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Especial Dia Das Mães

Mães solo falam sobre os desafios e as lutas para criar os filhos

Psicóloga reforça a sobrecarga da situação | 11.05.19 - 22:51 Mães solo falam sobre os desafios e as lutas para criar os filhos (Foto: arquivo pessoal)
Kamylla Rodrigues
 
Goiânia – O despertador toca. 6 horas. Angeline, de 2 anos e 4 meses, ainda tem um pouco de preguiça, mas levanta. Às 7h, ela já está na escola e enquanto isso a mãe, Amanda Martins, segue para o trabalho. No meio da tarde, elas se encontram e aí começa toda a rotina doméstica. 23h horas. Prontas pra dormir. 

Tirando ou colocando algumas atividades, a tarefa de cuidar do filho sozinha – sem a presença do pai – é a realidade de 11,6 milhões de brasileiras, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O jornal A Redação entrevistou quatro mães solo, que falaram sobre os desafios dessa tarefa diária.  
 
“Ouvimos críticas como se fossem um bom dia diário. As pessoas nos subestimam como mulheres, profissionais e mães. Eu, como mulher, sinto que principalmente os homens acham que estamos procurando um pai para nossos filhos. Quando fui me especializar em marcenaria, montei uma turma de estudo. Descobri a gestação na mesma semana que iria começar o curso e continuei firme. Mas sempre fui alvo de olhares tortos e até deboches. Mesmo sabendo muito sobre minha área, muitos homens achavam que eu não ia conseguir”, disse Amanda Martins. 
 

Amanda Martins e a filha Ageline (Foto: Lariana Souza)
 
A vida da designer de interiores e marceneira mudou depois do nascimento de Angeline. “Costumo dizer que minha filha despertou o sagrado feminino em mim, eu me descobri como mulher, como profissional, me melhorou como ser humano.” 
 
Ela se considera privilegiada, já que tem uma rede de apoio presente. “Sempre que preciso, e até quando não preciso, tenho pessoas se oferecendo para nos ajudar em todos os sentidos. Minha filha é muito amada pela família e amigos. Pessoas de grupos maternos se tornaram grandes amigas e hoje participam de nossas vidas e nós nas delas”, explicou. 
 
Realidade bem diferente na casa e na vida da radialista Camila Lourenço da Silva, mãe do Miguel Vicente, de 1 ano. “Eu tenho que me virar. Uma vez por semana apresento um Karaokê em
um Pub de madrugada e minha mãe me dá uma força. Alguns amigos também me ajudam. A família do pai e o pai buscam o Miguel pra passeios. Mas no dia a dia, sou só eu e o Miguel”, diz. 
 
E isso é apontado por ela como uma das grandes dificuldades da maternidade solo. “Não ter uma vida social ativa como antes é uma das grandes mudanças. Eu fico com meu filho 24 horas". Atuante nas redes sociais, Camila compartilha sua vida e suas experiências diárias com seus mais de 32 mil seguidores e recebe diariamente mensagens de outras mães solo, que se sentem inspiradas. 
 
Camila conta que ainda escuta muitas críticas por ser mãe solo. “Muita gente acha que isso é culpa da mulher. Ela transou, então ela quis. Tiram a responsabilidade do homem. Mas eu não fico calada. Muita gente só quer te deixar mal mesmo. Eu tenho a plena consciência de que vivemos em uma sociedade machista em que a responsabilidade do filho ainda é da mãe. Mas não me afetam.”
 

Camila e Miguel (Foto: Renata Cabral)
 
A radialista que não planejou a gravidez se assustou quando recebeu a notícia. Ela foi digerindo a ideia dia após dia. Hoje, Camila conta que Miguel significou renascimento. “Ponto de partida para uma vida nova. Ele acabou sendo uma seleção natural de pessoas, que eu pude perceber que de fato estão ao meu lado”. Camila mudou a rotina de trabalho, que era de segunda a sábado, quase o dia todo. “Hoje trabalho de casa e uma vez por semana preciso me ausentar.”
 
A esteticista Gislene Cristina Vieira, mãe do Peterson Filho, de 3 anos, também teve que mudar a rotina depois da separação do marido. A profissional, que passava o dia atendendo clientes à domicílio, teve que começar a trabalhar dentro de casa. “Montei um espaço para atender minhas clientes aqui. Assim eu conseguia ficar perto dele e conciliar as tarefas domésticas com o trabalho”, disse. 
 

(Foto: Arquivo Pessoal)
 
Gislene acredita que o maior desafio é desenvolver todas as tarefas sozinha e lidar com os questionamentos das crianças. “Nós não podemos adoecer, porque quem fará tudo por nós? A criança passa a entender muitas coisas conforme vai crescendo. Junto vem as dúvidas como, por exemplo, o motivo do pai não morar na mesma casa. Temos que ter sabedoria para lidar com essas questões”, ressalta. 
 
Mãe especial para uma garota especial
A vendedora Franciele de Jesus Oliveira é mãe da Lara Martins, de 8 anos, uma criança muito especial. Após uma parada cardíaca e convulsões, a pequena teve uma lesão cerebral. A descoberta da lesão veio no mesmo momento em que a mãe de Franciele ficou doente. A avó de Lara faleceu há três anos. “Tive que ter muito equilíbrio emocional para enfrentar a perda da minha mãe e entender que minha filha estava com uma lesão e precisaria, por muito tempo, de terapias e consultas regulares ao médico”, conta.
 

Franciele e a filha Lara (Foto: arquivo pessoal)
 
 
A mãe de Franciele era quem cuidava de Lara para que ela pudesse trabalhar. E a rotina teve que mudar. “Quando minha mãe faleceu tive que me adaptar a uma nova realidade. Lara passou a dormir na casa da vó paterna meio de semana e, aos finais de semana, ela fica comigo. A única pessoa que me ajuda na criação dela é essa avó. O pai da Lara não faz questão e não tem contato com a filha. Mas tudo bem. Eu já superei isso”, afirma. 
 
Pra ela o maior desafio é conseguir trabalhar e cuidar da Lara, que demanda maior tempo. Mas não trocaria essa vida por nada. “A Lara significa tudo na minha vida. Amor e superação. Depois que me tornei mãe passei a ter mais empatia pelas pessoas e vejo a vida com outros olhos”, reforça. 
 
Sobrecarga 
A psicóloga clínica e terapeuta comportamental, Bárbara Ferreira Borghi, explica que salvo pequenas exceções em que a mulher escolhe criar o filho sozinha, muitos casos acontecem por imposição e isso sobrecarrega. “Muitas vezes elas têm que abrir mão de outros desejos para cuidar da criança. Em tais situações, pode surgir o sentimento de abandono. Muitos homens não dão o suporte mínimo para essas mulheres, ou seja, muitas não recebem nem a pensão, precisando lidar com problemas financeiros, aceitando trabalhos informais para conseguir sustentar a família, e se sujeitando a diversas situações”, diz. 
 
Ela concorda com a opinião das mães entrevistadas e acredita que um dos principais desafios é administrar o tempo entre trabalho e cuidados com a criança e as questões financeiras. Pesquisas recentes do IBGE apontam que mais de 50% das famílias chefiadas por mulheres vivem abaixo da linha de pobreza. 
 
“A mulher precisa trabalhar para sustentar a família e, dependendo do suporte da comunidade ou, melhor dizendo, a ausência dele, o contexto de modo geral não colabora para que ela possa investir em estudo ou aprimorar suas funções. Ou seja, com a chegada de uma nova criança, os custos aumentam, mas o salário não, aumentando as dificuldades financeiras. Além disso, o cansaço é um substantivo bastante presente.”
 
Para mulheres que ainda enfrentam dificuldade de lidar com tal situação, Bábara diz que a psicoterapia é um espaço que permite esta mãe ser vulnerável e falar das dificuldades que pode estar enfrentando, permitindo que ela exponha seus medos e angústias. “O autoconhecimento e questões de resolução de problemas são temas que também podem ser abordados ao longo de um processo terapêutico, vendo que o contexto desta mulher está passando por constantes mudanças e ela pode estar entrando em contato com situações até então desconhecidas.”
 
Presta atenção! 
As mães solo entrevistadas citaram o que elas gostariam que as pessoas fizessem por elas:
 
Franciele: “Tenham mais empatia pelo próximo. O mundo mudou”.
 
Camila: “Não pergunte pelo pai da criança ou se ele paga a pensão. Escutem, ouçam aquela mãe. Pergunte se aquela mãe precisa de ajuda. Se ela quer que você olhe a criança por 20 minutos. Se ela está bem. Se ela quer comer alguma coisa. Façam perguntas assertivas e não vomite seu preconceito, frustrações só afim de especular a vida alheia”. 
 
Amanda: “Critique menos, subestime menos. Parem de achar que uma mulher não pode viver a vida dela como o homem aproveita a dele. Parem de achar que uma mãe solo está à procura de um pai para criança. Ajudem mais, não financeiramente, mas estejam presentes. Conversem e contribuíam com comentários mais humanos. Isso já são formas de contribuir com as mães e mulheres”. 
 
Gislene: “Não julguem qualquer pessoa, mãe ou não, antes de conhecer a realidade dela. Ofereça um ombro, um abraço, uma ajuda”
 
As mensagens
Elas também têm uma mensagem para você, que é mãe solo, e que, assim como elas, trava uma luta diária para dar o melhor para os filhos. 
 
Franciele: “Um Feliz Dia das Mães para todas as mães solteiras! Vocês representam o empenho e a luta que o mundo necessita. Vocês são batalhadoras e autênticas. São o orgulho de seus filhos, são a alma deles. Tudo que eles vão ser um dia será o espelho de todos os seus ensinamentos. Parabéns, guerreiras!”. 
 
Amanda: “Ser mulher, mãe e ser mãe solo está bem acima de qualquer questionamento que a vida nos impõe, somos capazes de tudo, somos capazes de conquistar o mundo com nossa inteligência e força, somos capazes de exercer quaisquer profissões, algumas mães solo com privilégios e outras sem, mas saibam que juntas somos mais fortes, apoiem umas às outras e tudo se tornará uma carga menos pesada de carregar nos ombros. Dia das mães é todo dia, mas aproveitem o dia com as pessoas que as amam”. 
 
Camila: "Respira. Há um lado muito bonito no que não veem dentro do que é planejado, além do que só ter um bebê. Existe toda uma vida de independência que você pode desbravar e pintar da cor que você quiser. E isso não é romantizar. É só acessar que é seu e o que você tem e fazer disso o melhor que você consegue". 
 
Gislene: “Vocês são guerreiras. A luta é todos os dias e o amor sempre prevalece”. 
 

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