Kamylla Rodrigues
Goiânia - O engenheiro agrônomo e pecuarista Rodrigo Franchini viu em 2014 a oportunidade de fazer o que mais gostava com uma ferramenta de trabalho que mudou sua vida. Naquele ano, ele realizou o curso de adestramento de cães para pastoreio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás) por meio do Sindicato Rural de Gouvêlandia e desde então vem se aprimorando na atividade. Em 2016, seu cão Axi e sua cadela Zefa participaram de vários campeonatos estaduais e nacionais, ficando entre as primeiras colocações. Atualmente, ele tem 11 cães da raça Border Collie em diversos níveis de treinamento, sendo que quatro deles ajudam no manejo do seu rebanho em duas propriedades: em Inaciolândia e Rio Verde.
O curso foi o pontapé inicial para que Rodrigo resgatasse um desejo antigo de trabalhar com cães. O treinamento mudou sua percepção de pastoreio e o motivou a usufruir de todas as informações que recebeu na capacitação. Para Rodrigo, o curso não promoveu apenas uma melhora significativa no manejo de animais e condições para competir, mas também proporcionou uma transformação pessoal. "Minha confiança no trabalho e a maneira de comunicar com os colaboradores ou funcionários melhoraram. Eu me senti no dever de crescer como profissional e como pessoa para conseguir utilizar o cachorro. Eu utilizo os cães todos os dias na fazenda e a cada dia eu me apaixono mais por essa atividade. Esses cães são extremamente leais ao dono ou condutor e, se conduzidos da forma correta, sem gritos ou agressões, eles mostram todo potencial", finaliza.
O curso
Para estimular outros produtores e trabalhadores rurais a trabalharem com cães de pastoreio, o Senar Goiás criou o curso há seis anos e desde então 923 alunos foram formados em 117 treinamentos. Este ano já foram realizados sete capacitações em Pires do Rio, Rio Verde, Doverlândia e Alexânia e estão previstos mais oito até setembro.
De acordo com a coordenadora técnica do Senar Goiás, Ludmyla Nágila Borges, o treinamento tem por objetivo capacitar profissionais para realizar o adestramento de cães para pastoreio por meio de técnicas adequadas, obedecendo normas de bem-estar animal. "O cão de pastoreio tem as funções de agrupamento, condução e, em alguns casos, proteção do rebanho. Assim, visando a otimização do trabalho, podemos levá-lo a exercer essas funções de acordo com a necessidade de cada propriedade", explica.
O curso, que tem como público-alvo produtores e trabalhadores rurais, é oferecido gratuitamente de acordo com a demanda. Onde houver a solicitação e a turma formada, o Senar envia o instrutor. São necessários no mínimo oito participantes, que precisam ser alfabetizados e ter idade mínima de 18 anos. A carga horária é de 32 horas, sendo dividas em quatro dias de treinamento.
Segundo o instrutor do Senar Goiás, Marcos Gonçalves de Souza, o curso ensina o produtor a fazer uma leitura correta do cão. "Nós treinamos o dono ou o condutor para que ele conheça as técnicas de trabalho e aproveite a capacidade total do cachorro. Primeiro trabalhamos a relação de parceria e confiança e depois a relação de controle", diz Marcos ao frisar que um cão bem treinado da raça Border Collie pode substituir até três peões e manejar até mil ovelhas, por exemplo, de uma só vez, a umadistância de 500 metros. "Considero essa raça a ferrari do pastoreio", reforça Marcos.
Além do border collie, o pastoreio pode ser feito com outras raças como blue hiller e kelpie. Eles podem ajudar nomanejo de bovinos, caprinos e até mesmo aves. Mas para alcançar os 100% de aproveitamento da capacidade do cão é necessário, primeiro, escolher corretamente a linhagem do animal de pastoreio. " O animal precisa ter tido pais que trabalharam na fazenda. A cada 10 filhotes que nascem, um desenvolve habilidades para trabalhar no campo", explica. O trabalho de adestramento começa a partir de um ano de idade e eles estão prontos para a lida no campo após cerca de seis meses de treinamento.
Um dos instrumentos mostrados pelo curso para o controle do cão é o apito. "A voz, você usa quando está perto do cão. Depois de uma distância de 50 metros, você precisa gritar e, quando você grita, o cão perde o foco. O apito não demonstra oscilação na voz, não mostra estresse. Com o apito você pode trabalha a uma distância de até 800 metros", completa Marcos ao finalizar que a participação desses animais em competições de pastoreio é uma consequência de bom treinamento e boa relação entre humano e animal.