentos motores da empresa são de alto rendimento e de última geração. Temos um software de gestão de energia que ajuda a indústria a gastar menos e ser mais eficiente”. Além disso, a indústria investe na política reversa de controle de embalagens. “Todas as embalagens que nós utilizamos no processo, de papel, plástico, plástico filme até papelão, tudo a gente compensa. Se eu uso 10 toneladas de papelão, eu vou lá e financio uma empresa para coletar 10 toneladas de papelão. Em Goiás, somos a única empresa que tem política reversa de embalagem há vários anos”, informa. 
 
Por fim, o sócio-diretor do Moinho Vitória acrescenta a importância de as indústrias investirem em qualificação. De acordo com ele, é fundamental adotar programas de incentivo para capacitar a mão de obra, desde estagiários até profissionais. “Nós temos planos de financiamento de bolsa, inclusive integral, para estudantes da nossa empresa. Tivemos vários alunos formados e que estão atuando no Moinho. E para isso temos o apoio do Senai Goiás [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial] e do IEL [Instituto Euvaldo Lodi]. A gente treina e qualifica as pessoas para atuarem dentro da própria empresa”, cita.
Aperfeiçoamento profissional. Foi esse o motivo que levou o padeiro Douglas Adriano Cruvinel, de 26 anos, a buscar o Senai Goiás para fazer o curso de Técnico em Panificação, na unidade da Vila Canaã. Ele atuava na área desde os 18 anos. Começou como auxiliar de padeiro em uma rede de supermercado, em Goiânia (GO), e em seis meses chegou ao cargo de padeiro. Quando completou um ano de atividade, resolveu deixar o trabalho no supermercado e passou a atuar em uma padaria em Aragoiânia (GO), cidade onde mora. “Eu sabia apenas o básico. Não tinha uma receita diferente para fazer, de um pão de queijo ou biscoito. Percebi que precisava inovar e o caminho foi ir atrás do Senai para me qualificar. Aprendi muitas coisas e várias receitas, que agora eu aplico na minha profissão”, lembra.
 

Por meio do Senai Goiás, o padeiro Douglas Cruvinel se qualificou na área da indústria da panificação (Foto: arquivo pessoal)
 
Douglas conta que a rotina não foi nada fácil, mas o foco em aprender o motivou a ir de Aragoiânia para a capital para frequentar uma sala de aula. “Quando eu estava no curso, ia trabalhar na padaria por volta das 3h30 e ficava até o período da tarde. Voltava em casa rápido para descansar um pouco e logo pegava a estrada até o Senai. Foram meses bem puxados, mas que valeram a pena”, afirma. Casado e pai de dois filhos, Douglas encontrou na panificação uma oportunidade para aumentar sua renda familiar. “Tive a chance de me qualificar e aproveitei. Por enquanto, vou trabalhar como padeiro e daqui a alguns anos pretendo abrir meu próprio negócio”, conta. 
 
Espaço de oportunidade para milhares de pessoas, assim como foi para Douglas, o Senai Goiás atende o mercado com mais de 50 cursos e capacitações com demandas específicas no setor de alimentos e bebidas. De acordo com a instrutora orientadora dessa área no Senai Goiás, Lydia Tavares, a entidade trabalha com metodologias de ensino voltadas à prática profissional, criando situações de aprendizagem que representem a realidade do mercado de trabalho, formando, assim, mão de obra qualificada e diferenciada. “As capacitações são planejadas de acordo com a necessidade dos clientes e do mercado de trabalho, com foco na qualidade, inovação e empregabilidade”, esclarece. 
 
A panificação é uma das áreas ligadas à indústria da alimentação e à cadeia do trigo, que é contemplada no leque de opções de cursos do Senai. Neste segmento, são qualificações com cursos de duração média de 200 horas, como de Padeiro e de Confeiteiro; aperfeiçoamento profissional para aqueles que já atuam no mercado, como de Tortas Finas, Bolos Decorados, Salgados e Pães Natalinos; e de iniciação profissional com cursos rápidos, também de Confeitaria e de Panificação. Lydia ressalta que a busca por cursos nesta área tem aumentado de acordo com o crescimento do segmento da panificação. “As turmas são ofertadas no nosso portfólio fixo, mas a busca é significativa. Fazemos também parcerias com cursos personalizados para empresas que queiram capacitar seus colaboradores e prefeituras que qualificam a população mais carente a conquistar empregabilidade”, informa.
Para ela, o grande diferencial de quem busca os cursos do Senai é a prática. “Todo aluno aprende, de fato, executando o processo. Não trabalhamos com aula-show ou aulas apenas expositivas. O processo de ensino e aprendizagem é executado com o aluno ‘colocando a mão na massa’”, enfatiza. Para saber mais sobre os cursos do Senai Goiás, é só acessar o site
Apoiar as indústrias de alimentos e bebidas não somente por meio de qualificação, mas sim com soluções focadas em consultorias, ensaios e pesquisa, além de desenvolvimento e inovação de novos produtos e processos. Com esse foco, o Instituto Senai de Tecnologia (IST), estruturado em Goiás pela Fieg, desenvolve um trabalho voltado para a cadeia de alimentos no Estado. “Todos podem ter acesso, desde um empreendedor que deseja montar um negócio na área de alimentos até uma indústria que deseja se preparar para exportar”, destaca a gerente do IST em Alimentos e Bebidas, Karolline Siqueira.
 
De acordo com ela, o Instituto desenvolve diversos projetos de novos produtos e processos em parceria com indústrias goianas, possibilitando o desenvolvimento de novas formulações, a melhoria de produtos e a utilização de matérias-primas para criar itens de maior valor agregado. “Também apoia as indústrias do segmento a atenderem os requisitos regulatórios e se diferenciarem no mercado, por meio de programas estratégicos, como implantação do Programa Alimento Confiável, programa de controle de alergênicos e redução de desperdícios por meio do Lean manufacturing”, ressalta. 
 
Com três linhas de atuação – ensaios microbiológicos, físico-químicos e sensoriais; consultorias e pesquisa; desenvolvimento e inovação de novos produtos e processos –, a gerente Karolline Siqueira acrescenta que o IST é um pilar estratégico para o Estado em relação à tecnologia e inovação para cadeia de alimentos e bebidas. “Por meio de uma estrutura de ponta, com profissionais com diversas expertises [são 40, de diferentes formações] e uma ampla integração com outras instituições goianas e do Brasil, o Instituto é uma referência nacional. É um braço forte da Fieg para apoiar as indústrias de alimentos a se manterem competitivas em um cenário de diversas mudanças”, enfatiza. 
 
De 2017 a outubro deste ano, mais de 700 empresas foram beneficiadas pelas ações do IST. Uma delas é o Moinho de Pedra, que possui produtos reconhecidos pelo Programa Alimento Confiável. O programa tem o intuito de implantar a cultura da produção de alimentos seguros e fornecer aos estabelecimentos das áreas de alimentos e bebidas um selo de qualidade tangibilizando os resultados, que é emitido conforme a análise das Boas Práticas de Fabricação da empresa. O processo é feito por meio de uma auditoria imparcial, conforme requisitos sanitários da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pertinentes ao segmento.
Segundo a nutricionista e diretora do Moinho de Pedra, Letícia Borges, a indústria adota a rotina de fazer análise dos produtos, com foco em priorizar a qualidade dos alimentos. Com o apoio do Instituto Senai de Alimentos e Bebidas, o Moinho passou por três consultorias como Brasil Mais Produtivo, Programa de Controle de Alergênicos e Programa de Apoio à Competitividade das Micro e Pequenas Indústrias (Procompi). “Quando tive conhecimento do Programa Alimento Confiável, sabia que nossa indústria precisava ter este selo para agregar ainda mais confiança à nossa marca. E sem dúvida melhorou o nosso posicionamento no mercado”, relata. 
 
 
O Moinho de Pedra é uma indústria de cereais integrais, fundada em Itapuranga (GO), em 1996, pelo empresário João Corrêa [pai da diretora Letícia Borges], e atualmente com sede em Goianira (GO). A marca trabalha com mais de 40 produtos como aveia integral, quinoa, semente de chia, milho não-transgênico, soja e trigo sarraceno. 
 
Letícia destaca que um dos diferenciais da indústria é exatamente a utilização do trigo sarraceno como matéria-prima. “Em uma viagem do meu pai para a Argentina, ele conheceu a farinha de sarraceno, e resolveu pesquisar mais sobre ela. Descobrimos seus benefícios nutricionais, vimos que desta farinha faz o original crepe da região da Bretanha, na França, e então resolvemos tentar processar este grão na nossa indústria. Foram meses de testes, desenvolvimento de máquinas até que, em meados de 2013, lançamos no mercado a farinha de trigo sarraceno”, diz. 
 
Ela acrescenta que a farinha é naturalmente sem glúten e rica em Rutina (vitamina P), um flavonoide que melhora a circulação sanguínea e o sistema imunológico, além de ser rico em magnésio, potássio e fibras. “A melhor parte é que é cultivado no Cerrado goiano, 100% sem glúten, pois no mesmo solo só é plantada a soja. É diferente do trigo sarraceno do sul do País, que tem contaminação cruzada de glúten, por ser plantado no mesmo solo do trigo convencional e da aveia”, orienta. 
 
Com oito colaboradores, o Moinho de Pedra processa, em média, 25 toneladas do trigo sarraceno, por ano. “Inicialmente, as vendas deste cereal eram baixas, pois apenas a região sul do Brasil tinha conhecimento dos benefícios. Em seguida, o Distrito Federal passou a ser o maior comprador da farinha de trigo sarraceno e com o aumento da procura por farinhas sem glúten, as vendas se expandiram para Goiás e São Paulo”, diz. 
 

Letícia Borges e o pai dela, João Corrêa, investiram no Moinho de Pedra,
que utiliza o trigo sarraceno como matéria-prima (Foto: arquivo pessoal)
 
 
O desenvolvimento do segmento do trigo vai além da expansão do cultivo, da pesquisa, da maior oferta do grão nas indústrias e de investimentos em sustentabilidade e qualificação profissional. Depende, ainda, de inovações e soluções tecnológicas de fácil acesso, que possam favorecer e facilitar a atuação dos diferentes elos da cadeia produtiva. Um exemplo é a plataforma OpenSolo, criada com o foco em descomplicar a digitalização das indústrias, a partir da visão do todo em um único lugar, integrando o universo de transações, serviços e controles em uma tela. O CEO da marca, Eduardo Gradiz, explica que ela oferece uma solução inédita para a cadeia de suprimentos de trigo e de frutas, legumes e verduras. “Possui como diferencial a integração de três universos, como compra e venda, serviços acessórios e visibilidade de processos de execução totalmente digitalizados, em um modelo conhecido como Tudo em Um [One Stop Shop]”.

 

 CEO da OpenSolo, Eduardo Gradiz diz que plataforma investe em
solução para a cadeia de suprimentos de trigo (Foto: divulgação)

 
De acordo com ele, por meio de celular, tablet ou computador, os participantes da cadeia poderão acessar os dados de mercado, negociar (compra/venda) em ambiente nacional e internacional, contratar câmbio para as operações de importação, frete (marítimo ou rodoviário), seguro de crédito e realizar outras transações em um único ambiente integrado, seguro e auditável. 
 
Para participar, o CEO informa que, primeiro, a empresa deve se cadastrar. Após avaliação e aprovação do cadastro, compradores e vendedores acessam a plataforma pelo celular ou computador e têm disponível todas as informações e serviços já na primeira tela. “Ali, é possível acessar dados de mercado em tempo real, aprofundar análises e estudos que ancoram a decisão de compra/venda, cotar serviços acessórios na área de produtos com contratação instantânea, acessar ofertas de trigo disponíveis e criar ofertas com customização total, terminando em negociação e fechamento de contrato digital. Ainda na primeira tela, acessam notícias com curadoria de nossa área de inteligência e podem utilizar nosso chat para toda e qualquer comunicação com mercado e com nossos especialistas”, cita. 
 
Eduardo acrescenta que a plataforma está em desenvolvimento há dez meses, com lançamento oficial na indústria de trigo previsto para este mês de novembro, e frutas, legumes e verduras para dezembro, iniciando pelo mercado brasileiro, chileno e argentino. A estrutura é composta por 16 profissionais, com média de 20 anos de experiência na agroindústria, distribuídos entre as áreas de tecnologia, operações e comercial/inteligência de mercado. “Acreditamos que com a ferramenta certa, ajudamos a criar um universo de possibilidades para toda cadeia a partir do fortalecimento das conexões entre os agentes. Convergir interesses é fundamental na busca do aumento de valor, ou o famoso ´fazer a torta crescer´. Como ainda existe muita assimetria de informação, visão e disfunções mercadológicas, enxergamos a solução ajudando os agentes e encontrarem o ponto ótimo que maximiza geração de valor de seus modelos de negócio”, enfatiza. Para ter mais informações, o interessado deve acessar o site
 


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