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Valorização

Academia de Letras de Caldas Novas promove talentos, diz Álvaro Catelan

Professor se mudou para a cidade nos anos 80 | 02.03.21 - 15:20 Academia de Letras de Caldas Novas promove talentos, diz Álvaro Catelan Professor Álvaro Catelan (Foto: divulgação)
Jales Naves
Especial para o jornal A Redação

Goiânia - Ao se mudar, nos anos 1980, para Caldas Novas, e conviver com pioneiros que muito contribuíram com a história da cidade e de Goiás, e não eram devidamente lembrados e nem valorizados, o professor Álvaro Catelan, que estava revolucionando a cultura e o turismo locais, teve a ideia de criar uma instituição para reconhecer a produção cultural e promover os talentos da comunidade. Ele gostava de passar bons momentos conversando com o professor Genesco Ferreira Bretas e com o político Oscar Santos, que tinha sido prefeito, ambos com uma trajetória rica e exemplar, e acabaram aprovando “mais uma invenção" do novo amigo, que conheceram na chegada dele à cidade, como radialista, escritor, boa praça e naquele momento Secretário Municipal de Turismo e Cultura.

Nessa incursão ao mundo da cultura da cidade, sentiu a necessidade de reunir e unir mais os artistas da terra, estimular a criatividade de cada um, resgatá-la e dar publicidade ao que tinham feito e estavam fazendo, para que todos a conhecessem. Assim surgiu, em 1990, a Academia de Letras e Artes de Caldas Novas (ALACAN), tendo como referência algo que já existia no Brasil desde o século XVIII, como a Academia dos Felizes, a Academia dos Esquecidos e outras, na Bahia.
 
Café e pão de queijo
A reunião com os dois conselheiros foi num sábado à tarde, na casa do professor Bretas, “regada a cafezinho e delicioso pão de queijo, tudo ordenado pelas mãos da professora Maria Adélia Bretas”.

         – “Enquanto tomávamos café, comíamos o glorioso pão de queijo, e o professor Bretas deixava cair mais uma brasa de seu cigarrinho de palha em sua camisa, eu expunha minha proposta”, disse. “A princípio, os dois pioneiros estamparam uma expressão em que se misturava perplexidade com alegria. Maria Adélia mantinha sempre um olhar de apoio e confiança. Oscar Santos, criador da primeira Banda de Jazz em Caldas Novas, quando ainda jovem, ria, achava que poderia ser possível e que, no fundo, era uma boa iniciativa; Genesco, mais reservado, ria e brincava: ‘esse professor Catelan tem cada ideia’. Ele dizia isso porque certamente lembrava que ambos participaram comigo da restauração da casa, no pátio do Sesc de Caldas Novas, onde pernoitou o cientista francês Auguste de Saint-Hilaire”.

Do encontro com os dois mestres ele saiu em busca do poeta e jornalista Luiz de Aquino, que considera “uma figura marcante de Caldas Novas”, articulador, conhecia todos; o pai dele, Israel de Aquino Alves, era músico, tocava vários instrumentos e tinha um conjunto regional. “Luiz, como sempre, se empolgou e começou a fazer cálculos, conjecturas, futurologias e tratou de convocar o jornalista Alírio Afonso de Oliveira para ajudar nessa árdua tarefa”, acrescentou.
 
Surge a Academia
A criação da Academia, no início, parecia coisa de colegiais, todos entusiasmados com a iniciativa. Com a decisão de levar adiante a fundação da entidade, levantaram 20 nomes ligados às artes e à literatura, prepararam tudo e convidaram o escritor José Mendonça Teles, na época presidente da Academia Goiana de Letras, para o início da nova entidade, dar posse aos seus membros e fazer uma palestra de abertura, sobre a importância daquele evento. “Foi, indubitavelmente, um momento expressivo. Estava lançada a sorte”, disse Catelan, que naquele dia 31 de agosto de 1990 foi eleito primeiro Presidente da entidade.

Na empreitada conseguiu o apoio de pessoas dedicadas à vida social e cultural. Dentre essas, Maria Cândida de Godoy, conhecida como dona Rolinha, “uma figura ímpar em Caldas Novas; Enoc Correia da Silva; professor Genesco Bretas, Oscar Santos; Sonia Ferreira, dona de um entusiasmo avassalador, e Luiz de Aquino, grande articulador, que punha tudo a girar”. Contou também com outras pessoas, “que foram de fundamental importância para esse primeiro ano de minha gestão”, relata.

Os momentos iniciais da ALACAN foram muito intensos: pintores trabalhando mais, alguns escritores que tinham publicações avulsas trataram de organizar seus textos e lançar seus livros, cantores que ganharam mais espaço, “enfim, aconteceu algo notável”, afirmou. Era o que se pretendia: dar vida à cidade, criar uma dinâmica cultural, oportunizando o resgate daqueles que estavam parados, a introdução de novos atores nesse cenário, e a comunidade ganhando mais iluminação e alegria.

Dentre as iniciativas, as exposições de artistas plásticos e de flores do cerrado, a partir de ramos e raízes trabalhados, o recital de poesias e os saraus literários em propriedades rurais. Como a realizada na fazenda do Pedrão, que tinha um casarão que a todos maravilhava, e que posteriormente Catelan tentou tombar como patrimônio histórico e cultural. Também os almoços com acadêmicos, quando Sonia Ferreira fazia decorações especiais, muito bonitas, nesse espírito de congregação da Academia. Nessas ocasiões, as boas histórias predominavam, como a do professor Bretas de que, quando jovem, atuou como servente de pedreiro para ajudar o pai, Josino Bretas, na construção da primeira escola de Caldas Novas e do Fórum.
 
Rádio Pousada e emancipação
Tudo começou na década de 1980, quando a Pousada do Rio Quente, pelo diretor Walter Rodrigues, convidou Catelan para reformular as partes técnica, artística e jornalística da Rádio da empresa. Ele aceitou e levou dois excelentes profissionais da área, Ladislau Couto e Waldivino Rodrigues, e fizeram a maior revolução e inovação na emissora. Mudaram-na de endereço, adquiriram equipamentos, treinaram o pessoal e contrataram novos profissionais – um deles foi o radialista Evandro Magal, que não estava bem em Morrinhos e acabou se tornando político em Caldas Novas. Tiveram sucesso nessas mudanças, ressaltando que foi grande o apoio da empresa, especialmente no aspecto financeiro. ‘Temos que admitir que o patrão era generoso”, disse.

Depois, participou do processo de emancipação de Rio Quente. Concluído o trabalho, com êxito, buscou nova empreitada.
 
Conquistas da cultura
Nas eleições municipais de 1988 a Rádio Pousada, que dirigia, foi imparcial nesse pleito, sem demonstrar preferência a nenhum dos dois candidatos – o que até então não era comum na política; por orientação da empresa a emissora sempre tomava partido. Com a vitória do dr. Antônio Sanches, eleito Prefeito de Caldas Novas, ele reconheceu a imparcialidade nessa disputa e o convidou a assumir o cargo de Secretário de Turismo e Cultura do município, no qual permaneceu de 1989 a 1993.

Nessa vivência, como Secretário, percebeu o quanto a cidade precisava de investimento e expansão de suas veias culturais, e saiu em busca de apoio às suas propostas. Foi encontrar portas abertas na Odebrecht, que tinha obras de Furnas; marcou almoço do Prefeito e Secretários do Município com dirigentes da empresa, quando conversaram sobre os projetos para a cidade, e, depois, com empresários locais.

Esses encontros permitiram que ele criasse o melhor carnaval de rua de Goiás, com a presença de um bloco de 120 passistas da Escola de Samba Portela, do Rio de Janeiro, e os concursos para escolha do Rei Momo e da Rainha do Carnaval da cidade.

Ainda, a empresa contribuiu para a restauração do Casarão dos Gonzaga, no centro da cidade, que estava com as paredes desmoronando e cuja primeira reforma começou no governo de Henrique Santillo. Com a conclusão dos trabalhos, a Secretaria realizou ali concursos estaduais de catireiros, fiandeiras, rezadeiras de ladainhas e raizeiras. Inclusive, contou com a colaboração de um médico fito terapeuta indiano, que tinha um programa na Rádio Difusora de Goiânia e deu palestras para o pessoal.

Com o apoio de empresários de eventos de Brasília conseguiu a restauração do cinema local, que estava jogado para as traças, não funcionava, e esse trabalho possibilitou uma nova decoração, a troca da iluminação, do palco etc. Passou a Cine Teatro, abrindo espaço para a apresentação de shows e espetáculos, como o ‘Analista de Bagé’, com o ator Cláudio Cunha, com três dias de casa lotada; e conferencistas de renome. Foram numerosos shows de artistas da terra, como André e Andrade, Geraldinho Nogueira e Hamilton Carneiro, dentre outros.

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