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Assistência Social

Quando o sofrimento gera superação

"O CAPs é peça fundamental", diz mãe | 03.04.12 - 10:10 Quando o sofrimento gera superação Foto: Fábio Lima
Michelle Rabelo

Abuso, violência, desrespeito. Os crimes sexuais contra menores têm ocupado cada vez mais espaço na mídia. Mas para onde são levadas estas crianças e adolescentes? Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são os locais mais indicados. São unidades específicas que, além de oferecerem atendimento multiprofissional em saúde mental, propõem uma nova abordagem através da reinserção social dos pacientes pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício e fortalecimento dos laços familiares e sociais.

A.M.L, 42 anos, é mãe de três meninos e traz uma história de luta e superação diária. Ela encontrou no Caps Água Viva um abrigo onde deixava os três filhos sem se preocupar. Atualmente, somente o mais velho ainda frequenta o local. “Aqui o atendimento é muito bom. O Caps é peça fundamental”, explica. Os dois menores já receberam alta e comparecem ao Centro para acompanhamentos regulares que acontecem uma vez por mês.


Quando começa a falar sobre os filhos menores, um de oito e outro de 12 anos, A.M.L se emociona. Os meninos sofreram abuso sexual por parte de um primo de 17 anos. O jovem violentou o mais velho durante dois anos antes da mãe ficar sabendo e a descoberta veio depois que o jovem abusou do filho menor. “Deixei meu filho mais novo com minha sogra e esse primo morava lá. Quando cheguei para buscar os meninos encontrei o meu filho com o cabelo molhado. Achei estranho porque eu não deixo ninguém dar banho nele. Perguntei o que tinha acontecido e ele me disse que estava brincando com o primo quando levou um tapa no bumbum. Aí eu vi uma mancha de sangue na cueca dele e perdi o juízo. Apertei ele até conseguir arrancar a verdade. Quando fui conversar com o meu filho do meio, ele começou a chorar e me contou que o primo fazia isso com ele há 2 anos".

Sobre a importância de denunciar, a mãe é firme no modo com que defende a participação da polícia nestes casos. "Levei meu menino ao médico, fizemos exames no IML e denúncia no 8º DP. As mães têm que denunciar. Depois de um tempo aconteceu a audiência e eles encaminharam meus filhos para um terapeuta. Como já conhecia o Cláudio (diretor geral do Caps Água Viva), resolvi trazer os meninos pra cá. Os dois frequentaram o Centro durante um ano e receberam alta. A melhora foi rápida. Hoje eles já esqueceram o acontecido", explica. 

O filho que ainda recebe tratamento tem 14 anos e chegou ao Caps devido ao comportamento agressivo. As atitudes eram acompanhadas de brigas na escola, agressão aos irmãos menores, respostas ofensivas à mãe. “Ele é extremamente tenso. Roe as unhas, corta os cabelos, mexe nas unhas dos pés até que a carne sangre. Em outros momentos ele é carinhosos, apegado comigo”, explica a mãe.

Até os oito anos o filho era um menino muito tímido. A.M.L explica que o filho é extremamente inteligente, mas a dificuldade de relacionamento dificultava a rotina na escola. A desconfiança de bipolaridade levou a mãe até o Caps, mas a possibilidade foi logo descartada. A bipolaridade é um transtorno mental que nas fases agudas da doença, faz com que o paciente não apresente as qualificações necessárias para responder por si.

Tratamento
Quando o menino chegou ao Caps foi encaminhado para a terapia em grupo. Os grupos são divididos por idade ou por tipo de transtorno, o que na opinião do diretor geral do Centro, Cláudio Costa de Araújo, é muito benéfico para o paciente, pois trabalha a interação com outras pessoas, estimula a convivência, a divisão de espaços e de limites. O menino não conseguiu se adaptar e A.M.L conta que o filho dizia que as outras crianças eram loucas. “Ali não é lugar para mim. Você tá louca? Você acha que eu vou falar dos meus problemas na frente de outras pessoas?”, gritava o menino para a mãe.


O tratamento feito em grupo acontece com a utilização de oficinas de artes - Foto: Fábio Lima

O garoto foi encaminhado para o atendimento individual com um psiquiátra onde foi detectada depressão, um estado mórbido, em que a mente ou o humor se encontram desequilibrados, ou seja, a tristeza e a revolta tomam conta do paciente. O filho toma medicamento e frequenta o Caps há um ano. As melhoras, mesmo que pequenas, já são sentidas pela mãe.

Todo o atendimento é feito pelo SUS. Nada é cobrado e A.M.L conta que a prefeitura disponibiliza, inclusive o sit passe quando a família necessita. Sobre a escolha do Caps, ela explica que “o atendimento é bom, as pessoas respeitam a gente, não fazem diferença. O SUS é bom, as pessoas não descobriram isso ainda”.

Sobre a descriminação, ela afirma que os olhares diferentes são inevitáveis. “Todo mundo me chama de louca. O pai fala que estamos inventando moda, frescura” Ela diz que não se importa, o que faz a diferença é o tratamento e a melhora dos filhos. “Procurar ajuda é o único caminho. Preconceito tem contra branco, preto, pobre, rico. Tem que tocar o barco pra frente e esquecer do resto”.


Comentários

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  • 14.04.2012 08:26 Kalyne

    Ótima matéria, informa o leitor com uma escrita sensibilizada e com recursos literários que nos fazem transportar até o momento captado. Também quero parabenizar o repórter fotográfico, as imagens complementaram a matéria.

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