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REPORTAGEM ESPECIAL

Mais de 35% das startups do agronegócio brasileiro são de bioinsumos

Projeto em Goiás estimula produção sustentável | 30.09.21 - 15:56 Mais de 35% das startups do agronegócio brasileiro são de bioinsumos (Foto: Divulgação)

Carla  Lacerda
 
Goiânia - Produtos feitos a partir de microrganismos, materiais vegetais, orgânicos ou naturais e utilizados nos sistemas de cultivo agrícola para combater pragas ou melhorar a fertilidade do solo, os bioinsumos extrapolaram de vez os limites de estudos teóricos para fazer parte do dia a dia dos produtores rurais. De acordo com relatório elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa) junto a outros parceiros, e divulgado recentemente, mais de 35% das startups do setor rural no País estão relacionadas aos chamados insumos biológicos. O número foi apresentado pelo representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Alessandro Cruvinel, em entrevista exclusiva ao jornal A Redação
 
O Radar Agtech 2020/2021 mostra que a categoria fertilizantes, inoculantes e nutrição vegetal (23,1%), somada à de sementes, muda e genômica vegetal (12,1%), totaliza 35,2% das startups mapeadas no segmento denominado “antes da fazenda”. Em números absolutos, significa 70 em um universo de 199. Cruvinel explica que o documento, que está em sua segunda edição, faz o levantamento sobre o estágio da cadeia de valor em que a startup agtech está presente. A produção agropecuária está comumente associada com o que ocorre dentro da propriedade, mas o que vem antes e o depois das porteiras são igualmente relevantes para o mundo rural. 
 

Fonte: Radar Agtech 2020/2021
 
Em Goiás, o cenário se mostra ainda mais promissor, já que, por aqui, a utilização dos bioinsumos foi respaldada por lei. Aliás, o Estado foi o primeiro a implantar um programa aos moldes do lançado pelo Mapa em 2020. Pioneirismo que rendeu uma live promovida pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) com a participação da ministra Tereza Cristina e do governador Ronaldo Caiado.
 
 
Para o titular da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Tiago Mendonça, a criação do Programa Estadual de Bioinsumos - oficializada por meio da publicação da lei nº 21.005, de 14 de maio de 2021 - sinaliza que a produção rural sustentável é prioridade para Goiás. “É a junção entre iniciativas pública e privada, entre a pesquisa e a assistência técnica, e a própria iniciativa privada e os produtores rurais, de que haverá um ambiente, cada dia mais propício, para técnicas sustentáveis”, reforça.
 
A sinergia a que se refere o titular da Seapa parece ter sido captada pelo empreendedor gaúcho Alber Guedes. A empresa Solubio, que disponibiliza tecnologia para o agricultor produzir o próprio bioinsumo na propriedade, tem em Jataí, no Sudoeste goiano, uma de suas unidades. “Deus nos colocou no lugar oportuno, na hora certa, porque o primeiro Estado que tem uma regulamentação de bioinsumos e fomenta esse tipo de produção é Goiás”, comenta Guedes.
 
Mas a decisão não veio desacompanhada de estratégia. “Goiás, pela posição geográfica, nos permite estar no centro do Brasil e ser um hub de distribuição. Aqui  também tem uma produção pujante, com um potencial de crescimento muito considerável”, atesta o empresário. 
 

Unidade da Solubio em Jataí (Divulgação)
Soja
A utilização de recursos biológicos na agropecuária goiana tem tudo ainda para despontar devido a outros fatores. De acordo com o Mapa, entre as culturas que mais se destacam pelo uso de bioinsumos está a soja, em primeiro lugar. Goiás é o quarto maior produtor do grão no País, com 13,7 milhões de toneladas, apontam dados da safra 2020/2021 divulgados em setembro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). São mais de 7 mil estabelecimentos rurais, distribuídos por 207 municípios goianos, que ocupam uma área de 3,5 milhões de hectares, segundo informações publicadas pela Seapa na Radiografia do Agro. A liderança no ranking das cidades é puxada por Rio Verde, Jataí e Cristalina.

Culturas onde mais se utilizam bioinsumos no Brasil

1 - Soja

2 - Cana-de-açúcar

3 - Milho

4 - Algodão

5 - Hortifruti

Fonte: Conselho Estratégico do Programa Bioinsumos do Mapa
 
Como algo ainda incipiente - já que o programa nacional de bioinsumos foi lançado em 2020, e o goiano, este ano -, há carência de pesquisas e números sobre o assunto. Entretanto, Alber Guedes estima que os bioinsumos já representam 5% do mercado global de defensivos no Brasil, em termos de faturamento. 
 
Mercado que cresce 30% ao ano
Quando se trata de proteção de plantas, Alessandro Cruvinel diz que os bioinsumos movimentaram em 2020, no País, R$ 1,5 bilhão, o que representa uma taxa de crescimento de 30% ao ano. Os benefícios de tirar da equação da produção agropecuária os agrotóxicos são inúmeros, mas normalmente se sustentam no tripé da sustentabilidade ambiental, econômica e social.  
 
“Em muitas situações, é mais barato do que o controle químico, além de ser menos agressivo ao meio ambiente”, afirma o coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag) Leonardo Machado. Alber Guedes acrescenta que a redução no custo de produção para o sojicultor pode ser de 40% a 60%. “A vantagem social é que os bioinsumos são responsáveis, também, por gerar mais emprego no campo”, complementa. 
 
Observação que se faz presente na rotina de outro empreendedor do campo. O engenheiro agrônomo Adriano Cruvinel (foto),  de 34 anos, gerencia uma fazenda em Montividiu, município que está a 280 quilômetros da capital Goiânia e a 45 quilômetros de Rio Verde. 
 
Quando assumiu o negócio do sogro, em 2014,  Adriano fez um levantamento e detectou despesas elevadas na produção. Na safra 2016/2017, começou a usar biológicos na lavoura de soja. A redução dos custos, verificada na safra 2019/2020, foi de 58%. Já a produtividade aumentou R$ 8,6%: a proporção passou de de 60,5 para 66,2 sacas por hectare (média geral depois de cinco safras com bioinsumos). 
 
Para viabilizar esse novo mindset (configuração da mente), Adriano foi atrás de referências na Bahia e não tardou a construir, na sede da própria fazenda, uma biofábrica, ou seja, ele mesmo produz os recursos necessários, a partir do biológico, para o plantio sadio do grão. 
 
É nesta etapa que se percebe, com mais clareza, o ganho social que advém do tripé da adoção dos bioinsumos. “Com as biofábricas, precisamos de biólogos dentro dos laboratórios e/ou outros profissionais especializados nesta nova prática”, detalha. 
 
E engana-se quem pensa que a utilização de bioinsumos está restrita à agricultura familiar.  “Hoje, os principais bioinsumos utilizados são inoculantes para soja, amplamente usados pelos sojicultores; eles, em sua maioria, são médios e grandes produtores. Além disso, o controle de broca da cana-de-açúcar, feito por controle biológico, é outro exemplo do uso de bioinsumos, utilizados por médio e grandes produtores”, pondera o presidente da Faeg, José Mário Schreiner.
 
Ele ainda destaca uma das mais exitosas experiências goianas na área, o Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS), criado em Mineiros. “O GAAS desenvolveu um novo modelo de agricultura focado na qualidade biológica, mineral e física do solo; nas soluções locais e regionais; na redução e captura de gases de efeito estufa, e ainda, na valoração da produção em benefício do produtor”, ressalta. “O objetivo é reduzir a dependência dos ‘pacotes prontos’, caros e, muitas vezes, inadequados às condições tropicais de produção”, assinala o presidente da Faeg. 

Mapa de Sustentabilidade
O Programa Estadual de Bioinsumos trabalha com quatro diretrizes básicas: pesquisa, processos e tecnologias; comunicação e cultura; desenvolvimento das cadeias produtivas; e inteligência e sustentabilidade. 
 
O superintendente de Produção Rural Sustentável da Seapa, Donalvam Maia, explica que, no momento, são coletadas informações da iniciativa privada, Embrapa, Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), associações e do próprio Ministério da Agricultura, a fim de elaborar o Mapa Estadual da Sustentabilidade, que está previsto na legislação aprovada em maio. 
 
Este levantamento vai sistematizar dados sobre as tendências de mercado, produção e consumo de bioinsumos, com as regiões produtoras e consumidoras no Estado, e também as propriedades, as empresas e as indústrias que se destaquem em boas práticas para o desenvolvimento do agronegócio sustentável.
 
Como bem disse Adriano Cruvinel, durante sua entrevista ao jornal A Redação, estão todos - produtores, multinacionais, academia - caminhando para o mesmo destino. “É uma nova revolução na agricultura”.  
 

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