São Paulo – Os três exames apresentados pela defesa do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) mostram que o chefe do Poder Executivo não estava infectado pelo novo coronavírus na época dos testes. Os documentos foram divulgados depois de o Estadão entrar com uma ação no STF, para obrigar que informação fosse divulgada para a sociedade brasileira em nome do interesse público em torno da saúde do presidente.
A defesa de Bolsonaro entregou ao Supremo na noite de terça-feira (12) dois exames do laboratório Sabin com codinome (Airton Guedes e Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz), mas o CPF e o RG informados nos papéis são do próprio Bolsonaro. No entanto, o terceiro exame, feito pela Fiocruz, não traz qualquer informação sobre o paciente – CPF, RG, endereço -, apenas identificando o usuário genericamente como “paciente 05”. As três coletas foram feitas no mês de março. O exame da Fiocruz, diferentemente dos realizados pelo Sabin, só foi entregue ao Supremo na manhã desta quarta-feira (13). No papel, o solicitante aparece como o Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (LACEN-DF), vinculado ao governo do DF.
O documento da Fiocruz é assinado pela chefe do laboratório de vírus respiratórios e do sarampo, Marilda Mendonça Siqueira. Questionada pela reportagem sobre o laudo, a médica confirmou que se tratava da sua assinatura no documento. Indagada sobre a falta de CPF e RG do paciente no documento, Marilda respondeu: “Aqui na Fiocruz a gente não fala direto com jornalista, você primeiro, por favor, fale com o setor de jornalismo.”
O Estadão aguarda uma resposta da assessoria da Fiocruz sobre a falta dessas informações no laudo do “paciente 5”. Mais cedo, a instituição confirmou que “recebeu e processou amostras enviadas pelo Palácio do Planalto, de acordo com o método de RT-PCR em Tempo Real” e observou que “o material enviado não tinha identificação”, sem constar, portanto, o nome do presidente.
O primeiro exame entregue por Bolsonaro (com o codinome “Airton Guedes”) foi feito em 12 de março na unidade do Sabin no Hospital das Forças Armadas, logo depois que Bolsonaro voltou de viagem oficial aos Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Donald Trump. Pelo menos 23 pessoas da comitiva brasileira já foram infectadas pelo novo coronavírus. O documento foi liberado eletronicamente pelo médico Gustavo Barcelos Barra um dia depois.
O segundo teste (codinome Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz) ocorreu em 17 de março. O documento foi liberado eletronicamente pelo mesmo médico. O terceiro teste aparece no cabeçalho com a data 19 de março.
Nos três casos foram feitos testes do tipo RT-PCR, um exame que encontra o código genético do vírus que provoca a Covid-19. É tido como uma análise mais confiável do que os testes rápidos, pois analisa preferencialmente material coletado swab, uma espécie de cotonete, da cavidade nasal e orofaringe. O Ministério da Saúde recomenda que a amostra para o teste RT-PCR seja coletada entre o 3º e 7º dias de sintomas. Neste período a carga viral é maior. (Agência Estado)