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Agronegócio em alta

Ferramentas tecnológicas atraem jovens para trabalho no campo

Qualificação garante maior produtividade | 30.09.21 - 14:37 Ferramentas tecnológicas atraem jovens para trabalho no campo Tecnologia fortalece atividade de jovens no campo (Foto: divulgação Sebrae)
Lucas Cássio
 
Goiânia – Trocar o campo pela cidade era uma prática convencional entre os anos de 1960 e 1980, quando o chamado êxodo rural esteve em alta. A migração dos trabalhadores rurais muitas vezes acontecia na tentativa de buscar melhorias de vida e geração de renda nos centros urbanos. Porém, essa realidade tem mudado com a chegada de ferramentas tecnológicas e novas oportunidades no agronegócio. Fator que atrai cada vez mais jovens para o trabalho no campo em Goiás e também em outros Estados.
 
Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o êxodo rural, nas décadas de 60 e 80, contribuiu com quase 20% de toda a urbanização do país, passando para 3,5% entre os anos 2000 e 2010. Outro levantamento que aponta a queda do êxodo rural é do Censo Demográfico de 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo registrou uma queda de 1,31% para 0,65% na taxa de migração do campo para a cidade.
 
Douglas Fernandes, de 28 anos, supervisor de Controle e Rebanho da marca Nelore OL, é um dos exemplos de jovens que resolveram fazer carreira no agro. Em 2008, aos 15 anos de idade, ingressou no Grupo pertencente à marca como jovem aprendiz. “A partir desta oportunidade comecei a vivenciar totalmente a atividade, que virou uma vocação e uma paixão para mim”, relata. Douglas conta que assumiu diversas responsabilidades até chegar ao cargo atual. “Meu trabalho sempre esteve relacionado à pecuária, passando por setores importantes como o confinamento do grupo, que reúne mais de 20 mil cabeças de gado ao ano”, diz. 
 
Douglas Fernandes foi promovido em 2021 para o cargo de supervisor de Controle de Rebanho, auxiliando também na parte estratégica da comercialização de genética para fortalecer e fomentar a marca Nelore OL (Foto: Nícma Produtora)
 
Estudante do curso Superior Tecnólogo em Agronegócio e Superior Tecnólogo em Marketing Digital, Douglas considera o agro uma atividade inovadora, sempre buscando alternativas para produzir mais e com qualidade. “As ferramentas tecnológicas usadas hoje são inúmeras”, ressalta. “Quando se olha para a agricultura, o investimento pesado em máquinas, equipamentos, adubos e fertilizantes agrícolas causa um interesse grande para jovens que desejam seguir na área”, acrescenta. 
 
Segundo o profissional, que já soma 13 anos de experiência, o uso da tecnologia na pecuária impacta diretamente no melhoramento genético das raças. “Na seleção para melhoramento genético da raça Nelore, por exemplo, as fazendas, junto a programas e associações, já fazem uso de ferramentas tecnológicas importantes na seleção de touros melhoradores, como o uso da tecnologia genômica, que visa aumentar a acurácia das avaliações de reprodutores jovens, selecionados para aumentar a eficiência produtiva e reprodutiva dos rebanhos, buscando aumentar a rentabilidade das fazendas”, explica Douglas.
 
Superintendente do Grupo Otávio Lage, Rodrigo Mendes avalia que as novas oportunidades de crescimento no agronegócio têm estimulado novos talentos.  “Antes, ele (o agro) era visto como um setor arcaico, com coisas desatualizadas. Hoje, o agro mudou. A inovação também chegou para o setor”, garante Mendes ao citar o crescimento de jovens e adultos jovens no segmento. 
 
Rodrigo reforça que o caminho inverso, de voltar a trabalhar no campo, acompanha o avanço das novas tecnologias. Um levantamento do IBGE mostra que o acesso à internet na zona rural passou de 75 mil propriedades, em 2006, para quase 1,5 milhão em 2017. Esse avanço contribui para o desenvolvimento dos maquinários agrícolas e para novas soluções no campo.
 
Rodrigo Mendes na lavoura de soja da Fazenda Laguna, em Barro Alto - GO (Foto: arquivo pessoal)
 
“Uma máquina que antigamente era um trator arcaico, que não tinha tecnologia, hoje tem tudo de primeira, com computador de bordo e GPS, além de outras tecnologias. Isso traz inovação para o campo, vontade e interesse das pessoas estarem nesse meio”, acrescenta o superintende do Grupo Otávio Lage, que reúne, no mix de atuação, venda de bovinos para abate, touros reprodutores, látex e grãos.
 
Segundo dados Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), a presença de jovens no campo, da faixa entre 18 a 35 anos, passou de 20%, em 2013, para 27%, em 2017, representando um aumento de 7% no período. O engenheiro agrônomo Renato Jales Carvalho, de 33 anos, faz parte desses dados. Ele acredita que existe um movimento recente e crescente onde o desejo de atuar no campo tem se fortalecido entre os jovens. “Hoje a conectividade nas fazendas aumentou, possibilitando uma boa qualidade de vida para quem trabalha na produção agropecuária”, ressalta. “A agropecuária hoje não é uma atividade ultrapassada, onde as pessoas são pouco instruídas. O rótulo de que quem trabalha na "roça" perde força a cada dia”, afirma.
 
Renato Jales, com o filho, na lavoura de milho da Fazenda Lavrinha, em São Luiz do Norte – GO (Foto: arquivo pessoal)
 
Renato tem origem do campo. O fator contribuiu para a escolha da sua profissão. Ele concorda, no entanto, que fatores tecnológicos têm dado mais valor ao trabalho na zona rural. “Hoje cada trator da fazenda tem piloto automático com sinal emitido via satélite, sistemas complexos de monitoramento na distribuição de sementes, adubos e corretivos, drones, sensores de solo, aplicativos de monitoramento das máquinas em tempo real, monitoramento das lavouras por imagens de satélites. As máquinas estão modernas, seguras, eficientes, confortáveis e tecnológicas”, exemplifica Renato, que atua como gestor de Produção Agrícola, sendo responsável pela gestão de lavouras de soja, milho para produção de semente, integração lavoura pecuária e manejo de pastagens.

Em alta
Dados mais recentes confirmam a tendência de aumento da participação jovem no setor do agronegócio. Segundo o Painel de Informações do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 861.814 pessoas foram admitidas no País para trabalhar no setor agropecuário só em 2020. Do total, 368.441 tinham até 29 anos de idade. Em 2021, de janeiro a setembro, o setor demostra que deve fechar o ano com resultados ainda melhores que do ano passado. Só nos primeiros nove meses do ano, 748.709 pessoas foram admitidas no setor, sendo 324.193 com até 29 anos. 
 


Taxa de admissões, segundo dados do Painel de Informações do Novo Caged 
 
 
Apesar da crescente, um dado que chama atenção é o da escolaridade. Do total de admitidos em 2021, apenas 13.096 possuem ensino superior, 263.008 têm ensino médio completo e 114.238 possuem ensino fundamental completo. Outros 14.394 se consideram analfabetos. 
 
Taison Gomes Souza, de 25 anos, reconhece a importância da qualificação profissional para conquistar uma carreira de sucesso no agro. Em 2012, aos 15 anos, ainda estudante do ensino médio, o jovem ingressou como aprendiz no almoxarifado do Grupo Otávio Lage. Desde então, o interesse pelo setor foi estimulado. “As oportunidades dentro da empresa foram surgindo de acordo com o que fui me qualificando. Eu sempre fazia cursos oferecidos pela empresa e cursos complementares”, relata. Hoje, formado em Agronomia, Taison ocupa um cargo de liderança na empresa, o de supervisor de Produção Agrícola, setor voltado para produção de grãos. 
 
Qualificação de alto valor
No sentido de fortalecer a atuação do jovem no agronegócio, a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás), conta com uma série de cursos e treinamentos voltados para qualificação da mão de obra de trabalho no campo. Iniciativas como essa são consideradas primordiais para fortalecer a atuação do profissional do campo. “É parceiro forte e importante”, avalia o gestor de Produção Agrícola, Renato Jales, que fez nos últimos anos inúmeras qualificações por meio do Senar, como operação de máquinas, sistemas de irrigação e agricultura de precisão.
 
Além da extensa plataforma de cursos e treinamentos, o Senar Goiás conta com uma iniciativa voltada exclusivamente para os jovens. Se trata do Programa Faeg Jovem. Desde a sua criação, em 2015, cerca de 1,5 mil jovens já passaram pela iniciativa. “A melhor forma de se preparar o jovem para trabalhar no agro é através de uma capacitação técnica de qualidade”, afirma o gerente de formação profissional rural do Senar Goiás, Leonnardo Cruvinel Furquim. 
 
Encontro Estadual Faeg Jovem 2020, com a presença do presidente da Faeg e idealizador do programa, José Mário Schreiner. (Foto: Fredox Carvalho)
 
O Programa Faeg Jovem visa a promoção da liderança, empreendedorismo e sucessão a jovens de Goiás que atuam com agronegócio e que estejam vinculados à inovação através de eventos, cursos e processos, em etapas classificatórias e eliminatórias, de formação de lideranças regionais. O Programa é baseado em três pilares: liderança, empreendedorismo e a sucessão familiar. Diferentes temáticas, como gestão de pessoas, aspectos legais, empreendedorismo, comunicação e marketing e outras capacitações com ênfase no agronegócio, proporcionaram uma nova visão do mercado.  “Os jovens também acessam o portifólio do Senar, que conta com mais de 300 cursos presenciais e mais de 20 cursos EaD. Eles acessam isso para que consigam complementar seu desenvolvimento”, destacou o gerente do Senar Goiás.
 
Para Leonnardo Furquim, é através da orientação adequada, como as proporcionadas pelos treinamentos do Faeg Jovem, que a nova geração de trabalhadores do agro vai “saber todas as técnicas que envolvem o aumento da produtividade e aprender também sobre gestão”. “Saber, por exemplo, quanto custa para produzir um litro de leite e ter melhores técnicas de comercialização”, pontua.
 
Leonnardo Furquim: Existe mais tecnologia hoje em uma semente de soja do que em um smartphone que a gente carrega no bolso. (Foto: divulgação)
 
Leonnardo Furquim pondera que os jovens têm uma facilidade de adesão e de processamento das oportunidades tecnológicas e inovadoras com maior facilidade. “Sabem o que são agritechs, startups, como funciona a agricultura de precisão, sabem processar sensores, trabalhar com big datas, internet das coisas e assim vai”, diz. “Existe mais tecnologia hoje em uma semente de soja do que em um smartphone que a gente carrega no bolso. O jovem que sabe aplicar tecnologia enxerga um leque muito grande de atuação e, se ele quiser, se tiver interesse, vai longe nesse setor [agronegócio], que só cresce”, finaliza. 
 

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