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Memórias

Boêmio, José Naves preferiu a oposicionista UDN em Buriti Alegre

Ele presidiu o Botafogo buritialegrense | 19.07.20 - 17:20 Boêmio, José Naves preferiu a oposicionista UDN em Buriti Alegre José Naves com a faixa do Botafogo de Buriti Alegre (Foto: arquivo pessoal)Jales Naves
Especial para o AR

Goiânia - Boêmio, que amava a noite, gostava de um uísque cowboy, e requisitado dançarino, que dançou em programa da Rádio Nacional, de São Paulo, a valsa ‘Celina’, especialmente composta para uma dama de Buriti Alegre, GO, José Naves viveu intensamente seus 81 anos de vida. Natural dessa cidade do sul goiano, optou pela oposição política em Goiás ao ingressar na União Democrática Nacional (UDN), em meados da década de 1940. Comerciante por mais de 50 anos, atuou em diversas áreas. Vaidoso por natureza, era extremamente elegante e chegou a ter grande quantidade de ternos de linho 120. Não gostava muito de sair de seu refúgio em sua cidade natal, mas negociava e transitava normalmente nas grandes cidades brasileiras.

Político numa cidade em que a divisão era acirrada entre a UDN e o Partido Social Democrático (PSD) – opondo-se a sua família e à família de sua mulher, Maria Ribeiro de Vasconcelos (Dona Maruca), que eram em sua maioria pessedistas fanáticos –, depois da extinção desses partidos exerceu, a partir de 1972, dois mandatos de Vereador pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), acompanhando seus grandes amigos Gerônimo Gomes Machado e Benjamin Carneiro de Paiva. Sempre militou politicamente ao lado do avô materno, Guilherme Naves de Souza, natural de Monte Santo de Minas, e que foi um dos pioneiros na fundação de Buriti Alegre; os dois participaram da instalação da Comissão Municipal da UDN, no dia 11 de junho de 1945, que contou ainda com a presença do primo João Gondim Naves. Os trabalhos foram dirigidos pelas lideranças udenistas estaduais Domingos Vellasco e César Bastos, conforme registro do jornal “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro, de 20 daquele mês, na coluna ‘Notícias Políticas’, p. 2. Ele se dizia um udenista histórico, dos tempos do brigadeiro Eduardo Gomes.

Foi um dos fundadores, em 1953, e presidente do Botafogo Futebol Clube, de preferência dos udenistas, que dirigiu com o apoio de Otacílio Ribeiro de Vasconcelos e Edgar Martins Ferreira, dentre outros. O time sempre disputava partidas emocionantes com o rival pessedista, Buriti Esporte Clube, criado em 1933, sob a direção do coronel Francisco Inácio e Clovís Ribeiro de Vasconcelos, seu cunhado, tendo nos bastidores o seu tio Josino Naves de Souza, grande opositor político. Nas vésperas de partida entre as duas agremiações o clima era de guerra; os jogadores do Botafogo tinham orientações severas para não cometer nenhum ato infracional, pois o prefeito Josino Naves mandava prender e só seria solto no dia seguinte. Em outras ocasiões jogavam contra equipes do Rio de Janeiro, que faziam excursões pelo interior goiano; tudo era motivo de rivalidade e chacotas pela cidade e tinham fortes ingredientes da luta partidária. Numa dessas excursões, a Associação Atlética Portuguesa, carioca, goleou o Botafogo buritialegrense por cinco a zero e foi um escárnio geral na cidade. José Naves procurou a Portuguesa, que já estava em Morrinhos, GO, para uma revanche, que foi realizada dias depois, com um detalhe: o estádio não tinha iluminação e enquanto o resultado não ficou em seis a zero para a equipe de Buriti Alegre o árbitro não terminou o jogo. Os adversários, maldosamente, espalharam fofocas de que o Presidente do Botafogo teria subornado o juiz, apelidado de ‘Pé de Aço’, com um corte de linho 120 em troca da devolução do vexatório placar.

A rivalidade dos cidadãos era tamanha que até na compra dos veículos a cidade se dividia, fixando suas preferências: os udenistas só adquiriam carros da Ford, de propriedade de Lincoln de Paiva, e os pessedistas os da Chevrolet, de propriedade de Josino Naves.

Certa ocasião, ele entrou no meio de um movimento dos integralistas de Plínio Salgado em Uberlândia, MG, veio na carroceria de um caminhão para Buriti Alegre gritando a palavra de ordem “anauê” e acabou sendo preso – a mãe, Agnelina Maria Naves, carinhosamente tratada por ‘Fia’, teve que ir à Delegacia de Polícia para convencer o delegado a soltá-lo e usou um argumento simples e convincente:

“O  Naves nem sabe o que é isto. Anauê, para ele, é como arroz com feijão. É a mesma coisa, senhor delegado!”, disse, para colocar um ponto final no rápido envolvimento dele com o Partido Integralista.
 
Empresário e ‘bon vivant
Filho dos paulistas Agnelina e João Lucindo de Moraes, José Naves era o segundo dos três irmãos, nasceu no dia 23 de novembro de 1919 e foi praticamente criado pelo seu avô Guilherme Naves de Souza, como a grande maioria dos primos, pois os pais tinham seus negócios nas fazendas, plantando café, trabalhando em engenhos de cana ou criando gado. A sua mãe se separou posteriormente, casou-se com o primo Pedro Borges Naves e eles tiveram uma filha, Dorvina.

José teve pouco estudo e já adolescente gostava de frequentar os locais de dança da época, como um professor, e se orgulhava de tocar a ‘Marcha dos Marinheiros’ no violão. Sua mãe falava:

“Não se preocupem com o  Naves. Desde pequeno é assim: eu fazia coxinhas para ele vender e com o resultado das vendas ele ia visitar suas amigas e voltava sem nada no bolso”.

Na família os homens se revelaram exímios empreendedores e as mulheres se destacaram como grandes professoras. Ainda jovem ele começou a se dedicar ao comércio. Primeiro, manteve sociedade com seus irmãos Antônio e Pedro numa loja de tecidos e roupas finas, de nome Cinelândia, que fez enorme sucesso, quando promoveram na cidade um desfile dos tecidos Bangu, do Rio de Janeiro, um grande evento no Clube Recreativo da cidade. Depois, compraram o Armazém Goiás, que era atacadista e distribuidor de máquinas Singer; foram cerealistas e mantiveram um frota de seis caminhões jamantas – na construção de Brasília seu irmão mais velho, Antônio Naves, trabalhou fornecendo todo tipo de materiais para a construção da nova Capital Federal. Seu irmão Pedro Naves montou a loja Insinuante.

José casou-se aos 31 anos de idade, com a jovem Maria, um linda mulher que morava na fazenda Grotão, de propriedade de seus pais Messias Ribeiro de Vasconcelos e Belchiolina Maria de Jesus, conhecida como Belchiolina Marques. Antes do casamento sua futura sogra fez uma reunião para perguntar se ele havia cansado da vida boêmia, que prontamente respondeu: “Quero começar uma nova vida”. Eles tiveram três filhos: Luiz Carlos Naves, Marta Helena Naves de Vasconcelos e Kátia Naves de Vasconcelos.
 “Meu pai levou a vida sem falar e praticamente sem pensar na palavra amanhã. Raramente isto acontecia. Era um otimista incurável. Um exemplo que me lembro bem, que comentava comigo: ‘Este ano eu compro um Monza’. Chegava dezembro e ele nem passava perto de ter o dinheiro para realizar o seu sonho, mas falava sem tristeza: ‘Neste ano não deu, mas no próximo não escapa, vai dar certo’. Era um sonhador, como seu irmão Antônio Naves”, afirmou Luiz Carlos.

Uma vez, voltando a Buriti Alegre, Antônio sugeriu que uma fábrica de sabão era um grande negócio, e rapidamente instalaram o sabão Rei, que não teve vida longa. Foram muitos os problemas: logística, dificuldade de fabricação do produto, com a falta de um químico competente, e escassez de matéria prima na região. “Mas nada o fazia perder o ímpeto de empreender, que estava no sangue da família”, argumentou o sobrinho.

José Naves montou sorveteria, bar e boate; num período levava loterias para fazer os jogos em Goiânia; e por último o Magazine Lumartia, loja de calçados que teve ajuda de dona Maruca, então já uma próspera empresária, para sua instalação. Ele se aposentou como agente fazendário, tendo atuado no Instituto de Avaliação de Imóveis (Inai), do Estado, e faleceu em 29 de dezembro de 2000. “A herança que tive foi que a vida é uma luta constante. Não temos tempo para lamentar fracassos ou perdas de oportunidade. Temos que tocar em frente”, completou Luiz Carlos.

Maria Vasconcelos Ribeiro foi uma guerreira sábia: há 50 anos ensinava a lavar as mãos economizando água, por considerá-la um bem precioso e pode escassear no futuro. Casou-se aos 19 anos e dedicou a vida à família, como um sacerdócio. Muito dinâmica e trabalhadeira, não enjeitava serviço: quando a situação financeira em casa apertou passou de madame a zeladora do Grupo Escolar Pedro II, arregaçou as mangas e foi trabalhar fora, chegando a ter quatro ocupações – servidora pública, costureira, vendia roupas feitas compradas na Av. 25 de Março, em São Paulo, e dona de casa. Quando o marido ficou desempregado sustentava a casa e com o dinheiro que sobrava, posteriormente, construiu uma bela casa no Jardim Goiás, em frente ao Estádio Serra Dourada, referência e abrigo para todos os cidadãos de Buriti Alegre que a procuravam em Goiânia. Aos 40 anos voltou a estudar para concluir o II Grau. Faleceu aos 60 anos, em 28 de janeiro de 1992.
 
Os filhos se organizaram em Goiânia
Os filhos vieram para Goiânia e cada um se organizou.

Luiz Carlos chegou em 1972, após cursar os dois primeiros anos do Científico em Uberlândia e serviu o Exército no ano seguinte. Em 4 de junho de 1974 conseguiu o primeiro emprego, extranumerário mensalista, na Procuradoria Geral do Estado, arranjado por seu pai com o amigo Antônio Lisboa Machado, titular da PGE, e ali ficou por dez anos, chegando ao cargo de Chefe do Serviço Administrativo. No período, ingressou na Universidade Católica de Goiás e concluiu o Curso de Administração de Empresas. Em 1980 começou o planejamento para montar uma indústria de parafusos, ferragens e ferramentas em geral, juntamente com seu cunhado Carlos Divino Gonçalves, o apoio incondicional de sua irmã Marta Helena, e a ajuda constante de sua mulher Luciene; em 1983 criaram a Metalúrgica Sul América, no Jardim Bela Vista, em Goiânia, e projeta levá-la para o Distrito Industrial de Senador Canedo. Já se passaram 37 anos, e a filosofia é a mesma: “uma empresa respeitada por seus fornecedores, amada por seus clientes e querida pelos seus empregados”, na qual trabalha até hoje.

Em um destes encontros promovidos pelo destino, na PGE conheceu a então estudante de Pedagogia Luciene da Graça Resende Soares, mineira de Araguari, que trabalhava na Caixa Econômica do Estado de Goiás e posteriormente foi transferida para a Procuradoria Geral do Estado, com quem se casou. O filho Hugo Alexandre Rezende Naves fez o curso de Direito na Católica e está assumindo o lugar dele na empresa, ao lado do sobrinho Carlos Vasconcelos Naves Gonçalves, administrador de empresas formado pela Católica. A filha Laíssa Rezende Vasconcelos Naves fez Relações Internacionais, especializou-se em Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas, trabalha na área de exportação e mercado futuro de soja, é casada com o engenheiro agrícola Fabio Pasinato Tinel, formado pela Unicamp e eles tem dois filhos: Enzo Naves Tinel, de 27.04.2006, e Theo Naves Tinel, de 17 de dezembro de 2015.

Marta Helena trabalhou na Saneago em Buriti Alegre e quando se mudou para a Capital conseguiu emprego no Bradesco; depois, foi contratada pela Secretaria da Fazenda do Estado, período em que atuou com o diretor do Departamento da Receita Estadual, Walter Borges Naves, e em seguida foi colocada à disposição da Procuradoria Geral do Estado. Casou-se com Carlos Divino Gonçalves, que foi gerente, por 30 anos, da Casa dos Parafusos, do empresário Gessy Ávila da Silva, o “Fiúca”. No ramo empresarial foi a fundadora da empresa Marta’s Pão de Queijo, empreendimento no qual trabalham dois dos três filhos do casal: Rafael Naves Gonçalves, administrador de empresas formado pela Católica, e Natália Vasconcelos Gonçalves, biomédica com especialização em Engenharia de Alimentos.

Kátia, que faleceu em 2019, enfrentou dificuldades no aprendizado escolar, quando a professora, a tia Dorvina Naves, descobriu que ela tinha problema nos olhos, o que fez os pais procurarem especialistas em busca de uma solução. Dona Maruca levou-a a Belo Horizonte para consultar com o dr. Hilton Rocha, na época considerado o melhor oftalmologista do Brasil, que passou uma receita; na volta, decidiu entrar em Congonhas, MG, para conversar com o médium espírita Zé Arigó, que também receitou alguns medicamentos. Quando o pai foi aviá-las o farmacêutico perguntou qual ele queria, pois as duas receitas eram coincidentemente iguais. Com todas as dificuldades ela concluiu o II Grau, casou-se com o engenheiro civil Antônio Alberto de Olival Neto e tiveram dois filhos: Ana Paula, formada em Direito pela Católica, casada com o juiz Hugo Gama, com quem tem uma filha, Maria Eduarda; e João Paulo, formado em Administração de Empresas na Católica. 

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