Carolina Pessoni
Goiânia - A pandemia de Covid-19 tem transformado as relações de consumo em todos os setores pelo mundo. A moda não fica fora. Recentemente, Giorgio Armani, referência mundial, publicou uma carta com uma série de considerações sobre o momento que estamos vivendo e sobre o que deve acontecer no futuro do segmento.
Em seu texto, publicado em um portal dedicado ao universo da moda e voltado, principalmente, para profissionais da área, o estilista italiano defende que serão necessárias "mudanças profundas: primeiramente, desacelerar, e, consequentemente, tornar a moda mais ética e sustentável".
A tendência apontada por Armani deve ser aplicada por todo o mundo. Tudo indica que o setor terá que mudar o seu foco para o recomeço e o início de uma nova era, com produtos mais duráveis e atemporais.

A consultora de estilo goiana Estela Daia (ao lado) destaca que a moda foi uma das áreas mais impactada com a pandemia, o que é possível perceber pelo grande número de demissões e lojas fechando as portas. "Além disso, a indústria da moda é uma das mais poluentes do meio ambiente", ressaltou em entrevista ao jornal
A Redação.
Ela destaca que a reclusão social provocada pela quarentena fez as pessoas repensarem a forma de consumir. "Essa quarentena fez as pessoas pensarem 'Por que eu tenho esse tanto de roupas no meu armário?'. Isso fez as pessoas enxergarem que é preciso reduzir o consumo e que ele seja feito de maneira consciente". A consultora reforça a tendência apontada por Armani, de que as roupas precisam ser mais versáteis, combinarem mais entre si e representarem mais verdadeiramente o sentimento e a personalidade da pessoa que as vestem.
Mercado
Entre as tendências de mercado pós-pandemia estão os brechós, um tipo de mercado comum no exterior que pode expandir com maior força no Brasil, como analisa Estela. "Muita gente vai começar a consumir muita roupa, sapato, acessórios nessas lojas, o que não é um costume do brasileiro atualmente. É um mercado que cresceu muito na quarentena e que deve crescer ainda mais", ressalta.
Outra tendência observada é o atendimento personalizado, com atenção mais dedicada ao consumidor, o que já vinha acontecendo antes e ganhou mais estímulo na quarentena. Segundo Estela, a nova moda é o slow fashion, com uma moda feita de maneira mais individual, o que era mais usual há cerca de 20 anos. "Ninguém mais quer aquela confusão das lojas onde você não é bem atendido. Eu acredito, inclusive, que o famoso fast fashion vai acabar", diz a consultora.
O conceito de moda sustentável também aparece como um movimento que ganha mais corpo neste cenário. O reaproveitamento e reciclagem de materiais para produção de roupas e sapatos já vinha como uma tendência de mercado e deve ser ainda mais forte agora.
Além de consumir materiais conscientes, as pessoas vão querer cada vez mais saber toda a procedência da roupa que estão comprando, como aponta Estela. "Acredito que as pessoas vão pensar muito antes de fazer uma compra. Vão observar a transparência da marca, como aquele produto é feito, se é fruto de trabalho escravo, qual o índice de poluição do meio ambiente para produzir aquela peça, entre outros fatores."
A tendência é que a moda seja consumida de maneira mais consciente, diz consultora de estilo (Foto: Ciete Silvério/Máquina CW)
Com a expansão do trabalho em casa, a consultora de estilo aponta que as pessoas devem pensar mais no que vestem e o que vai ser mostrado nas vídeoconferências. "É a moda acima do teclado. Essa presença digital, o nosso 3x4, o que está na tela do computador vai fazer as pessoas pensarem mais nessa aparência e tomarem cuidado com a imagem, com a roupa, com o cabelo", explica.
Novo normal
"Essa análise que muitas pessoas fizeram do guarda-roupa, a percepção de que não precisam de muitas peças e a visão de que têm muito enquanto outras pessoas não têm nada deve mudar o padrão de consumo de moda pelos brasileiros", reforça Estela. Apesar da abertura dos mercados de moda na China e Europa mostrar filas enormes e muitas pessoas aguardando a abertura das lojas de grandes marcas e compras altas, a consultora acredita que no Brasil o cenário será outro.
"Esse será o novo normal. Essa talvez seja uma das lições mais importantes deste momento que estamos vivendo. Vamos pensar muito antes de comprar e, com certeza, a moda será uma das mais afetadas por essa reflexão", encerra.