José Abrão
Goiânia – Uma das frases mais famosas do escritor romântico francês Victor Hugo, autor de Os Miseráveis, é “quem abre uma escola, fecha uma prisão”, uma máxima que, desde o século XIX, atesta pelo poder de transformação social que uma educação de qualidade, inclusiva e acessível tem para mudar a vida das pessoas e torná-las efetivamente cidadãs.
Foi com isso em mente que a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), por meio do Serviço Social da Indústria (Sesi), deu início ao Programa de Gestão de Escolas Públicas do Sesi. Alto Horizonte, município de 6.900 habitantes no Norte goiano, recebeu o projeto piloto ainda em janeiro de 2022 e, de lá para cá, muita coisa avançou.
O Colégio Municipal Professor Divino Bernardo Gomes atendia, no início do projeto, cerca de 700 alunos do Ensino Fundamental. Em um ano e meio de efetivação do programa, segundo balanço, o número de estudantes subiu para mil e a iniciativa passou a contemplar também duas turmas do 1º ano do Ensino Médio, com a perspectiva de abarcar todo o Ensino Médio nos próximos dois anos.
Pioneiro, o projeto envolve assumir a gestão da escola com especialistas do Sesi, sem alterar o corpo docente e os servidores técnico-administrativos, e incluindo na matriz curricular o ensino tecnológico com laboratório de robótica, incentivo ao espírito empreendedor e um encorajamento ativo para a participação em olimpíadas e outras competições estudantis.
“Nós estamos atuando com toda a rede de material didático do Sesi. Incluímos na nossa matriz as aulas de educação tecnológica junto com robótica e empreendedorismo, projeto de vida e educação financeira. Na matriz anterior constavam duas aulas de inglês por semana que passaram a ser três porque a proposta do Sesi é que as escolas sejam bilíngues ou trilíngues, com a linguagem de programação também”, explica a diretora da escola, Suelma Maria Soares Mendes, à reportagem do jornal A Redação.
Suelma Mendes, diretora da unidade de ensino (Foto: divulgação)
Segundo a diretora, o Sesi fez adaptações aos ambientes do prédio, que já é bem grande e bem conservado, além de ter apresentado projetos de ampliação para a sala de robótica, a sala maker, um auditório e uma biblioteca para a prefeitura do município, que se prepara para licitar as obras.
“Nós trabalhamos com todo o sistema estruturado da rede. Sem falar que as formações e capacitações de professores, administrativos e de todos os colaboradores ficam sob responsabilidade do Sesi”, completa Suelma. A diretora relata que neste curto período de tempo o colégio já tem mostrado resultados apenas com esta mudança de abordagem e de mentalidade. Houve um aumento de alunos medalhistas em olimpíadas, como na Olimpíada Nacional de Ciências, na Olimpíada Brasileira de Astronomia, na Olimpíada Brasileira de Matemática e na Olimpíada Mandacaru de Matemática.
Os resultados do Fundamental 1 melhoraram no simulado da Rede Sesi e agora em outubro os alunos do 5º e 9º ano vão ser avaliados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), cuja melhora no desempenho é o grande foco da escola. Suelma avalia que a grande contribuição do Sesi na cidade, além do ensino, é na parte social. “O impacto junto à sociedade é muito grande. E os alunos querem mais, querem aprender mais. Já percebemos um aluno mais protagonista, mais proativo, e isso reverbera muito no município. A gente percebe muito no comportamento dos meninos. Uma forma mais tranquila de agir, um pensamento mais crítico, mais aguçado”, cita.
A diretora destaca que o papel do Sesi é poder dar vazão à potencialidade dos alunos, que não poderiam usufruir das mesmas oportunidades em outro contexto. “A gente sabe que tem as oportunidades, mas é como me disse um aluno: 'tia, não passava na nossa porta'. E quando passa a gente não deixa que passe despercebido, a gente agarra essa oportunidade para aproveitar o que tem de melhor para esses alunos para que possam fazer uma transformação social”, acrescenta.
Professor efetivo do município e secretário municipal de Educação de Alto Horizonte, Marcelo Gonçalves relata que “a melhora na qualidade do ensino veio de diversas formas diferentes" ao citar a parceria com o Sesi. "Vimos a maior interação dos alunos na unidade escolar e melhor desempenho dos nossos estudantes nas olimpíadas e outras competições”, comemora.
Secretário municipal de Educação de Alto Horizonte, Marcelo Gonçalves (Foto: divulgação)
Outro destaque, segundo o professor, é o envolvimento da família na vida acadêmica das crianças e adolescentes. “Uma participação maior dos pais, que têm interagido com a unidade escolar, indo aos eventos, apoiando as ações da escola”, diz. “O aumento da participação da família no processo escolar foi muito importante, assim como a capacitação dos nossos profissionais de educação, feita pelo Sesi. Então é uma série de benefícios que veio para a cidade”, aponta.
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Diferença para os pais
A servidora pública Grasiele Marçal é mãe do Heitor, de 12 anos, aluno do 7º ano do colégio em Alto Horizonte. Segundo a servidora, a escola sempre foi boa, mas acabou sendo muito impactada pela pandemia de covid-19. Com a chegada do Sesi, não só foi possível recuperar o tempo perdido, como permitiu ir além, conforme destaca. “A chegada do Sesi melhorou 100% com a inserção da tecnologia. Novas oportunidades chegaram. Na educação pública não eram ofertadas essas áreas de tecnologia e robótica, nem essa facilidade em participar de olimpíadas", menciona.
Grasiele também conta que o filho dela, mesmo tendo muita aptidão pelas Ciências Humanas, acabou envolvido com as Exatas a partir da nova abordagem. “A robótica o fascinou. É uma facilidade maior para inserir a Matemática, o cálculo, para as crianças. O Sesi tem essa dinâmica que consegue colocar o aluno para vivenciar o conteúdo, para ter experiências fora da sala de aula também e isso agrega muito. Ajuda a ter mais vontade de ir atrás daquele conteúdo porque ele se torna mais atrativo”, avalia.
Para Grasiele, a proximidade da escola com os pais dos alunos tem papel fundamental na formação dos estudantes. “O relacionamento é muito próximo. Eles têm a parte humanizada muito bem-feita. Sabemos em tempo real tudo o que está acontecendo. Caso você não perceba que seu filho está com alguma dificuldade eles percebem, entram em contato e buscam uma solução junto com a família”, exemplifica.
Projeto em ampliação
O projeto deu, de fato, tão certo que está em expansão. É o que afirma o presidente da Fieg, Sandro Mabel. “O sucesso desse projeto de educação do Sesi em Alto Horizonte não ocorre por acaso e passa exemplarmente pela ação da indústria em parceria com a prefeitura, que apostou na educação de boa qualidade, de uma escola da indústria, assim como já havia apostado em passado recente no advento da mineração na cidade. São dois bons exemplos do potencial transformador desse segmento produtivo, que está presente em tudo em nossas vidas”, celebra.
Presidente da Fieg, Sandro Mabel (Foto: divulgação)
Em maio, foi assinado o termo de compromisso para o Sesi assumir a gestão de escolas públicas em mais quatro municípios goianos: Abadia de Goiás, na região metropolitana de Goiânia; Flores de Goiás, no Nordeste goiano; Pontalina, no Sul do Estado; e Sanclerlândia, na região Oeste.
Além disso, representantes de 15 unidades da Federação foram em agosto conhecer em primeira mão a implementação do projeto em Alto Horizonte. Visitaram o pequeno município delegações de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Pará, Amazonas, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Rondônia, Mato Grosso, Paraíba, Bahia, além do Distrito Federal. "Nossa iniciativa é exemplo", arremata Mabel.