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Especialista em tributação, João Dário da Silva morre de câncer

Ele tinha 89 anos | 02.11.20 - 09:57 Especialista em tributação, João Dário da Silva morre de câncer João Dário da Silva e Maria de Lourdes Landim da Silva (Foto: arquivo pessoal)
 
Jales Naves
Especial para o AR
 
Goiânia - Um dos maiores especialistas brasileiros em Direito Tributário, autor de três importantes livros abordando essa temática, João Dário da Silva, 89 anos – sempre requisitado pelos governantes para assessorá-los em assuntos tributários e considerado servidor público exemplar, por sua dedicação e competência –, havia decidido parar de trabalhar e iria pedir exoneração do Governo do Estado, pois atuava na Casa Civil. Com a saúde fragilizada, três vértebras quebradas, cansado e sem muita disposição para as tarefas que desempenhou praticamente ao longo de 70 anos no Serviço Público, de redigir atos e decisões em questões relativas a finanças, com intervalos em que atuou na iniciativa privada, ele queria se aposentar em definitivo, e, depois de 17 dias na UTI, acabou perdendo a luta contra o câncer e faleceu no sábado, dia 31. Era um estudioso que se dedicou a conhecer profundamente a legislação tributária, pois tinha apenas o curso primário quando entrou no Setor Público, e só aos 38 anos de idade veio a fazer o Curso de Direito (1970-75), na Universidade Católica de Goiás, classificando-se entre os primeiros no vestibular.
 
A sua atuação na iniciativa privada se deu em intervalos dos anos 1950 e 1960, quando trabalhou em duas empresas: a Irmãos Alves, em Uberlândia, MG, implantando sua filial em Anápolis, GO, e a Boa Sorte, até o fechamento do armazém geral em Goiânia. Na época, os irmãos Ademar e Benedito Vicente Ferreira decidiram se mudar para a região Norte de Goiás, mais tarde emancipada como Estado do Tocantins, para tocar fazendas e um frigorífico. Benedito Boa Sorte foi Deputado Federal e Senador por Goiás no período e o ajudou a reconquistar o cargo no Estado. João Dário tinha feito o Curso Técnico em Contabilidade na Escola Técnica de Comércio de Campinas, do professor Rubens Carneiro dos Santos, período em que ia a pé ou de bicicleta para as aulas, e se capacitou para gerenciar empresas.
 
Coroinha do padre Pelágio e primeiro emprego
Quinto dos oito filhos do casamento de Osório Carlos da Silva com Ana de Lurdes Melo, João Dário passou a infância em Trindade, onde nasceu no da 25 de outubro de 1931, e desde cedo arranjou atividades para fazer. O pai tinha mudado para o distrito de São Geraldo, onde ajudou na organização da vila, e depois para Campinas, para ser secretário do prefeito Licardino de Oliveira Ney e, posteriormente, do primeiro prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas Borges. Em sua cidade, tornou-se coroinha do padre Pelágio Sauter, ajudando-o nas celebrações de missa, buscando sua marmita, e aos 10 anos de idade passou a acompanhá-lo nas visitas de desobriga em fazendas da região, como Rosal e Bugre, nos distritos de São Geraldo, Santa Bárbara, Nazário e Guapó, para fazer batizados, casamentos e outros atos católicos. O sacerdote, que o chamava de ‘Johãozinho’, um português mais puxado para o alemão, ia em sua mula, e ele a cavalo.
 
Depois, indicado pelo religioso alemão, que adotou Goiás para seu trabalho evangélico, chegou a fazer um ano de Juniorato no Seminário São José, no bairro de Campinas, em Goiânia. Com boa memória e tendo vivenciado momentos significativos da caminhada do sacerdote, resgatou eventos e é uma das principais testemunhas no processo de canonização do religioso, em tramitação no Vaticano.
 
Seu primeiro emprego foi no Serviço Público, como coletor tesoureiro da Prefeitura de Trindade, na gestão de seu cunhado Jonas Pires de Campos Júnior, de 1951 a 1955. Tinha participado ativamente da campanha eleitoral e, com a eleição, assumiu o importante cargo, permanecendo na função durante quatro anos. Logo depois conseguiu um emprego na Secretaria da Fazenda do Estado, como fiscal arrecadador, onde já estava o irmão Geraldo Carlos da Silva, que era fiscal de rendas, no governo de José Ludovico de Almeida (Juca), 1955-59, mas foram exonerados pelo famoso Decreto nº 29, do governador José Feliciano Ferreira (1959-1961). Juca teve uma revenda da Ford em Goiânia e ajudou os irmãos a comprarem um caminhão, cada um, que os ajudou numa atividade especial e pesada, de poucas boas lembranças: carregar areia para a construção de Brasília. Geraldo, antes, dirigia o caminhão pipa da Prefeitura de Goiânia, na gestão de Eurico Viana, para aguar os canteiros da Av. 24 de Outubro, em Campinas.
 
Casamento e filhos
No final dos anos 1940 já tinha conhecido e se encantado com a beleza e a graciosidade da jovem baiana Maria de Lourdes Landim, natural de Remanso, cidade que foi inundada e eternizada na canção de Sá e Guarabyra, e que se mudara há pouco para o lugarejo. Era filha de Alvina Garcia Landim e Odilon Paes Landim, um aventureiro que deixou sua terra em busca de ouro, em barcaças a vapor pelo rio São Francisco, por seis meses, passando por garimpos de diversas regiões de Minas Gerais e depois de Goiás, como Cristalina, Anápolis e, por fim, Trindade, onde se fixou.
 
 

João Dário da Silva e Lourdes Landim com os filhos Eugênio César, Leonardo Emílio,
Elizabeth Maria, Maria do Rosário e João Dário Júnior

 
João Dário e Lourdes fizeram o curso primário no Grupo Escolar ‘João Pessoa’. No dia 21 de julho de 1951 eles se casaram. Em maio do ano seguinte nasceu Elizabeth Maria; em outubro de 1953 foi a vez de Maria do Rosário. Dois anos depois, em dezembro, a chegada do primeiro filho homem, João Dário da Silva Júnior, num difícil parto em casa, ajudado pela irmã Maria Luiza Naves, motivou-o a soltar fogos de artifício para comemorar; o cunhado José Rodrigues Naves Júnior, sempre atencioso, encarregou-se da delicada aplicação, na criancinha, das doloridas injeções recomendadas pelo médico.  A quarta filha, Marta Cristina, não teve sorte e faleceu com apenas três meses, em 1958. No dia 20 de maio de 1960 faleceu, no parto, a sua cunhada Maria Paes Landim Vieira, ‘tia Dudu’, e o casal assume o sobrinho Eugênio César, que registra e cuida como filho, inclusive sendo o único a seguir a carreira dele, ingressando no Fisco estadual. Por último, em 1965, nasce Leonardo Emílio, único parto em hospital e que igualmente exigiu cuidados especiais.
 
Recuperação do emprego e carreira
Sempre muito estudioso, dedicando um tempo especial à leitura, João Dário destacou-se pelos conhecimentos e pela atuação profissional, com rigor e seriedade no trato dessas questões. O emprego no Estado foi reconquistado com a eleição de Otávio Lage de Siqueira para o Governo estadual (1966-1971), época em que a função passou para Auditor Fiscal e a partir de quando dedicou-se mais à função. Somente ao retornar ao cargo ele ocupou uma função comissionada, a Chefia de Gabinete do Departamento da Receita Estadual, por dois anos, quando eventualmente respondia pela direção do órgão. Durante o período em que trabalhou foi um técnico que se especializou, elaborava pareceres e atos governamentais.
 
Escreveu dois livros, ambos com grande repercussão. O primeiro, “ICM Goiás”, no qual comentou o Código Tributário do Estado, com mais de 300 páginas, e “Convênios de Goiás”, discorrendo sobre as questões tributárias, em especial os acordos entre os estados, sendo esta obra em dois volumes. Um de seus planos, para quando se aposentasse, mas que não realizou, era escrever um livro, que se chamaria “Beco dos Aflitos”, para discorrer sobre uma das ruas centrais de Trindade que, na época das romarias, torna-se um local de difícil passagem, pela quantidade de pessoas que por ali transitam.
 
Filhos se destacam
A filha primogênita, Elizabeth Maria da Silva, que se baseou no exemplo do pai para cursar Direito na UCG (1972-76), pois havia se preparado para fazer Medicina, e fez brilhante carreira na Magistratura. Mas sua trajetória foi difícil. Casou-se em 1977, com Vilmar de Oliveira Carneiro, mudou-se para Brasília, quando prestou concurso para escrevente juramentada no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, não viu possibilidades de assumir e decidiu voltar para Goiânia no ano seguinte, juntando-se a uma amiga, Luzia Aguiar de Farias, estudaram e prestaram concurso para o Ministério Público Estadual – o avô paterno, Osório Carlos da Silva, foi Promotor Público, o que a incentivou. Passou e assumiu a função no dia 4 de dezembro de 1978, indo primeiro para Turvânia, depois para Nazário e, finalmente, para Paraúna, mas ficou descontente com o salário. Decidiu então ingressar na Magistratura, passando a estudar para concurso, quando ficou em oitavo lugar e deixou, depois de cinco anos, o Ministério Público. O casal teve dois filhos, os dois formados em Direito pela UCG: Letícia, que seguiu a carreira da mãe e é Juíza em Brasília, casada e tem dos filhos, Miguel José e João Gabriel; e Gustavo.
 
Elizabeth Maria tomou posse no cargo de Juíza de Direito em 8 de outubro de 1983, indo para a pequena Urutaí, de difícil acesso, sem asfalto, a 120 km de Goiânia, onde respondeu pela Comarca de Ipameri e ficou cinco anos (1983-88); em seguida, para Cristalina, 1988-1991; e finalmente, por merecimento, para Goiânia, chegando em agosto de 1991: primeiro ficou na 1ª Vara da Fazenda Pública Estadual, para atuar numa área em que seu pai era especialista, o Direito Tributário, na qual ficou por 20 anos (1991-2011). Em 2011, por merecimento, alcançou o cargo de Desembargadora e atualmente preside a 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado e integra três comissões: de Ensino Judicial, de Organização Judiciária e Regimento Interno, e de Seleção e Treinamento.
 
Maria do Rosário e Silva fez o Magistério no Colégio Estadual Castelo Branco e Pedagogia na Universidade Católica de Goiás. Antes da conclusão do curso conseguiu uma vaga de professora no Colégio Claretiano Coração de Maria, em Goiânia, depois atuou na Coordenação Pedagógica e ali ficou até se aposentar, 31 anos depois. Solteira, passou a cuidar dos pais e dos sobrinhos.
 
João Dário da Silva Júnior formou-se em Direito na UCG, trabalhou na Caixa Econômica do Estado de Goiás (Caixego) e foi diretor do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. É casado com Marilda Macedo Loyola, formada em Psicologia na Católica e secretária do cunhado, dr. Leonardo Emílio da Silva. As filhas são médicas pela UFG: Flávia é geriatra e Fernanda é endocrinologista.
 
Eugênio César da Silva, graduado em Administração de Empresas pela UCG (1978-82), foi auditor Fiscal dos Tributos Estaduais na Secretaria de Estado da Economia, aposentando-se ao completar 40 anos de atividades, voltados para as áreas de tributação, administração, informática, treinamento e assessoramento. Foi líder goiano no Encontro Nacional dos Coordenadores e Administradores Tributários (Encat) e coordenador técnico nacional dos documentos fiscais eletrônicos (CT-e e MDF-e). É casado com Luciana Raizer Mizael, assistente social, e não tiveram filhos, adotando três crianças, todas nascidas no Ceará: Alexandre, de 2006, Rafaela, de 2007, que faleceu com 10 anos, ambos de Quixadá, e Pedro José, de 2019, de Camocim. Sensível e vendo a dificuldade da irmã Rafaela em enfrentar a miopia, Alexandre, quando tinha sete anos, escreveu e ilustrou o livro “A princesa que usa óculos”, que teve grande repercussão – foi entrevistado no Programa ‘Encontro’, de Fátima Bernardes, pela TV Globo –, e se tornou palestrante e escritor, já com mais seis livros publicados.
 
Caçula, Leonardo Emílio da Silva fez Medicina na Universidade Federal de Goiás, que concluiu em 1989; mudou-se para São Paulo, para continuar seus estudos, casando-se com a enfermeira Mônica Agostini, que lhe deu um casal de filhos, gêmeos, morrendo no parto ela e a filha Paola, sobrevivendo o filho Pedro Agostini e Silva. Posteriormente, ele se casou com a fisioterapeuta Paula Cristina.
 
Leonardo Emílio é um dos maiores especialistas brasileiros em cirurgia videolaparoscópica, endoscopia digestiva e cirurgia do aparelho digestivo. Fez Residência Médica (1992) em Cirurgia Geral pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde concluiu o Mestrado (1995) e o Doutorado (2004). Foi chefe de equipe cirúrgica do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo no período entre fevereiro de 1994 e fevereiro de 2000, sob a direção do professor doutor Samir Rasslan. No período, foi médico pesquisador da Divisão de Experimentação do Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sob a direção do professor doutor Maurício da Rocha e Silva. Atualmente é Professor efetivo do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFG, por habilitação em concurso público de provas e títulos; e diretor do Instituto de Cirurgia do Aparelho Digestivo e Obesidade, do Hospital Unique em Goiânia. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Cirurgia Geral, atuando principalmente na área de cirurgia de mínima invasão nos seguintes temas: diabetes mellitus tipo 2, cirurgia bariátrica e metabólica, cirurgias do trato digestório. Integra o Conselho Federal de Medicina e a Câmara Técnica de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Conselho Regional de Medicina de Goiás e do CFM.

Comentários

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  • 29.09.2021 07:51 João Nicolau

    Tive a honra de trabalhar com este exemplar senhor na Casa Civil. Era grande amigo de meu pai, Publius Lentulus Artiaga Nicolau, falecido em 2014. Ele, João Dário, inclusive queixou-me pelo fato de não ter sido comunicado do velório de meu pai. Devido à pandemia, fiquei afastado do serviço público por causa de comorbidades e somente ontem fiquei sabendo do seu passamento, quando fui visitar os amigos da casa civil. Amigo João Dário, embora tardiamente, desejo muito que Deus o tenha em bom lugar. A família, que Deus leve consolo a todos. Fica aqui os meus sentimentos e meus pêsames a todos.

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