Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

MONTES CLAROS DE GOIÁS

Arqueólogo sobre 'Toca da Anta': "Seguramente várias gerações viveram ali"

Sítio arqueológico tem mais de 3,5 mil anos | 06.02.22 - 09:53 Arqueólogo sobre 'Toca da Anta': "Seguramente várias gerações viveram ali" Pinturas rupestres encontradas no sítio (Foto: Iphan)

Pedro Jacobson

Goiânia -
O sítio arqueológico nomeado de ‘Toca da Anta’, encontrado em Montes Claros de Goiás, possui uma área de 7.640 m². A partir da coleta de mais de 3.229 artefatos em pedra e cerâmica, foi possível identificar diversos hábitos dos humanos que lá viviam. Entre os exemplos, práticas de produção de artefatos em pedra e argila, bem como a rotina de caça e coleta. Todo o procedimento para obter esses dados levou quase três anos, e somente no começo de 2021 é que a datação do sítio foi obtida. 
 
Em entrevista exclusiva ao jornal A Redação, o arqueólogo Danilo Curado, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), contou mais sobre como se dá o processo de descoberta de novos sítios arqueológicos. “O licenciamento ambiental se divide em três etapas: identificação, delimitação e resgate”, explica.
 

(Foto: Iphan)
 
Identificação
O processo de identificação se dá a partir da localização de áreas com potencial arqueológico, ou seja, possivelmente habitáveis pelo homem no passado.

“O que nos separa dos humanos de antigamente é a tecnologia, mas o raciocínio é o mesmo. Ao buscar um local para morar, eles procuravam água, alimentação e abrigo. Cavernas são locais com esse potencial. Após essa identificação, o arqueólogo propõe uma malha prospectiva e, quando é autorizado, ele vai para campo iniciar essa pesquisa”, conta Danilo. 
 
Delimitação
O arqueólogo explica como as antigas habitações humanas acabam soterradas e precisam ser resgatadas. “Gosto de fazer uma comparação: se você fica uma semana sem limpar a casa, percebe um grande acúmulo de sujeira e poeira. Agora imagine isso em uma escala de milênios, a ação do intemperismo, chuvas e queda de rochas vai soterrando esse sítio.”
 
“Existe um modelo arqueológico internacional, que não é completamente seguro, porque já encontramos sítios muito antigos na superfície, mas servem apenas para ter uma ideia. Esse modelo estima uma média de um centímetro de soterramento por ano. Esse sítio, por exemplo, tem 3.500 anos e a gênese estava a dois metros e meio de profundidade”, relata. 
 
Após a perfuração do solo em áreas de potencial arqueológico, a constatação da existência de um sítio e as devidas autorizações burocráticas, o processo pode passar para a etapa de resgate, onde é feita a escavação em busca de artefatos, pinturas, vestígios de animais e outros registros. 
 
Resgate
Danilo descreve a identificação de várias noções a respeito do modo de vida da comunidade que viveu ali a partir dos objetos resgatados. “Seguramente várias gerações habitaram o local. A gente vê padrões de assentamento, ocupação e comportamento de moradia por todos os artefatos que foram identificados”, diz.
 
“Com a identificação de uma vértebra de um pequeno mamífero, associada com as panelas de barro, vemos um padrão de comportamento alimentar. Essa cadeia operatória de confecção de material em cerâmica se associa à sedentarização do homem”, diz. “Tudo isso está associado à arte rupestre, que é o lado estético e subjetivo da ocupação”, conclui. 
 

Fragmentos de artefatos em cerâmica (Foto: Iphan)
 
Toca da Anta
Se comparado aos sítios de 11 mil anos onde foi encontrado o esqueleto mais antigo de Goiás, na região de Serranópolis, o sítio Toca da Anta é relativamente recente, com seus 3,5 mil anos. Porém, é o mais antigo encontrado na região de Montes Claros de Goiás. “Nós temos outra datação (em Montes Claros) anterior que bateu em média 600 anos, então de 600 para 3.500 vemos uma diferença muito grande”, conta Danilo. 
 
É impossível saber quantos habitantes viveram na ocupação do sítio arqueológico Toca da Anta. Porém, foram identificadas ocupações com 110 centímetros de profundidade e outras com 140 centímetros. E as primeiras, encontradas a 250 centímetros, chamadas de gênese do sítio, identificam que o local foi ocupado por diversas gerações.  

O arqueólogo destaca o acesso ao material adequado para a confecção de pedra lascada e da argila para a confecção de panelas, bem como o lado estético. A reunião desses elementos configura que o local certamente servia para habitação e convivência. 
 

Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351